O II Festival de Música Antiga da UFRJ ocorrerá na EM, 23 a 27 de abril, com o tema "a interpretação da música antiga no século XXI". Além de concertos diários, sempre às 19h, no Salão Leopoldo Miguez, contará com mesas-redondas e masterclasses de 15h30 às 18h, em dias alternados, na Sala da Congregação. A curadoria é da professora Patrícia Michelini, que leciona flauta doce e adiantou o assunto a O Leopoldo.
Professora, inicialmente, era chamada de música antiga a
produção até o século XVIII, dos períodos Medieval, Renascentista e Barroco.
Esse conceito mudou?
É importante fazer uma distinção entre música antiga e
movimento da música antiga. A música antiga, para usar uma definição que
considero apropriada, seria aquela que não teve uma continuidade de execução em
períodos posteriores. As obras do período Clássico e, sobretudo, as do século
XIX, foram executadas em público em suas épocas e, nos períodos posteriores,
frequentaram continuamente as salas de concerto. Já obras do Barroco e períodos
anteriores, com algumas exceções, foram realizadas unicamente nos períodos em
que surgiram. Para que voltassem aos palcos houve a necessidade de um resgate,
inicialmente de interesse musicológico, depois artístico; por isso se enquadram
na categoria de música antiga.
E o movimento de música antiga?
A iniciativa surgiu na década de 1960 em alguns países da
Europa. Seus adeptos propunham uma nova leitura do repertório histórico,
especialmente do Barroco, procurando recuperar os parâmetros de interpretação
originais, utilizando instrumentos históricos (ou cópias), o diapasão corrente,
estudando os tratados da época para entender como os compositores e intérpretes
concebiam sua música. Trata-se, portanto, de um conceito de interpretação, que,
grosso modo, se opõe àquele em que o músico aborda o repertório de épocas
passadas tomando como parâmetro características estilísticas e sonoras de seu
próprio tempo. O conceito desenvolvido pelo movimento é conhecido atualmente como
interpretação historicamente orientada, e pode ser aplicado a repertório de
épocas diversas. No festival, vamos abordar principalmente a música do período
Barroco e discutir a forma de interpretá-la nos dias de hoje.
Pode comentar a música antiga brasileira?
Essa é uma história à parte! Se compararmos como as
pesquisas sobre o repertório antigo europeu se desenvolveram nas últimas
décadas, vamos constatar que o resgate da música antiga brasileira ainda é
muito recente, e só ocorre de maneira mais científica e consistente a partir da
década de 1990. A primeira questão é justamente identificar esse repertório.
Numa próxima etapa, entra em discussão a maneira como esse repertório pode ser
interpretado. Seriam adequados os parâmetros europeus contemporâneos? A música
de um compositor como Lobo de Mesquita, ativo na segunda metade do século
XVIII, pode ser interpretada como a de Haydn, que viveu na mesma época? Há
muito ainda o que discutir e a mesa do dia 24 será uma boa ocasião para isso.
Como serão as aulas e debates?
Teremos também docentes de universidades públicas de
Goiânia, Curitiba e São Paulo. Além da mesa do dia 24, que tratará do
repertório e da interpretação da música antiga brasileira, no dia 26 reuniremos
professores que desenvolvem projetos na área em diferentes instituições. A
masterclass do dia 25, da professora Silvana Scarinci, tem como alvo estudantes
de violão que tocam nesse instrumento música originalmente composta para alaúde
e teorba, e que desejam entender melhor como a transcrição é realizada. A do
professor David Castelo, dia 27, é destinada a cantores e instrumentistas de
todos os níveis que buscam maior embasamento para a interpretação do repertório
barroco.
Como serão os concertos?
O público poderá acompanhar, sobretudo, o trabalho
desenvolvido por grupos ligados às universidades federais do Rio,
especializados ou não em música antiga. Na abertura, dia 23, a Orquestra
Sinfônica da UFRJ, sob direção do professor Daniel Guedes, dedicará um programa
a Bach, Vivaldi e Biber, com solos de violino do próprio Daniel e de Gabriela
Queirós. Teremos também o Conjunto de Música Antiga da UFF, a Orquestra Barroca
da UNIRIO, a Camerata Sul Tasto e encerramos com o Flustres Ensemble.
Qual a importância da UFRJ fazer um evento como esse?
As universidades, de maneira geral, proporcionam eventos
interessantes por equilibrarem atividades artísticas e acadêmicas. A Escola de
Música reconhece a importância da área de música antiga e tem iniciativas para
seu desenvolvimento. Oferece o bacharelado e pós-graduação em cravo, cursos
conduzidos de maneira brilhante pelo professor Marcelo Fagerlande. Assim, a
instituição vai cumprindo seu papel de ofertar o máximo de possibilidades aos
alunos, sempre zelando pela formação crítica e de qualidade.
Serviço:
São cinco
vagas (solistas ou grupos) para cada masterclass, sendo que as inscrições
estarão abertas a partir do dia 09 de abril, no Setor Artístico da EM – Rua do
Passeio, 98, Lapa - Rio de Janeiro – RJ, CEP: 20.021-290. Para os demais
eventos do Festival não há inscrições
Maria Celina Machado
Um comentário:
Excelente iniciativa!
Cumprimentos,
Luís Henriques
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