2013 será o
ano em que o Brasil vai assumir a sétima posição no mercado global de mídia en etretenimento, ultrapassando países como o Canadá e a Itália. A informação é
de estudo da consultoria Pricewaterhousecoopers, lançado no último mês de
junho.
O
levantamento aponta, entre outros fatores, a expansão do setor audiovisual do
país como um dos principais alavancadores dessa alta, incluindo o fomento do
mercado doméstico de cinema e a adesão recorde à TV por assinatura – para se
ter ideia, neste ano, o país deve se tornar o terceiro maior mercado de TV paga
do mundo, à frente de Reino Unido, Canadá e Índia.
Ainda
segundo o estudo, a publicidade em TV aberta – até então, principal fonte de
recursos das produtoras – deve ter crescimento acelerado nos próximos cinco
anos. Tudo aponta para uma expansão sem precedentes do mercado audiovisual no
Brasil e alguns fatos já começam a confirmar essa previsão.
O
crescimento, no entanto, ressaltou as fragilidades de um setor que começa a se
entender como um mercado de fato. Falta de mão de obra especializada, de cursos
de formação para algumas etapas da cadeia produtiva e remunerações abaixo do
esperado, sobretudo nos trabalhos criativos, são alguns dos debates recorrentes
que vêm acontecendo graças ao contexto
de “expansão, explosão e confusão” da área, como afirmou o diretor e
roteirista Tadeu Jungle ao Empreendedores Criativos.
Selecionamos
três agentes do setor com três perfis diferentes de empreendedor – o
independente, o empresário e o que navega em um oceano azul – para montar um
panorama das principais mudanças que estão acontecendo neste mercado.
O autônomo -
Alex Yoshinaga iniciou a trajetória no audiovisual como estagiário numa das
maiores empresas do ramo, o grupo Casablanca, holding que atualmente comanda
sete empresas. O ano era 1994, pouco antes de “Carlota Joaquina – A Princesa do
Brazil”, de Carla Camuratti, atingir 1,2 milhão de espectadores, inaugurando o
período conhecido como a “retomada do cinema brasileiro”.
O episódio
foi um marco histórico por revelar novas possibilidades a um segmento fragilizado
pelo fim da Embrafilme, estatal de fomento fechada pelo governo Collor. Novas
mecanismos de financiamento – o início das leis Rouanet e do Audiovisual -, a
liberdade de criação antes vilipendiada pela ditadura e os aparatos
tecnológicos, que tornaram menos custoso e trabalhoso o fazer cinema, deram
novo respiro à produção cinematográfica do país.
Yoshinaga,
na época um apaixonado por fotografia curioso para entender como essa indústria
funcionava, fez sucessivas visitas à Telefilme, um dos braços da holding, até
ser contratado. Foi de estagiário a assistente e, finalmente, colorista, como o
nome indica, o responsável por fazer a correção de cores em obras audiovisuais.
Hoje, ele atua como um profissional freelancer, oferecendo o serviço para seis
produtoras em média, com uma carga diária de 12 horas de trabalho.
Os ganhos
variam. Ele pode receber até R$ 40 mil – caso do trabalho em documentários. No
caso de uma peça publicitária de 30 segundos, são em média R$ 1,5 mil. Um
episódio de série para TV gira em torno de R$ 5 mil. Os números são projeções,
ele afirma. Fato mesmo é o aumento da demanda nos últimos anos. “O volume de
séries e conteúdo em geral para TV a cabo aumentou muito e acho que ainda vai
crescer muito mais”, prevê.
Os
empresários – A alta é fruto de dois movimentos relativamente recentes no
mercado. Um deles é a aprovação, no fim de 2011, da Lei 12.485. A norma reúne
todas as modalidades de TV por assinatura sob um único guarda-chuva, o Serviço
de Acesso Condicionado (SeAC), e estabelece regras para fomentar a produção
audiovisual nacional. Entre elas, o aumento do número de canais brasileiros nos
pacotes das programadoras (como a NET e a Sky) e a criação de uma cota de tela
de três horas e meia de conteúdo nacional no horário nobre de todos os canais
por assinatura.
