Este belíssimo teatro, herança do ciclo da borracha, vai abrigar, em novembro de 2011, o Festival de Ópera de Belém.
Theatro da Paz - fachadaO Theatro da Paz, originalmente chamado Theatro Nossa Senhora da Paz, teve se nome dado pelo Bispo da época, Dom Macedo Costa, em homenagem ao fim da guerra do Paraguai. O nome, porém, foi modificada a pedido do próprio Bispo, ao ver que o nome de “Nossa Senhora” seria indigno de figurar na fachada de um espaço, onde havia apresentações mundanas e sem representação eclesiástica alguma.
Localiza-se na cidade de Belém, no estado do Pará. Foi construído com recursos auferidos da exportação de látex, durante o Ciclo da Borracha. Atualmente, é o maior teatro da Região Norte e um dos mais luxuosos do Brasil. Com cerca de 130 anos de história, é considerado um dos teatros-monumentos do país.
Possui linhas neoclássicas e a pedra fundamental do edifício, em 3 de março de 1869, foi lançada pelo bispo que lhe deu o nome. Foi a primeira casa de espetáculos construída na Amazônia e tem características grandiosas: 1.100 lugares, acústica perfeita, lustres de cristal, piso em mosaico de madeiras nobres, afrescos nas paredes e teto, dezenas de obras de arte, gradis e outros elementos decorativos revestidos com folhas de ouro.
Theatro da Paz - hallO teatro sofreu alterações na sua fachada, após a grande reforma de 1904. Por exemplo, foi retirada uma coluna do pátio frontal superior do Teatro, pois eram em número de 7, o que feria os preceitos arquitetônicos do período neo-clássico, que pede numero par de colunas em frontarias.
Cobrado pela Sociedade Artística Internacional, que mantinha o Teatro, o Governador da época, Augusto Montenegro, mandou demolir a fachada, que era um pátio coberto, e reconstruí-la recuando a fachada e retirando uma coluna. No vácuo que ficou à mostra, antes preenchido por pequenas janelas, mandou colocar bustos simbolizando as artes: Dança, Poesia, Música e Tragédia e, ao centro, o brasão de armas do estado do Pará, para fortalecer a simbologia republicana que estava enfim instaurada. Entretanto, suas linhas arquitetônicas gerais foram mantidas.
Com projeto do engenheiro pernanbucano José Tibúrcio Pereira Magalhães, foi construido por Calandrine de Chermont com pequenas alterações introduzidas pela repartição de Obras Públicas. Ficou pronto em 1874, mas, devido a denúncias contra os construtores, um inquérito foi aberto e o teatro só foi inaugurado após a conclusão do mesmo.
Theatro da Paz - hallCom o drama de Adolphe d’Ennery, “As duas órfãs”, no dia 16 de fevereiro de 1878, o Teatro da Paz foi aberto ao público, ao som da orquestra sinfônica do maestro Francisco Libânio Collas. O espetáculo foi organizado pela companhia de Vicente Pontes de Oliveira. O contrato durou cinco anos e fez de Vicente Oliveira o encarregado pela iluminação, decoração, coreografia e acessórios de cena no teatro, além de organizador das apresentações que se seguiram.
Mas a apresentação de óperas, que fizeram a fama do teatro no Brasil e na Europa, só começaram dois anos depois, em 1880, com a encenação de “Ernani”, de Verdi, título muito apreciado à época. Só naquele ano, a temporada teve mais oito peças líricas, incluindo “O Guarani”, de Carlos Gomes, reapresentada em 1882, quando foi regida pelo próprio autor. As temporadas anuais de ópera aconteceram ininterruptamente até 1907, com a presença de cantores como Bidu Sayão, Carlo Bulterini, Leonilde Gabbi, Franco Cardinali, Giulio Ugolini, Maria Peri e Inocente De Anna, criador de “Lo Schiavo”, de Gomes.
O Teatro da Paz, no dizer de Leandro Tocantins, “é um monumento neoclássico por excelência“. Nas laterais, pátios cercados de colunas, escadas que dão acesso à Praça da República. As cadeiras são de palhinha, (não de almofada), seguindo o formato de ferradura. No saguão, há dois bustos talhados em mármore de carrara: José de Alencar e Gonçalves Dias, introdutores do indianismo no Brasil. No salão nobre, ao lado de espelhos de cristal, estão os bustos dos maestros Carlos Gomes e Henrique Gurjão.
Theatro da Paz - interiorAli, Carlos Gomes encenou sua mais famosa ópera, O Guarany, e a bailarina russa Ana Pavlova passou com suas sapatilhas. O decorador desse cenário privilegiado foi o italiano Domenico de Angelis que, posteriormente, decorou o Teatro Amazonas, de Manaus. Ele foi também o autor do belo painel representando os deuses gregos Apolo e Diana no cenário amazônico, que fica no teto da sala de espetáculos. Dele também era o teto de jover, perdido por causa de uma infiltração. Esse teto foi repintado em 1960 por outro artista italiano, Armando Baloni.
Durante o Ciclo da Borracha, as mais famosas companhias líricas se apresentaram ali. O teatro viveu momentos inesquecíveis, Com o declínio do Ciclo da Borracha, porém, o Teatro da Paz passou por maus momentos.
Em 2002, sofreu grande reforma onde as redes elétrica e hidráulica foram trocadas, assim como o sistema de ar condicionado. Os camarins foram duplicados e as salas de ensaio e administrativas ganharam visual moderno e adequado. O piso do palco, que era fixo, recebeu quarteladas – sistema de praticáveis móveis que permite a utilização de vários planos.
Os degraus de acesso de artistas ao palco, onde certa feita a atriz Fernanda Montenegro levou um tombo memorável, foram substituídos por rampas suaves e seguras. O fosso da orquestra ganhou novo tratamento acústico e mais espaço, graças à eliminação dos pilares que sustentavam o antigo piso. Os novos pianos – um Yamaha Grand Concert e um Steinway – ganharam sala climatizada e elevadores especiais de acesso ao palco. E o sistema de iluminação cênica passou a ser controlado por computador.
Enfim, o Theatro da Paz está pronto a abrigar eventos, como este Festival de Ópera que dará muitas alegrias aos amantes do gênero.
Antônio Rodrigues
Opera&Ballet
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