Frederic
F. Chopin (1810-1849) parece ter sido o último “Bach” dos
românticos. Polonês e francês, vindo do catolicismo europeu, ele escreveu quase
que exclusivamente para o piano, um instrumento que se tornou dominante somente
após a morte de Bach. Este, por sua vez, era um alemão burguês com uma bagagem
e uma educação luteranos. Bach era um artesão cujo trabalho estava
enraizado na sua comunidade e tinha uma visão organizada do universo, o que era
refletido em seu trabalho escultural. Chopin era um exilado, um artista sem
raízes, que levava uma vida desregrada e boêmia.
Johann
S. Bach (1685-1750) era contrapontístico por excelência e trabalhava
ligado à multiplicidade da forma. A música de Chopin é pessoal, de pequena
escala, melódica e harmônica ao mesmo tempo, ligada a sentimentos e estados de
espírito. Chopin costumava aquecer os seus dedos, todos os dias, tocando O Cravo Bem Temperado.
Em 1839 ele publicou uma coleção de 24 prelúdios abrangendo as 12 tonalidades
maiores e menores. Bach fez o mesmo.
Na verdade existe um continuum que liga Bach a Chopin. Bach foi um defensor
ardente do “sistema bem temperado” (ou de temperamento igual) para os
instrumentos de teclado. Ele superou, de longe, seus contemporâneos na
habilidade de incorporar expressivas notas “erradas” e acordes dissonantes nas
suas composições. Sua técnica cromática, hoje tida como moderna, foi adotada
por seu filho Carl Philipp Emmanuel Bach. Isso passou a ser um dos princípios
dos primeiros românticos e Chopin foi o maior e mais original expoente deles,
na primeira metade do século XIX. Nada disso seria possível sem o “temperamento
igual”. “O
Cravo Bem Temperado” difere do caráter dos “Estudos” (Études)de
Chopin, principalmente no que diz respeito aos prelúdios mas, com toda a
certeza, Chopin tinha em mente os prelúdios do Cravo Bem Temperado quando
compilou os seus próprios prelúdios nesse livro.
Bach organizava sua vida passo por passo, como numa escala cromática. Já Chopin tinha uma vida parecida com o “círculo das quintas”: as maiores e menores são colocadas juntas não por pertencerem à mesma tonalidade (como vemos em Bach), mas por pertencerem ao grupo de bemóis ou ao grupo de sustenidos na armadura de clave (como vemos em Chopin).
Nenhum comentário:
Postar um comentário