Um dos mais
prestigiados artistas brasileiros do século 20, Cândido Portinari produziu em
torno de cinco mil obras durante uma trajetória relativamente curta – morreu
aos 58 anos em 1962. A grande maioria delas, segundo João Cândido Portinari,
filho do pintor, encontra-se hoje em acervos privados e não está exposta ao
público. “Mais de 95% do acervo continua invisível ao público brasileiro. As
obras só são visíveis através do trabalho que o Projeto Portinari fez pelo site
e pelas exposições que a gente faz com reproduções. Quando vem alguém perguntar
onde pode ver Portinari, a gente fica até envergonhado de dizer”, conta.
Daí a enorme
importância da doação feita no início deste ano pela Financiadora de Estudos e
Projetos (Finep) ao Museu Nacional de Belas Artes (MNBA), localizado no Rio de
Janeiro. A empresa – que é pública e vinculada ao Ministério de Ciência,
Tecnologia e Informação – doou 222 obras (17 delas estão emprestadas ao Palácio
do Planalto) de sua coleção de Portinari para a instituição, fazendo dela
detentora do maior acervo público do artista. Por coincidência ou não, o Museu
de Belas Artes é sediado na Escola Nacional de Belas Artes, onde Portinari se
formou na juventude.
Entre as 205
obras que chegam ao MNBA estão pinturas, esboços e estudos – como alguns feitos
para os painéis “Guerra e Paz” – produzidos no período de 1920 até a década de
1950. São pinturas a óleo em tela, desenhos em grafite, nanquim bico-de-pena ,
caneta tinteiro, gravura a água-forte e água-tinta em papel, dentre outros.
Elas passarão por um processo de análise, catalogação e restauração – já em
andamento – e devem ser expostas ao público a partir de maio deste ano, segundo
a diretora do museu, Mônica Xexeo. “Vamos fazer um recorte da doação e
apresentar em um dos espaços do museu. Vamos devolver à sociedade essas obras,
que nunca foram expostas”, diz Mônica.
Para a
ministra da cultura, Marta Suplicy, a doação reforça a importância do Museu
Nacional de Belas Artes. “São obras excepcionais. Isso torna o museu
especialíssimo, por Portinari ser um dos grandes pintores brasileiros, talvez o
mais importante dos modernistas. Termos esse acervo é relevante porque ele
falava da identidade brasileira. Qualquer brasileiro que olhe Portinari se
percebe brasileiro de forma muito forte”.
As obras
estavam com a Finep desde 1998, guardadas em um cofre depois de terem sido
usadas como garantia para o pagamento de um financiamento tomado pela família
do pintor para divulgar seu legado. O MNBA já havia recebido cinco obras de
Portinari em 2013, entre elas “A primeira missa” (1948), adquirida pelo
Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) por R$ 5 milhões e doada ao museu em
janeiro, e as telas da Capela Mayrink, na Floresta da Tijuca.
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