The Conversion on the Way to Damascus
Seis obras do pintor e 14 de seguidores são exibidas em
Minas Gerais antes de vir para o Masp
BELO HORIZONTE - Após dois anos de negociações e três
cancelamentos sucessivos, a mostra Caravaggio e Seus Seguidores finalmente é
inaugurada no Brasil. A partir do dia 22 próximo passado e até 15 de julho, a
exposição, que traz seis obras do pintor italiano Michelangelo Merisi da
Caravaggio (1571-1610), entre elas, uma das duas versões de sua famosa Medusa,
e o quadro São Jerônimo Que Escreve, pertencente, desde o século 17 à Galleria
Borghese de Roma, é apresentada na Casa Fiat de Cultura de Belo Horizonte.
Depois de Minas, as pinturas de Caravaggio e de 14 pintores caravaggescos, que
se inspiraram no mestre precursor do barroco, serão exibidas em São Paulo, no
Masp, de 26 de julho a 30 de setembro.Um pintor que teve a genialidade reconhecida em vida, homem de temperamento "maldito", com sua história sempre contada de maneira romanceada. Apesar de mitos, um fato foi determinante em sua trajetória, o homicídio cometido por ele em 1606 em Roma, forçando-o a iniciar um processo de fuga de sua prisão e condenação à morte - Caravaggio deslocou-se para Nápoles, Malta e Sicília até morrer em circunstâncias ainda não claras em Porto Ercole. Mais do que ser o artista que desenvolveu como poucos a técnica do claro-escuro, conferindo uma beleza intensa de estilo e na escolha dos temas de suas telas, e de ser autor que promoveu experimentações pioneiras, Caravaggio "é um pintor que sabe o drama da existência e o vive e o coloca de maneira realista na sua obra, aproximando-a da realidade de sua vida", diz o curador italiano Giorgio Leone.
Logo na entrada da mostra, duas telas são a encarnação desse
duo vida e obra. A principal pintura da mostra, São Jerônimo Que Escreve
(1605-1606) - que representa o legado da relação do cardeal Camillo Borghese
(que se tornou o papa Paulo V) - e São Francisco em Meditação (1606),
pertencente à Galleria Nazionale d'Arte Antica di Palazzo Barberini de Roma,
têm em comum a figura da caveira, símbolo da morte. Na obra de São Jerônimo, o
crânio é uma espécie de espelhamento do rosto do santo, que está
"inacabado", como diz Giorgio Leone. "Creio que ele não
conseguiu terminar a face porque teve de fugir de Roma", conta o curador.
Já o São Francisco, "feito já em fuga", segura a caveira na mão, como
se tivesse a consciência de seu fim.
Tanto São Jerônimo como São Francisco são obras que têm a
autoria incontestada e histórica atribuída a Caravaggio, desde o século 17, mas
as outras pinturas presentes na exposição representam caráter diferente.
"A mostra trata dessa questão de autoria", afirma Leone. Para um
quadro ser considerado um Caravaggio, deve constar em documentos históricos,
corresponder ao estilo do artista e ter sido executado a partir de técnica
típica do artista. "Duas obras da mostra, a Medusa Murtola, pertencente a
colecionador privado, e Retrato do Cardeal Benedetto Giustiniani, são
reconhecimentos recentes, respectivamente, de 2011 e 2010", conta o
curador. "E temos duas outras pinturas cuja autoria de Caravaggio é
controversa, um exemplar de São Francisco em Meditação pintado em Malta que,
para mim, trata-se de uma cópia, e o quadro São Januário (do Museu Diocesano de
Palestrina), que alguns estudiosos dizem não ser do pintor."
O curador fala abertamente desse tema e ressalta que um dos
grandes destaques da exposição, nesse sentido, é a vinda da Medusa Murtola,
autorretrato do artista executado em 1597, um óleo sobre tela de linho aplicado
sobre um escudo de madeira tal qual a famosa versão Cabeça de Medusa, do acervo
da Galleria degli Uffizi de Florença. "Hoje está claro que Caravaggio
pintou duas Medusas. O modo como fez a boca e uma marca e, a partir de estudos,
vimos em radiografias que sob a pintura ele fez serpentes diversas, colocou
olhos em outros lugares. Feita essa, que é assinada, ele criou a que está em
Florença", explica o curador.
Entretanto, quase que a obra não vem ao Brasil. Como disse
ao Estado o presidente da Casa Fiat de Cultura, José Eduardo de Lima Pereira, a
Medusa Murtola, de coleção privada e exibida ao público apenas no ano passado,
em Milão, foi confirmada apenas na última sexta-feira e chegaria de Luxemburgo
no dia seguinte. "Foi realmente muito árduo (o processo de realização da
mostra), com problemas burocráticos, de troca de equipe governamental na
Itália, dificuldades do processo de tutela das obras."
A mostra, feita com R$ 5,5 milhões incentivados e com
recursos próprios da Fiat, depois de São Paulo deve seguir para o Museo
Nacional de Bellas Artes de Buenos Aires, mas essa itinerância ainda não está
confirmada.
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