A lei, que
entrou em vigor há um ano, já dobrou a veiculação de produções brasileiras na
TV paga, segundo levantamento do Observatório Brasileiro do Cinema e do
Audiovisual (OCA).
Ajudando a
impulsionar o segmento, está a alta na base de assinantes do serviço nos
últimos anos. O país fechou 2012 com 3,4 milhões de novas assinaturas,
atingindo os 16,5 milhões de usuários. O crescimento é atribuído sobretudo ao
aumento do poder de consumo do brasileiro registrado na última década. Números
do Instituto Data Popular indicam que 95% dos novos assinantes da TV paga
pertencem às classes C e D – juntos, eles representam 66% da base total de
clientes de TV por assinatura do país.
Dell Santhos
e Gilson Pariz, ambos donos de agências de casting de atores, confirmam o
aumento da demanda. Santhos é o fundador da Sagarana, que agencia cinco mil
atores em trabalhos para TV, cinema e publicidade. A empresa registrou
crescimento de 40% no faturamento com o surgimento de novas produções para os
canais por assinatura, segundo ele.
“Sim, existe
este aumento e é grande. Para você ter uma ideia, este ano já fechei muito mais
séries para TV paga até agora do que no ano passado inteiro”, ilustra Pariz,
criador da Santo Casting. “[Isso quer dizer que] é real este aumento e todos
nós estamos sendo beneficiados com isso.”
“Hoje 70%
dos produtores de elenco vêm em busca do nosso trabalho, mas estamos sempre
prospectando novos parceiros, como produtoras e agências de publicidade”,
declara Santhos.
A pioneira -
Laura Fazoli entrou neste mercado como produtora executiva há 12 anos, ajudando
em curtas-metragens de amigos. Foi para a TV, passou um período longe do
audiovisual e voltou a atuar no setor junto a uma distribuidora, quando começou
a frequentar festivais de cinema, suas feiras e rodadas de negócios com agentes
do setor. “Percebi ali que tem uma figura crucial no sucesso de conteúdos, que
é o sales agent, super valorizada em lugares onde a indústria realmente está em
atividade”, diz.
Nos Estados
Unidos, a figura do sales agent está consolidada. É ele o responsável por fazer
acordos para exibição de filmes nos cinemas, na TV, em plataformas de
video-on-demand, como o Netflix, DVD e Blu-ray. Além disso, o agente negocia a
veiculação da obra em mercados internacionais, licenciando a produção para
distribuidoras estrangeiras.
Para exercer
a função, é necessário conhecimento profundo em relação a como os mercados
local e externo funcionam, seus principais players e os canais para chegar até
eles. “Conhecer muitos filmes, livros, músicas, artes em geral, ser também um
formador de opinião faz parte desse trabalho. [Somos] um pouco ‘caixeiros
viajantes’ com nossos filmes embaixo do braço partindo de festival em festival,
oferecendo nossos produtos”, explica a empreendedora, hoje à frente da Laura
Fazoli & Associados, grupo que está trazendo a cultura do sales agent para
o mercado brasileiro.
“Quando se
fala em ganhar dinheiro, e tem-se exemplos concretos disso, a coisa flui. No
começo eu tinha que mostrar um plano de negócios e convencer as pessoas a
apostar em mim”, conta. Com menos de um ano de vida, a empresa já possui 12
clientes na carteira, todas produtoras.
Importar um
conceito de uma superestrutura como Hollywood diz muito sobre a nova dinâmica
que está sendo criada no Brasil, que não descarta as particularidades do
mercado doméstico, mas pretende imprimir um novo ritmo ao setor. A intenção de
tudo isso pode estar nas palavras de Walt Disney: “Não fazemos filmes para
ganhar dinheiro. Fazemos dinheiro para produzir mais filmes.”
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