Grupo, que conquistou posto de maior
orquestra do País, busca modo de ampliar suas atividades
Duas
determinações do então governador Lucas Nogueira Garcez foram publicadas na
mesma página no Diário Oficial no dia 13 de setembro de 1954: o 1.º Grupo
Escolar de Fernandópolis passaria a se chamar Joaquim Antonio Pereira; e estava
autorizada a criação da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo. Sessenta
anos depois, o grupo escolar tornou-se escola estadual e continua a homenagear
o fundador da cidade a 500 quilômetros da capital, elegendo o meio ambiente
como bandeira de conscientização de seus alunos. E a orquestra? Bom, com o
tempo ganhou a alcunha de Osesp – e tornou-se o principal conjunto sinfônico
brasileiro.
Tornar-se
referência na vida musical paulista e, quiçá, brasileira já era objetivo
registrado, ainda que de modo discreto, na lei que criava o grupo. Mas, ao
longo desses 60 anos, foram tamanhas as crises que acreditar no futuro da
orquestra não era mais do que o desejo esperançoso de um porvir melhor. O que
pensaria sobre o futuro um leitor do Jornal da Tarde que se deparasse, em 1974,
com a manchete "A Sinfônica está morrendo"? Ou alguém que, em meados
dos anos 90, veria um enfraquecido maestro Eleazar de Carvalho lutando para
manter viva uma orquestra que nem mesmo uma sede própria tinha?
Talvez não
pudessem imaginar que, sentado em seu escritório na Sala São Paulo, o diretor
artístico Arthur Nestrovski pode definir a Osesp como "a maior orquestra
profissional da América Latina e uma das mais relevantes do cenário
internacional"; ou então que o grupo, nas palavras do diretor executivo Marcelo
Lopes, acabou se transformando em modelo de gestão profissional, "capaz de
simbolizar, a cada concerto, o grau de sofisticação e arrojo da vida cultural e
econômica de uma grande cidade como São Paulo".
É assim que
a Osesp – que abre hoje sua nova temporada, com regência da maestrina Marin
Alsop – se vê às vésperas de seu aniversário. E, a tiracolo, carrega um punhado
de números superlativos: um orçamento anual de quase R$ 100 milhões; 120 mil
crianças inscritas em projetos educacionais; 34 semanas de concertos com
solistas e maestros de renome internacional; cinco discos a serem lançados (e
um, com regência de Frank Shipway, na lista dos três melhores do ano passado da
revista da BBC; projetos de ampliação de programas didáticos e maior
itinerância pelo interior do Estado – fundamentais no plano, definido em coro
por Nestrovski e Lopes, de buscar a legitimidade do grupo "dentro de
casa".
Essa, porém,
é apenas parte do história. O presente do grupo também está marcado, afinal,
por enormes desafios. Se o público, segundo dados da Fundação Osesp, tem
aumentado (de 416 mil em 2012 para 476 mil em 2013), também é verdade que caiu
10%, ao longo dos últimos cinco anos, o número de assinantes das temporadas.
Esse e outros dados parecem apontar para uma realidade concreta – a Osesp, com
a estrutura que tem hoje, está operando em sua capacidade máxima de trabalho.
Para 2014, já foi obrigada a cancelar ao menos uma gravação. "Estamos
perto do que os economistas chamam de pleno uso de recursos, operando sem
capacidade ociosa", diz Lopes. Para alguns músicos, no entanto, esse
limite parece já ter sido ultrapassado: quatro pediram demissão desde o fim de
2013 e mais seis já estão inscritos em provas de outros grupos do País.
Outra
decisão também paira sobre a administração da orquestra e o conselho da
fundação. O contrato da diretora musical Marin Alsop se encerra no fim de 2016.
E isso significa, em um mercado internacional que pensa com dois ou três anos
de antecedência, que está chegando a hora de decidir por sua permanência – ou
fazer gravitar em torno da orquestra, nas próximas temporadas, maestros
convidados que possam se tornar candidatos ao posto ocupado hoje pela
maestrina.
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