Mostra
repete fórmula de segmentação total, levando ao excesso de prêmios, mas
preserva vocação para o debate
Com
Revelando Sebastião Salgado, de Betse de Paula, começa nesta terça, para
convidados, o 46.º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, o mais antigo
evento do gênero no País. A longa entrevista realizada com o mais conhecido fotógrafo
do País já foi apresentada no Festival de Gramado. Repete-se agora em Brasília
nesta noite de gala que ocorre no Teatro Nacional Claudio Santoro. Uma
cerimônia para a cidade, que conta ainda com apresentação de peças musicais
pela Orquestra do Teatro Nacional. Amanhã, a mostra desloca-se para o –
completamente reformado – Cine Brasília e tem início a disputa pelos Candangos,
o troféu do festival.
Para 2013,
Brasília repete a fórmula adotada no ano anterior – que pode ser definida como
de segmentação total. Num momento em que o cinema trabalha, mais do que nunca,
com fusão de linguagens, Brasília vai na contramão. Faz duas mostras separadas,
cada qual com premiação própria – uma para longas de ficção, outra para
documentários. Seis concorrentes em cada uma delas.
Na
competição de curtas, a segmentação é ainda maior – ficção, documentário e
animação. Esse anacronismo fica mais evidente num ano em que um documentário,
Sacro Gra, venceu o Festival de Veneza, competindo com outros documentários,
ficções e um longa de animação. Coisa semelhante acaba de se passar no
recém-encerrado Cine Ceará, quando o doc basco >Emak Bakia levou o prêmio
principal ao bater outros documentários e outras ficções.
Filme é
filme. Colocá-los em seções separadas não os protege, apenas reforça guetos.
Além disso, essa segmentação causa cerimônias caudalosas, pelo excesso de
prêmios. Aliás, no fundo, a única função desse tipo de segmentação é aumentar o
número de prêmios e assim contentar mais concorrentes.
Essa
curadoria antiquada atrapalha, mas não deve tirar o brilho de uma competição
que, a julgar pelos títulos, se anuncia interessante. Filmes como Riocorrente,
de Paulo Sacramento, Avanti Popolo, de Michael Wahrman, Exilados no Vulcão, de
Paula Gaitán, Depois da Chuva, de Claudio Marques/Marilia Hughes, Morro dos
Prazeres, de Maria Augusta Ramos, Os Pobres Diabos, de Rosemberg Cariry, Outro
Sertão, de Adriana Jacobsen/Soraia Vilela, Plano B, de Getsemane Silva, entre
outros, devem proporcionar material crítico para reflexão sobre o atual cinema
brasileiro. Afinal, Brasília, ao longo de sua história, começada em 1965,
sempre se caracterizou pela reflexão e pelo debate.
Entre os
selecionados, Brasília teve de enfrentar uma defecção este ano – depois de A
Estrada 47, de Vicente Ferraz, ter sido anunciado como um dos concorrentes,
seus produtores, cooptados pelo Festival do Rio (que exigiu ineditismo),
retiraram o filme de Brasília. Foi substituído por Amor, Plástico e Barulho, da
pernambucana Renata Pinheiro. No entanto, a mesma Première Brasil, do Festival
do Rio, vai exibir o vencedor de Gramado, Tatuagem, de Hilton Lacerda, e Os
Amigos, de Lina Chamie, que também competiu na serra gaúcha, mês passado. Dois
pesos, duas medidas.
Da mesma
forma, Brasília teve de aceitar a quebra de ineditismo de Os Pobres Diabos, de
Rosemberg Cariry, que tinha compromisso de fazer uma primeira apresentação em
seu Estado natal e fechou, fora de concurso, o Cine Ceará. As relações entre
festivais estão longe de serem pacíficas. Na disputa por títulos inéditos, ou
seminovos, vale (quase) tudo.
Além dos
debates em profundidade dos filmes, outra tradição de Brasília são seus
seminários. Serão quatro, este ano. Em Olhares Multiculturais e o Cinema
Brasileiro no Exterior examina-se o relacionamento entre culturas
cinematográficas. Humor e Comicidade tenta dar tratamento menos intuitivo ao
fenômeno de bilheteria das comédias à brasileira. Cinema em Alto e Bom Som
estuda o uso da música nos filmes. E Estratégias de Desenvolvimento de Pequenas
Empresas do Audiovisual volta-se para o lado mais, digamos, negocial. Os
seminários reúnem nomes como o brasilianista Randal Johnson, o ensaísta
brasileiro radicado na França Paulo Paranaguá, o crítico italiano Gian Luigi De
Rosa, o músico David Tygel, o diretor Walter Carvalho e o historiador Elias
Thomé Saliba, autor do livro Raízes do Riso>. Com tantos filmes e
atividades, o dia precisaria ter pelo menos 48 horas durante o Festival de
Brasília.
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