Sonatas
e outras Follias
No vocabulário pernambucano, a palavra Folia evoca um momento do ano esperado por muitos,
um lapso de tempo onde tudo é permitido e a alegria preenche os espíritos.
Neste programa o conjunto TEMPERAMENTOS, especializado na interpretação
historicamente informada da música antiga (repertório que abrange os séculos
XVII e XVIII) ; oferece ao público uma viagem de folia ao período barroco, durante à qual
serão executadas composições de grandes mestres como Bach e Corelli mas também
de compositores pouco conhecidos que atuaram na Itália no início do século XVII
como Andrea Falconieri e Francesco Turini ; Estas obras primas chegam aos
nossos ouvidos modernos de forma revitalizada pela sonoridade dos intrumentos
barrocos. Estes, cópias de peças de museus conservadas na Europa, nos ajudam a
reconstruir o universo sonoro de Bach, numa acústica ideal como a do Convento
de São Francisco em Olinda.
Na música antiga, a Follia é uma forma de escrita musical onde compositores utilizam uma sucessão de acordes que formam uma linha melódica de baixo (tocada pelo cravo e o violoncelo) que se repete, com pequenas variações que aos poucos « aquecem » ritmicamente. Esta deixa uma grande margem de liberdade aos intérpretes das linhas melódicas mais agudas (como a flauta e o violino), chegando a grandes demonstrações virtuosísticas. A Follia guarda um caráter de improvisação onde os músicos exploram todo um leque de afetos podendo passar pela euforia, fúria, melancolia ou alegria para expressar-se artísticamente. A origem desta dança é ibérica e foi mencionada pela primeira vez em 1511 no « Auto da Sibilla Cassandra » de Gil Vicente, onde ele inclui a letra de uma folia cantada. Um século depois, em 1611, Sebastian de Covarrubias no “Tesoro de la lengua castellana” define fazendo alusão ao êxtase provocado por este rítmo :
“é uma certa dança portuguesa, muito barulhenta; (...) e
é tão grande o ruído e o som tão apressado, que parecem estar uns e outros sem
juízo.E assim deram à dança o nome de folia, da palavra toscana ‘folle’, que
sgnifica oco, louco, insano(...)”.
Um dos maiores exemplos barrocos de virtuosismo é a Follia de Corelli,
escrita originalmente para violino, e transcrita para flauta doce ainda no
século XVIII. A flauta doce era considerada como instrumento solista por
excelência,assim como o violino e esta transcrição é mais uma prova do grande
prestígio que este instrumento gozava no período.
Ela será interpretada pela flautista pernambucana, Rosangela de Lima,
radicada na França há 13 anos. Mestre em música e musicologia pela Universidade
de Paris -Sorbone, recebeu os
« Premiers Prix » de flauta doce (com unânimidade e felicitações da
banca examinadora), flauta transversa barroca e
música de câmara. Ela leciona na França onde atua como intérprete em
vários grupos especialistas da música antiga.
As musicistas almejam « temperar » a música em
seu sentido artístico, o de expressar sentimentos através de uma linguagem, com
um toque de virtuosismo e « folia pernambucana ». Os contrastes da
época barroca, manifestam as igualdades e diferenças dos temperamentos de cada
componente do grupo e re-afirmam a teoria dos afetos pela amizade.
Os integrantes são especialistas em instrumentos históricos
como flauta doce, transversa barroca, violino e cravo, e se dedicam à pesquisa,
à pedagogia e à interpretação da Música Antiga nesta e em outras formações no
Brasil e no exterior.
Integrantes :
Rosangela de Lima – flautas doce e tranversa barroca
Viviane Pimentel – violino
Michele Pimentel - violoncelo
Andréia Rocha de Andrade - cravo
Conjunto TEMPERAMENTOS
Sexta-feira 16 de agosto de 2013 20 :00 horas
Convento de São Francisco – Olinda
Entrada gratuita
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