Convidamos
alguns produtores para contar sobre sua formação e o que fazem para se
atualizar na profissão.
A Gerente de
Operações Culturais do Sesi-SP, Debora Viana, é formada em Pedagogia e trabalha
na área desde 2007. Ela começou como secretária da Diretoria Cultural e, em
2002, tornou-se produtora. “Quando comecei na área não tinha a real noção de
como era o trabalho e confesso que aprendi na prática com os acertos e,
principalmente, com os erros. Fiz um curso de produção cultural mas o que
aprendi foi basicamente a estruturar projetos para inscrição em Leis de
Incentivo”, conta.
Para se
atualizar, ela procura ler muito sobre o assunto e participar de seminários,
encontros e cursos. Atualmente, faz o MBA de Bens Culturais na Fundação Getúlio
Vargas. “Acho que os cursos são importantes sim mas, em algumas situações, são
muito teóricos, com muitas informações e orientações que na prática não são
aplicáveis. Há muito conceito, muitas informações técnicas e pouca orientação
quanto a gestão. Acho que a questão da gestão – com uso de ferramentas de
gestão – deveria estar presente”, avalia.
Débora
entende que ainda há uma visão reducionista sobre a cultura e a sua importância
para o desenvolvimento e crescimento das pessoas.
Roberta
Cibin, que faz o mesmo MBA na FGV, tem dúvidas se curso de formação é a melhor
forma de capacitar um produtor no Brasil. Ela concorda que eles acabam ficando
ainda muito no mundo das ideias, da teoria. “Sinto falta de cursos que usem
ferramentas de gestão, de gestão de projetos que são utilizados em todas as
outras áreas e não são aproveitados pela Cultura”, afirma.
Bacharel em
Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda, ela trabalha no
setor cultural há quatro anos. Durante a graduação, trabalhou no Festival de
Teatro de Curitiba e na produção de alguns curtas e de um longa na mesma
cidade. Depois de formada morou nos Estados Unidos e no Canadá, onde foi
voluntária em centros culturais. No Canadá também fez uma pós-graduação em
Gestão Cultural.
Hoje Roberta
é produtora freelancer, mas pretende uma posição fixa em uma instituição ou
produtora. “Nos EUA e Canadá me deparei com um outro tipo de gestão e produção,
mais profissional e menos mambembe do que já tinha tido a oportunidade de
trabalhar no Brasil. De volta a Curitiba o caminho se mostrou um pouco mais
difícil para conseguir atuar na área. Foi quando decidi vir a São Paulo. Fiquei
um pouco mais de um ano em uma produtora especializada em exposições e livros
de arte e agora estou procurando uma nova posição”, conta.
Ela diz que,
entre todos os cursos que já fez, a pós no Canadá foi “infinitas vezes” melhor
no sentido prático.
Atuando na
área musical e com uma boa carteira de clientes, Belma Ikeda acredita que, em
produção, a teoria pode ser muito distante da prática. Por isso os cursos
deveriam abordar mais esse lado do trabalho. “Tenho muita curiosidade sobre
esses cursos e eventos, mas nunca tive oportunidade de fazer. Mas conversando
com profissionais que já participaram, vejo que eles se baseiam muito no ideal
e falta a prática. Felizmente tenho vários clientes, e várias funções, assim
consigo me atualizar trabalhando em cada projeto em uma função diferente e em
trabalhos diferentes.”
Belma
começou como assistente, sem nunca ter tido nenhum contato com produção. “Na
real foi um misto de assistente de produção com secretária. Eu tinha três
chefes produtores e fazia assistência para eles. Muitos produtores que como eu
começaram naquela época, começaram assim. Foi tudo na raça mesmo”, conta.
Troca -
Formada em Publicidade, Propaganda e Criação, Karoline Brito hoje tem uma
empresa de comunicação e produção cultural. Ela conta que, para se atualizar,
participa de cursos livres, palestras e seminários. “Já fiz uma pós e um MBA na
área. Leio bastante e converso muito com pessoas da área. Acho que os cursos
são essenciais para se ter acesso a novas informações e linhas de pensamento,
mas é necessário estudar por conta, ir atrás de mais material e ser muito
curioso. Tudo isso, junto com as experiências do dia a dia e as redes de
relacionamento vão fazer com que o profissional se desenvolva. Acho que o
conjunto que faz a diferença.”
O ator e
produtor teatral carioca Rodrigo França concorda sobre a importância da troca
de experiências. Para ele, a troca com colegas é um dos principais responsáveis
pela atualização profissional, além de cursos que possibilitam rever formas de
produzir. “Acredito que os cursos possibilitam uma imensa forma de capacitar,
desvendar o mercado que é bastante restrito.”
Mas ele, que
começou produzindo eventos para gravadoras, sente falta de cursos com valores
populares ou gratuitos, para que pequenas produtoras possam ter acesso. “A
minha formação na área foi pela experiência prática… o intenso cotidiano”, diz.
Também da
área teatral, Flavio Barollo começou a produzir pela necessidade de se
expressar como ator, “sem depender de convites do mercado”. Levou um ano ou
mais para estudar todas as leis, aprender a dinâmica de produção, elaboração de
projetos, escolha de material artístico, amadurecer.
“Um ano de
investimento e estudos solitários”, diz ele, que é formado como engenheiro e
tem MBA em gestão de negócios. Paralelamente, foi desenvolvendo seu projeto
artístico e criou a Cia. Mamba de Artes.
Para ele,
estudo e prática tem que andar juntos. “A gestão de projetos culturais hoje
exige muitas habilidades, que talvez seja uma lacuna no Brasil. Como vim da
área de engenharia, e conheci o mercado imobiliário, desde criação de projetos,
construção, vendas, publicidade, talvez eu tenha suprido alguma deficiência em
lidar com elaboração de projetos, planilhas financeiras, administração de
recursos, marketing. Mas acontece que no ‘mercado tradicional’ existem
recursos, muitos departamentos e muitos profissionais contratados. Para a
cultura não sobram os mesmos montantes suficientes para montar grandes equipes,
que possam lidar melhor com todos os aspectos da gestão.”
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