O Brasil
sempre surpreende pelos seus baixíssimos índices que medem a situação do ensino
em nosso país.
O professor
é desprestigiado por um salário aviltante e por uma ameaça constante de
violência por parte dos alunos, e as condições físicas das escolas são de
chorar. Lembro que estudei num colégio estadual em São Paulo, e saí da escola
com bons conhecimentos de inglês, francês, história, literatura e geografia que
hoje não se encontram nem em escolas particulares. Para piorar, a geração de
jovens já vem de pais que tiveram uma educação ruim, e não vejo tendências para
as coisas melhorarem. Não quero aqui tratar sobre a educação em geral. Fixo-me
apenas na educação musical, que como a educação em geral sofre pelo desprezo e
pelos maus tratos.
A triste
situação das Escolas de Música
Quanto ao
ensino específico de música a situação é mais do que caótica. Com exceção do
Estado de São Paulo onde encontramos centros de absoluta excelência, como o
Conservatório Dramático e Musical de Tatuí "Dr. Carlos de Campos", ou
mesmo a Escola Municipal de Música na capital (onde estudei), a situação em
geral é bem triste. Aliás, é interessante lembrar que o Estado de São Paulo é o
lugar do país onde existem mais orquestras e concertos, o que torna evidente os
resultados de uma formação com qualidade. O estado calamitoso dos
Conservatórios e Faculdades de música não é apenas uma questão do estado físico
das instalações. Outro problema sério é a grade curricular. Diversas Faculdades
de Música são completamente estéreis ao oferecer apenas cursos teóricos. O
resultado é a formação de surdos e incompetentes, que se aprimoram em teses
chatas, aborrecidas e inúteis. Poucos departamentos de música do país são como
o departamento de Música da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul),
que apesar de suas mal conservadas instalações oferecem cursos de altíssimo
nível tanto no aspecto prático (excelentes professores de instrumento) quanto
no aspecto teórico (idem).
Escolas de
música caindo aos pedaços
Vou me ater
apenas a dois estados brasileiros: o Paraná e o Rio de Janeiro, apesar de que a
situação é parecida na Bahia, em Brasília e na maioria dos estados. Do Paraná
destaco o imenso desprezo com que é tratada há muitos anos a nossa principal
escola oficial de música, a Escola de Música e Belas Artes do Paraná. Já fui
professor desta entidade, e me demiti por não suportar ver tantos maus tratos.
Na sala em que dava aula diversos ratos (sim, roedores) devem ter aprendido a
não fazerem quintas paralelas (papo de músico) e lembro-me de um curso
intensivo que dei de Contraponto há alguns anos, onde os pianos da sala, que
estavam completamente desafinados, recebiam nos dias de chuva insistentes gotas
d’água. Esta escola ocupava um prédio histórico no centro da cidade e foi
transferida, em caráter provisório que se mostra mais do que isso, para dois
edifícios num lugar perigoso da região central, em salas sem nenhum preparo
acústico, térmico, ou qualquer coisa do gênero. Enfim, é uma escola que não
anima nenhum aluno e nenhum professor.
No Rio de
Janeiro a situação é ainda pior, e os descalabros que acontecem por lá (Museu
do índio, Theatro Municipal) atingem em cheio o ensino musical. As duas
principais escolas de música da antiga capital federal estão literalmente quase
em ruínas. Basta vermos algumas fotos do departamento de música da UNIRIO
(Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro) e da UFRJ (Universidade
Federal do Rio de Janeiro). Lembro que esta última é uma das melhores escolas
de música do país, com intensa atividade prática. Instalada num belíssimo
prédio histórico, tenho a lamentar o estado de conservação do mesmo. Neste
edifício existe uma das melhores salas de concerto do Brasil, o Salão Leopoldo
Miguez, a única sala de concertos do país com um autêntico órgão de tubos, e
com uma acústica simplesmente maravilhosa. Pois esta sala de concertos não tem
ar condicionado (pelo menos não tinha até há dois anos, quando me apresentei
lá), o que transforma, no intenso calor carioca, qualquer apresentação num
martírio para os artistas e para o público. Em resumo, o estado de conservação
da sede da escola de música da URFJ está bem abaixo da excelente atuação
didática praticada por lá.
Ânimo!
Mesmo com
tantos problemas não podemos desanimar. Jovens continuam a se interessar no
estudo musical e o mínimo que deveríamos oferecer a eles é uma condição decente
de formação. Coisas simples e nem tão custosas podem ajudar, sobretudo um
curriculum que efetivamente ajude o jovem músico. A tecnologia nos oferece hoje
em dia pianos elétricos excelentes e muito menos custosos, que seriam perfeitos
para as aulas teóricas. Não podemos apenas lamentar a situação. Temos que
cobrar das autoridades (in) competentes, e temos que fazer o melhor possível
para tornar o caminho do estudante de música algo melhor e mais construtivo.
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