Há canções
ligadas à infância, à juventude, ao primeiro amor, a uma grande tristeza, ao
casamento. Todas essas músicas compõem a memória musical de uma pessoa e podem
despertar emoções cruciais para a melhora de certas condições de saúde.
"Quando utilizamos músicas relacionadas à história de um portador de
Alzheimer, por exemplo, essa pessoa consegue relembrar fatos com detalhes: isso
não viria à tona, caso indagássemos aquele paciente", explica Cléo
Correia, musicoterapeuta do ambulatório de Musicoterapia de Neurologia do
Comportamento da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
A esperança
é confirmada por estudo das Faculdade Metropolitanas Unidas (FMU). O trabalho
mostra que pacientes internados apresentaram melhora significativa de humor
quando são submetidos a um repertório musical personalizado, criado a partir de
seus próprios gostos musicais. "99% dos pacientes dizem que se sentem
muito melhor", comenta Maristela Smith, professora, fundadora e
coordenadora dos cursos de graduação e pós-graduação de musicoterapia e da
Clínica-escola de Musicoterapia da FMU.
A música
pode ser usada no auxílio da saúde de duas formas: preventiva ou terapêutica,
segundo explica Smith. Na primeira situação, ela é aplicada em atividades
recreativas com crianças, jovens, adultos e idosos saudáveis. No segundo caso,
em que há níveis mais intensos de trabalho, pode ajudar a minimizar os sintomas
de Parkinson e Alzheimer, ajudar portadores de deficiência mental, colaborar na
recuperação de problemas motores, pacientes com câncer, além de casos de
depressão e stress, entre outros. "Os sons estimulam a mente porque
atingem, ao mesmo tempo, o hemisfério direito, ligado à criatividade, e o
esquerdo, do raciocínio", diz Smith.
Mozart para
crianças - Cléo Correia, da Unifesp, realizou um estudo com crianças que sofrem
de epilepsia grave, conhecida como síndrome de Lennox-Gastaut. Nesses casos,
ocorrem espasmos constantes, e a medicação dificilmente surte efeito duradouro.
Os pesquisadores, então, recorreram a Mozart para auxiliar as crianças:
"Intercalamos as músicas com silêncio, e percebemos que os espasmos
diminuíam", relata a musicoterapeuta.
"A
música tem um impacto direto e mensurável no estado mental, reposta biológica
ao stress, sensação de dor, ação cardíaca, pressão sanguínea, níveis de
hormônio, produção de morfinas, adrenalina e atividade elétrica cerebral",
sintetiza Ralph Spintge, presidente da Sociedade Internacional de Música na
Medicina, em Lüdenscheid, Alemanha.
Apesar da
quantidade crescente de estudos que comprovam os benefícios da musicoterapia,
os especialistas são categóricos ao dizer que não existe uma farmacopéia
musical universal. "Precisamos encarar cada caso como único. É preciso
conhecer a história musical da pessoa: se ela cooperar, certamente a música lhe
fará bem", afirma Correia. Spintge concorda: "É óbvio que nunca
haverá uma pílula musical contra todas as doenças. Por outro lado, se os
programas musicais forem usados adequadamente, serão alcançados benefícios para
todos os pacientes e cidadãos", diz.
Natalia
Cuminale
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