Origem. A música de dança
floresceu com grande vigor durante o séc. XVI na Itália. A principal figura da
época foi Ambrosio Dalza, grande tocador de alaúde, que transcreveu as frottole
em várias de suas produções musicais. Com sua obra surgem as primeiras suítes,
constituídas por três danças em um mesmo tom: pavana, em compasso
binário; um saltarello,
a 6/8, dança animada por saltos como indica o nome, e uma Piva,
em geral a 12/8, mais rápida do que as duas outras.
As suítes. As suítes de Dalza, tanto as cinco
venezianas quanto as quatro de Ferrara, possuem o mesmo material temático e
revelam uma maneira de expressão vigorosa. A harmonia e o ritmo são de técnica
bastante avançada, o que parece indicar que esta forma de arte era praticada
havia bom tempo.
Da suíte
concebida por Dalza surgem novas modalidades que se vão desenvolver no século
seguinte: a suíte
variada, descendente direta das concepções de Dalza e que será mais
tarde aperfeiçoada por Hermann Schein (1586-1630) e Paul Peurel (1570?-1625?);
a suíte
clássica, cujo maior representante é Johann Sebastian Bach,
formada de uma seqüência de danças
diversas sem semelhanças temáticas, interligadas somente pela tonalidade.
Outros compositores que se dedicaram à musica de dança foram P.P Borrono (séc.
XVI) e Marc’Antonio Pífaro, da mesma época.
Na França, a
base-danse-recoupe-tourdion
data do séc. XIV. Domenico da Piacenza (séc. XIV) a ela
se refere como sendo uma série de sete danças de ritmos diferentes e que formam
um ballo.
A primeira e a sétima dança são a basse-danse, a qual era seguida por uma tourdion,
descrito como sendo uma variante da gaillarde (dança de compasso ternário), muito em voga na
Europa do séc. XVI.
Na Itália, a
pavana
, saltarello
e piva
foram ganhando, assim como as formas francesas, um modo estilizado, do qual a
suíte se utilizou como forma de composição instrumental durante a época
barroca.
Em meados do
séc. XVII, as quatro danças mais difundidas pela Europa eram a allemande,
a courante,
a sarabande
e a gigue.
Essas formas de dança cristalizaram-se na suíte e se difundiram pela Europa sem
perder o ritmo e suas bases originais.
Allemande. Esse tipo
de dança se caracteriza por possuir uma melodia simples de compasso binário e
movimento moderado. Na sua forma estilizada, a allemande tornou-se a
primeira parte da suíte instrumental francesa do séc. XVII. Ela se encontra não
somente nas suítes para cravo, mas também nas para orquestra, violino e alaúde.
Na Itália e na Alemanha, no fim do mesmo século, a allemande era precedida na
suíte por um prelúdio grave. Quando a suíte começa gradativamente a se
transformar em sonata (séc. XVIII), a allemande perde o seu nome e aquilo que resta de sua dança
dá lugar ao allegro
inicial.
Courante. Tem suas
origens no séc. XVI e caracteriza-se como uma manifestação popular de dança.
Seu compasso é também binário e no reinado de Luís XIV tornou-se bastante
popular. Na Itália e na Alemanha do séc. XVII, a courante se apresenta como
uma composição instrumental; quando a formação da suíte, constitui uma de suas
partes. Na suíte clássica (1650) ela ocupa um lugar secundário.
Sarabande. Dança
popular espanhola (zarabanda), de compasso ternário e de movimento lento. Sua
divisão era composta de duas partes de oito compassos cada uma, começando com
um tempo forte e se prolongando o segundo tempo do compasso com um ponto. Tendo
sido considerada imoral, suas manifestações foram proibidas pelas autoridades.
