A primeira
Bienal Internacional de Teatro da Universidade de São Paulo (USP) ocorre de 31
de outubro até 15 de dezembro e pretende
mostrar como o tema Realidades Incendiárias nas recentes mobilizações mundiais
se traduz nos palcos. Na lista de peças vindas do exterior estão produções do
Líbano, da Argentina, Cisjordânia, Eslovênia e Tunísia. De acordo com a
curadoria da mostra, os espetáculos se destacam pela ousadia em desafiar
padrões estéticos vigentes.
"O tema
escolhido [Realidades Incendiárias] tem o sentido tanto de entender o palco
como uma realidade transformadora, quanto [de entender] como ela é retratada
por esse palco. Foi aí que chegamos a esses países, onde os conflitos são, infelizmente,
ainda presentes", explica Celso Frateschi, diretor do Teatro da USP
(Tusp). Ele reforça que o olhar para seleção dos espetáculos foi, sobretudo,
artístico. "A curadoria não teve nenhuma preocupação em atender a algum
tipo de demanda comercial existente."
Para a
diretora teatral Deise Abreu Pacheco, integrante da curadoria da mostra, uma
das discussões propostas pela bienal será o próprio enquadramento das produções
em uma categoria. "Não são espetáculos o que a gente vai mostrar. É
difícil nomear. São, na verdade, experiências muito radicais que tratam de
questões da vida dessas pessoas", disse. Os curadores acreditam que, ao
assistir a todas as apresentações, o público terá experiências diferenciadas.
"Nenhuma é contemplativa, mas a forma como isso se dá é variada",
complementou Ferdinando Martins, vice-diretor do Tusp.
A mostra
será aberta às 14h, no Tusp, com o 66 Minutes in Damascus (foto acima), do
diretor libanês Lucien Bourjeily, inédito no Brasil. Com sessões seguidas para
apenas oito pessoas de cada vez, o espetáculo levará o público a uma imersão
cênica que propõe a experiência próxima à realidade de um turismo de guerra. A
produção foi composta a partir do relato de jornalistas estrangeiros e
ativistas locais sobre os centros de detenção sírios. Os turistas, que são os
próprios espectadores, são presos pelo serviço secreto do país.
Outra
atração internacional é a peça argentina Mi Vida Después (foto à esquerda), da
diretora Lola Arias. O espetáculo promove o encontro de seis atores nascidos na
década de 1970 com a juventude de seus pais a partir de fotos, cartas, fitas,
roupas e memórias. Da Cisjordânia, o diretor Gary M. English traz o espetáculo
The Island, que reconta a história do apartheid. Serão apresentados ainda os
espetáculos estrangeiros Damned Be Traitor of His Homeland!
(Eslovênia/Croácia); e Macbeth - Leila and Ben: a Booldy History (Tunísia).
Quatro
espetáculos nacionais completam a programação da bienal. No dia 5 de novembro,
às 20h30, o grupo Desvio Coletivo discute, na peça Pulsão, a motivação da vida
por meio de jogos relacionais e de cenas que operam no limite entre o teatro e
a performance. "O roteiro surgiu quando estava em um hospital vivendo uma
situação limite ", contou Marcos Bulhões, diretor-geral do espetáculo. Ele
considera positivo que a mostra selecione apresentações que fujam do apelo
comercial. "Acreditamos que o espaço pedagógico permite esse tipo de
ruptura."
O diretor do
Tusp aposta que essa independência comercial, tendo em vista que todo o
financiamento é da USP, será um diferencial da mostra em relação a outros
festivais. "Como universidade, o que nos caberia fazer? Achamos que não
seria correto que fôssemos para uma disputa de trazer o espetáculo mais
importante do mundo. Nosso olhar foi tentar colocar questões que, pela
característica dos festivais existentes, não se consegue colocar. Abrir essa
questão estética", justificou Frateschi.
A
programação nacional terá também os espetáculos BadenBaden, do Coletivo Banal
de Florianópolis (SC); Arqueologias do Presente: a Batalha da Maria Antônia, da
diretora Cristiane Zuan Esteves (SP), e Outro Lado, dirigido por Assis
Benevenuto, Ítalo Laureano, Marcos Coletta e Rejane Faria, de Minas Gerais. A
mostra conta ainda com atividades gratuitas de conferências, workshops e
minicursos que podem ser conferidas no endereço www.usp.br/bienaldeteatro.
Jornal do
Brasil
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