Será que no Brasil se produz muita arte literária e
cinematográfica com a temática da pobreza material por ser um tema corriqueiro,
cultural ou autobiográfico?
É verdade que a maioria dos personagens publicados por
grandes editoras que estão no sufocante eixo Rio-São Paulo são autobiográficos.
Essa foi a conclusão da pesquisadora Regina Dalcastagne, da UNB, ao analisar
mais de 250 romances brasileiros publicados de 1990 a 2004. Mas há um Brasil
múltiplo e distinto tão longe dos holofotes e das vitrinas das livrarias.
No cinema, a maioria das produções elogiadas pela crítica
retrata a favela e o sertão. Seria algum tipo de estigma, ou falta de produção?
Nada disso! Mais uma vez, há um grande Brasil esquecido em cada canto do país,
onde as verbas não chegam, onde as produções alcançam públicos ínfimos, mas de
uma vasta representatividade cultural.
Quando penso em pobreza, recordo-me de ter lido alguns
ótimos livros que retratam essa condição miserável nossa de cada dia.
Graciliano Ramos marcou minha infância quando li Vidas Secas. Aquela situação
precária dos retirantes sertanejos é avassaladora. Inclusive a morte da cadela
Baleia muito me comoveu na época... Capitães de Areia, de Jorge Amado foi outro
lido que li ainda garoto e me surpreendi com a vida e a pobreza daqueles
meninos.
Há personagens clássicos, talvez mais lembrados nesse
estereótipo material. Como os personagens de Os Miseráveis, de Victor Hugo
(inclusive foi feito outro musical em 2012 para o cinema). Muitos personagens
pobres viveram no Realismo influenciado por Flaubert e muitos transitaram no
Naturalismo, influenciado por Zola (falando nos franceses). O Cortiço, de
Aluísio de Azevedo é obra desse detalhismo humano precário. Dostoiévski lançou
seu personagem viciado Ivánovitch no azar da pobreza. As vinhas da Ira, de John
Steinbeck, mostraram homens pobres das regiões secas do sul dos EUA. José Lins
do Rego, Guimarães Rosa também descreveram algumas miseráveis condições
humanas. Ariano Suassuna temperou a pobreza dos nordestinos.
Pedro Malazarte é um personagem maior que seu autor, e
representa a astúcia e a pobreza brasileira. Por falar em temáticas regionais,
temos nosso Bernardo Élis e Hugo de Carvalho Ramos, dois dos nossos ícones
goianos, a problemática da miséria campestre.
Personagens não tão conhecidos, como os mendigos e
problemáticos do livro Cavala, do jornalista Sérgio Tavares também estão no rol
da pobreza brasileira. Só para ilustrar que essa é apenas uma de nossas
vertentes nacionais que não podem ser taxadas de principais, pela grande
quantidade de estilos.
Muitos escritores que sentiram a penúria como experiência
real em suas vidas (como Lima Barreto) e autores que, apesar de representá-la
literariamente, nunca passaram por privações de natureza econômica. Há obras em
que o olhar sobre a pobreza parece retratar a fidelidade ordinária das ruas. Em
exemplo muito conhecido é o de Paulo Lins em Cidade de Deus, João Antônio em
Bacanaço e outros exemplos não tão conhecidos podem ser os livros Quarto de
Despejo, de Carolina Maria e Ferréz de Capão Pecado.
Só em Goiás, há mais de 700 aficcionados pela literatura.
Cada um representa certa bagagem e maneira de ver o mundo. É realmente
necessário motivar que prossigam seus caminhos. Pois ninguém, no quesito
cultural compete um com o outro, mas somam várias representações culturais que
merecem apreço.
Quanto à pobreza na literatura e no cinema, creio que seja
apenas um dos vários temas abordados em nossa literatura e cinema. Qualquer
conclusão nesse tema é precipitado. Mas a pior pobreza que existe é a pobreza
de espírito. O resto, a gente vai sobrevivendo!
Leonardo
Teixeira
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