Uma das mais perfeitas misturas de artista e visionário,
William Blake foi um poeta, pintor, ilustrador e místico do século XVIII e é,
acertadamente, considerado um dos maiores artistas de todos os tempos. Foi profundamente
religioso, porém sua religiosidade fugia muito ao convencional puritanismo e
moralismo de sua época.
Como místico visionário, sua concepção de religiosidade vai
muito além da simples e insossa aderência a regras morais e de conduta de um
clero preso ao formalismo ritual e, portanto, afastado de qualquer real
experiência espiritual. De forma que sua obra muitas vezes assume um caráter
transgressor, incompreensível a quem ainda acredita que a vida religiosa e
espiritual equivale a seguir regras pré-estabelecidas, destinadas a conformar o
homem à moral e aos padrões de conduta vigentes aceitos e politicamente
corretos.
A experiência espiritual de fato, não tendo limites
temporais, não reconhecesse as regras e os limites artificiais, criados por e para
uma determinada sociedade de um determinado tempo. Fato que faz com que todo
verdadeiro místico seja sempre, de alguma forma, um transgressor dos padrões da
época em que vive. Sua busca e sua vivência espirituais e religiosas devem ir
sempre além de seu próprio tempo e de sua própria cultura.
Com William Blake não foi diferente. E sua obra artística,
tanto literária quanto plástica, expressa muito bem como sua vivência superava
os limites da sociedade em que foi criado. E vai também muito além mesmo da
nossa sociedade atual. Não é à toa que sua obra muitas vezes choca a quem se
esforça tanto a manter e defender os padrões irrefletidos e irracionais, embora
aparentemente lógicos, do nosso mundo. Ler William Blake, e – em especial-, ler
os Provérbios do Inferno, talvez seu poema mais famoso, significa se defrontar
com um sistema de pensamento que desafia, transgride e supera o nosso próprio.
Leia-os com a mente e o coração abertos, reflita sobre eles, sinta sua força e
profundidade – e deleite-se…
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