Saulo Javan
Guia Erudito: Qual foi o momento que você considera mais
marcante em sua carreira?
Saulo Javan: Dentre tantos, claro que é difícil escolher um,
mas eu diria que até hoje foi quando eu pisei no palco do Theatro São Pedro em
São Paulo para ser dirigido pelo sensacional Enzo Dara, quando fiz o papel de
Don Pasquale e com um elenco dos sonhos: Rosana Lamosa, Fernando Portari e
Douglas Hahn.
Ser dirigido por um cantor que fez mais de 400 vezes aquele
papel pelo mundo foi mágico!
G.E.: Como você está vendo a trajetória da música erudita no
Brasil?
S.J.: Eu sou uma pessoa otimista por natureza e vejo um
momento em que muita coisa legal está acontecendo! Temos muitas montagens este
ano. Claro que há espaço, público, cantores, maestros, orquestras, diretores e
cenotécnicos para no mínimo o dobro, mas se pensarmos em um passado próximo, as
coisas estão realmente melhorando.
G.E.: Você sente falta de apoio para os projetos de música
erudita em nosso país?
S.J.: Pois é, se eu vejo que a coisa está
"aquecendo", seria incoerente dizer que não existe apoio aos projetos
de música erudita, o que difere é o quanto vem para a música erudita e o quanto
é destinado ao popular. Se conseguíssemos equilibrar melhor isso, todo mundo
sairia ganhando.
G.E.: Cada vez temos mais cantores líricos no mercado e
menos espaço tanto da mídia quanto das casas de concerto. O que você espera
daqui pra frente?
S.J.: Olha eu vou comentar alguns projetos que estou sabendo
e que estão acontecendo, não sei todos e desde já peço perdão se me esquecer de
algum, mas observe isso:
São Paulo
Theatro Municipal de São Paulo - Começou 2012 com a ópera
Magdalena , onde tive o privilégio de cantar, e ao mesmo tempo apresentou Pedro
Malazarte. Depois fizeram La Traviata, com 11 récitas e três elencos. Tivemos
Idomeneo, e ainda vem muita coisa: O Crepúsculo dos Deuses, Pelléas et
Mélisande, Violanta, Tragédia Florentina, Macbeth e O Rouxinol. Não é o máximo?
Theatro São Pedro - Após a transição de OS e grandes
mudanças, já anunciou 3 títulos fora os concertos, quando pensávamos que não
teria mais nada este ano. As óperas anunciadas são: O Elixir do Amor, Lakmé e
Werther.
Rio de Janeiro - Mesmo após o trágico episódio da explosão
está voltando com A Viúva Alegre, La Traviata e Rigoletto.
Manaus - Está acontecendo agora o maravilhoso festival com
Lulu, Tosca, I Puritani - no Brasil depois de 60 anos - A Flauta Mágica.
Belém - Teremos mais uma edição do festival de ópera. Ano
passado cantei Tosca e foi um sucesso. Há um projeto para Salomé e outra ópera.
Brasília voltando com força total para a ópera, ainda sem
muitos recursos mas já com La Bohème e Carmen.
Olha que legal isto, em Santa Catarina tem uma cia. de ópera
que sob o comando do maestro Jeferson Della Rocca tem feito um trabalho
pioneiro, não somente em montagens de ópera como em levar a ópera para cidades
onde nunca uma montagem de ópera havia estado. Recentemente cantamos em
Chapecó, em um teatro maravilhoso de 1.000 lugares a ópera O Barbeiro de
Sevilha, com lotação absoluta e sucesso, mesmo em dia de jogo do Chapecó,
(risos), foi sensacional!
Nasce este ano em Fortaleza a Cia. Experimental de Música
Erudita sob o comando de Vitor Philomeno e em junho montaremos a ópera Semele
de Haendel e muitas novidades ainda.
Santo André e Aracaju que farão concertos encenados da ópera
Tosca.
E estou falando somente de ópera e nem mencionando os
concertos com canto, este ano fiz parte do projeto de resgate e registro de
obras de Heitor Villa-Lobos com a Osesp sob regência do maestro Isaac
Karabtchevsky, com gravação marcada para 2013.
Como não ser otimista e esperançoso? O que precisamos também
é arregaçar as mangas e espalhar o que estamos fazendo o que está sendo feito
para que mais pessoas da população saibam que existe sim músicos e música de
qualidade acontecendo no Brasil.
Se na mídia esta programação não está sendo amplamente
divulgada, podemos fazer a nossa parte ao menos compartilhando o que faremos e
sabemos que vai acontecer para nossos amigos e parceiros, nem que seja somente
em nosso perfis de facebook, com certeza já fará diferença.
G.E.: A idéia da Cia Brasileira de Ópera foi muito
interessante, pois possibilitou levar a ópera ao Brasil inteiro, de uma forma
acessível e produtiva. O que você achou desta empreitada?
S.J.: Um sonho! O Brasileiro adora ópera, fomos super bem
recebidos em todas as cidades! Temos cantores maravilhosos pelo Brasil inteiro
e teatros lindos. Mais uma vez, senti-me privilegiado por fazer parte da
história da ópera no Brasil com a Cia. Brasileira de Ópera, um trabalho
primoroso e pioneiro dos maestros John Neschling, Abel Rocha e Victor Hugo
Toro, instrumentistas maravilhosos e cantores fantásticos e uma produção
primorosa do José Roberto Walker. Esperamos que este maravilhoso projeto
sobreviva às vontades políticas e continue a viajar pelo Brasil levando a ópera
e dando oportunidade de trabalho para mais de 100 profissionais.
G.E.: Você recentemente participou da ópera Magdalena de
Villa-Lobos, na abertura da Temporada 2012 do Theatro Municipal de São Paulo.
Como foi esta participação?
S.J.: Foi um dos momentos mais incríveis da minha carreira,
meu "debut" como solista no maravilhoso Theatro Municipal de São
Paulo. No primeiro ensaio na cúpula do teatro, eu fiquei olhando para tudo
aquilo, o coral lírico com aquelas vozes, meus colegas e claro, como um bom e
genuíno pisciano, me emocionei muito! Sou muito grato e feliz!
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