A mais antiga referência histórica à sarabanda remonta a 1583, quando foi
condenada pelas autoridades de Madrid. Mais tarde, em 1660, a sarabande
começa a ser utilizada nas suítes alemãs de Bach e Handel e nos Concerts royaux
(Concertos reais)
de Couperin. Seu caráter lento e grave se afirma principalmente a partir de
Muffat (1645-1704). A sarabande modifica seu aspecto primitivo e se transforma em
dança de ambientes aristocráticos.
Gigue. Antiga
dança popular de movimento vivo e ligeiro, originária da Irlanda, escrita em
compasso composto (3/8 ou 3/16 e seus múltiplos). Difundida na Irlanda do séc.
XVI, se divulga pela Alemanha e França. No fim do séc. XVII torna-se dança
requintada, de estrutura binária, que geralmente termina a suíte ou o concerto
de câmara. Mais vibrante que a loure (dança acompanhada pela gaita de foles), a gigue
é feita de motivos em quiálteras, e seu compasso adota um número variável de
tempos ternários. Usada por Corelli e Handel, por Couperin e Rameau, a gigue
perde seu caráter popular para se tornar com J.S.Bach uma forma bastante
original, na qual se manifesta a presença do ritmo ternário rápido e um supremo
virtuosismo de contraponto. Bach se utiliza da gigue não só nas
composições instrumentais (final do 3º, 5º e 6º Concerto de Brandenburgo), mas também em
composições religiosas (árias das cantatas nº 8, 130 e coros das cantatas nº
96, 125, por exemplo).
Bourrée. Das formas
francesas, as danças da população dos campos também foram aproveitadas e
introduzidas na constituição das suítes e sonatas. A bourrée,
originária de Auvergne, é dança popular, dança de corte e movimento de suítes
instrumentais. Como dança popular, a bourrée possui tanto ritmo binário (em Berry e Bourbonnais)
como ternário (na Auvergne e no Limousin). A partir de 1650, a bourrée
é integrada nas suítes como movimento secundário. Principalmente J. B. Lully a
introduz em balés e em óperas. A bourrée francesa a dois tempos, de característica ligeira e
de estrutura rígida, esteve muito em voga na primeira metade do séc. XVIII.
Bach e Handel usam-na em suas suítes. Durante o séc. XIX, ela é novamente
utilizada, dessa vez como elemento folclórico, por Camille Saint-Säens,
Chabrier e outros.
A gavotte
tem suas origens no Dauphiné e se caracteriza como uma dança popular de ritmo
binário. No séc. XVII ela se difunde pela Europa através do balé ou da suíte
(Lully e Purcell) e seu lugar nesta última vem depois da sarabande.
Seu apogeu coincide com o da suíte e está presente nas obras de Couperin,
Rameau, Handel e Bach. Alterna freqüentemente com uma segunda gavotte,
que pode ter características de uma musette. No séc. XVIII é também utilizada por Gossec,
Gluck, Méhul e outros, e no séc. XIX reaparece em Massenet.
O passe-pied
tem suas origens na Bretanha com a dança trihory. É mais rápida que o minueto, segue um ritmo
ternário e na suíte toma o lugar entre a sarabande e a gigue. J. S. Bach, Rameau, Couperin, Telemann e outros
utilizaram o passe-pied
em suas suítes.
O minueto,
antiga dança francesa, tem suas origens na região do Poitou e já em 1670 era
utilizado nas festas de corte. O minueto é escrito em três tempos e seu ritmo diminui
gradativamente, tornando-se mais lento. Ele se insere nas suítes de orquestra e
de cravo do séc. XVIII sob a forma de dois minuetos acoplados, um maior e o
outro menor. Encontra-se também nas sonatas de forma clássica, onde seu
movimento se acelera, até alcançar enfim a forma do scherzo em Beethoven. A forma
clássica do minueto é ternária: (1) exposição: (a) tema com repetição; (b)
breve desenvolvimento e tema com repetição; (2) trio do mesmo esquema que a
exposição; (3) reexposição da primeira parte, sem repetição, com repetição, com
coda
facultativa.