Exposição de fotografias revela cotidiano de comunidade cigana e desperta a curiosidade sobre a cultura dos povos nômades. Aproveite a oportunidade para mergulhar de cabeça nessa rica cultura, com nossas sugestões de livros, músicas e filmes.
As fotografias que compõem a mostra Barraca Cigana, em
cartaz no Museu da Casa Brasileira (São Paulo),
trazem um olhar revelador sobre o cotidiano e a vida de uma comunidade
de ciganos calón* do interior do estado de São Paulo. Essa exposição está
inserida no projeto Casas do Brasil, iniciado no museu em 2006, e que busca
fazer um registro dos diferentes jeitos de morar espalhados pelo país.
Com um olhar extremamente sensível, a fotógrafa e
pesquisadora Luciana Sampaio traz para o público o mundo colorido dos ciganos.
Em 83 imagens e 4 vídeos, é possível visualizar como essa comunidade se
organiza fora dos padrões comuns.
O foco está justamente nessa organização, em que a casa,
mesmo sendo itinerante, tem um papel crucial. A barraca é o microcosmo do
cigano, e as regras nela estabelecidas provam todo um código particular desse
povo. Os ciganos calón valorizam muito o interior da barraca, e por isso ela
deve estar sempre limpa, e a ideia de manter uma lixeira dentro de casa, por exemplo,
é inadmissível para um cigano. Já o exterior é o local das impurezas, daí o
acúmulo de lixo nos arredores do acampamento, como se pode perceber nas imagens
de Luciana.
Outro aspecto curioso presente nas fotografias é a família.
O dia-a-dia do cigano é todo dedicado ao convívio familiar — daí também a
importância da barraca. As mulheres são responsáveis por manter o local em
ordem e cuidar das crianças, enquanto os homens cuidam dos negócios.
A união das famílias aparece nas imagens que relatam os
preparativos para um casamento, onde toda a comunidade participa ativamente. Em
meio ao colorido dos vestidos das mulheres e dos tecidos que ornam as barracas,
é possível perceber o quanto esse povo valoriza o matrimônio, tanto pelo seu
caráter social (é o nascimento de mais uma célula familiar na comunidade) como
pelo seu caráter religioso.
Trata-se de um mundo completamente diferente do que estamos
acostumados. Uma casa a céu aberto, uma vida ao ar livre. Deve-se olhar essas
imagens sem preconceito, já que nossa visão de mundo é muito asséptica, polida,
regrada. É preciso enxergar a riqueza dessas culturas sem o verniz social, sem
o filtro higienizador da nossa cultura ocidental que se assume tão superior às
outras.
Sem esse filtro, fica fácil entender a alegria presente nas
imagens que mostram um grupo de mulheres e crianças tomando banho de mar. Esse
despojamento, esse senso de liberdade e essa sensibilidade ao mundo é de fazer
inveja.
Além das fotografias e vídeos, o público pode ter contato
com essa cultura através de uma autêntica barraca cigana montada no jardim do
museu. Construída por um casal de ciganos calón, a barraca tem tudo que uma
casa precisa: cama, fogão, televisão e máquina de lavar. Metros de tecido paetê
prateado e renda cor-de-rosa decoram a barraca, deixando-a alegre e pouco
convencional.
A maioria de nós, gajões (como os ciganos chamam os
não-nômades), tem uma imagem negativa do povo cigano: de trapaceiros, espertos,
e pouco confiáveis. Talvez, esse tipo de julgamento venha do fato de serem um
povo que não finca raízes e que vive sob as próprias leis, por assim dizer.
Contudo, essa ideia de viver ao sabor do vento por vezes
chega a ser mais sedutora do que assustadora, cá entre nós. O cigano carrega
suas raízes pela estrada, junto de si: o amor pela família e pela vida
andarilha são sua essência. Nos lugares do mundo onde há povos nômades sua
cultura é rica e diversificada, composta por uma verdadeira colagem cultural.
Serviço
Casas do
Brasil – Barraca CiganaAté 3 de junho de 2012
Museu da Casa Brasileira
Av. Brigadeiro Faria Lima, 2705 – Jardim Paulista
De terça a domingo, 10h às 18h
Ingressos: R$ 4,00 (inteira) e R$ 2,00 (meia) | Entrada gratuito aos domingos e feriados
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