O
mundo é demasiado grande para o conhecermos bem. Talvez por isso nos
surpreendamos quando a completa estranheza surge aos nossos olhos, por exemplo
na comunicação social. Ou o “estranho” será já regra? Ainda assim, o que nos
pode assombrar, hoje, reflecte a profusão de ideias em que o mundo se tornou.
Melhor do que isso: tem museu.
A
cultura do “susto”
Crê-se
que exista o universo emocional do susto desde que existe o ser humano. Cada
indivíduo tem uma reacção específica face ao susto e existem vários tipos de
susto, decorrentes das várias maneiras de percepcionar os episódios do
quotidiano, uns mais comuns do que outros. Numa cultura ocidentalizada
europeia, pelo menos, provocar o susto, conscientemente ou não, implica causar,
em algum momento, sensações que sentimos como negativas. Ainda assim, tal não
impede que o susto seja usado para momentos de animação ou de gozo, entre
pessoas, ou até para a disseminação do conhecimento (científico ou não) na
sociedade global, como o caso de alguns museus, por todo o mundo.
De
uma lista de 15 museus mundiais considerados pela generalidade do público e por
alguns orgãos de comunicação social dos mais assustadores, destacam-se museus
como o Museu Vrolik, em Amesterdão, com uma colecção composta, entre outras, de
peças, como espécies que sofreram de patologias diversas, embriões anómalos ou
caveiras e ossos com uma formatação estranha. Entre outras coisas, é possível
observar corpos de fetos siameses, pequenas colecções de ossos e de dentes,
normalmente com problemas. Este museu é um espaço acinzentado, fora da moda
actual, usado para estudo principalmente dos estudantes de Medicina da cidade.
Consegue ser, para alguns “sites” turísticos, assustador e, por isso, não
apropriado para crianças.
O
Museu de Antropologia Criminal Cesare Lombroso, em Roma, é composto
maioritariamente pela colecção do reconhecido criminologista italiano que dá
nome ao museu. As suas maiores atracções são cabeças de criminosos e armas
usadas por estes, coleccionadas por Cesare. Este criminologista acreditava que
o interior dos cérebros dos criminosos seria diferente dos cérebros de outros
indivíduos.
Outro
museu, o Museu de Múmias de Guanajuato, uma pequena cidade no México, é
composto por 108 corpos mumificados, mulheres na sua maioria, mortos por um
surto de cólera que atingiu a cidade, em 1833. Os corpos foram desenterrados,
entre 1865 e 1958, e acabaram por ficar preservados pela própria composição do
terreno onde se encontravam.
Poderão
ainda ser dignos de realce as Catacumbas de Palermo (também conhecidas como um
"museu da morte"); o “London Dungeon”, em Londres, onde praticamente
tudo lá se encontra disposto para assustar os visitantes - com vários
instrumentos de tortura da Idade Média expostos e actores prontos para sair da
escuridão, a qualquer instante -; o Museu do Crime da Academia de Polícia
Civil, em São Paulo, com exposições de fotos e objectos que serviram de provas
de crimes descobertos; ou o “Moulagen Museum”, em Zurique, que tem peças de
cera retratando doenças como a lepra ou sífilis.
Assentar
poeira
A
CNN fez uma lista dos 15 museus que considerou os mais estranhos do mundo.
Entre outros, por exemplo, o Museu da Água da Torneira (China), o Museu da Arte
Má (E.U.A.), o Museu das Coleiras (Inglaterra), o Museu dos Cortadores de Relva
(Inglaterra), o Museu do Cabelo (Turquia), o Museu do Falo (onde se encontram
mais de 270 pénis, de diferentes espécies, na Islândia) ou o Museu da Beleza
Extrema (Malásia). Destes “museus”, provavelmente, muito poucos se-lo-ão, de
facto, pois não basta a posse de uma colecção material e uma temática
expositiva.
Estes
“museus” primam pela invulgaridade e encontram-se em expansão, no mundo de
hoje. Reflectem mudanças nos modos de educar públicos, talvez acompanhadas de
uma predisposição do público para tal. Quando estas mudanças passaram a ser a
regra, tornaram-se banais. Ao se banalizarem, facilmente se tornou notório o
impacto das mudanças que estes museus promoveram no espírito do público e que
este acabou por “ir aceitando”. Talvez por mera e contínua interiorização. O
que antes foi “mudança”, deixou de o ser. Tal como quando a poeira se levanta e
acaba por assentar, inevitavelmente.
luís
pereira
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