Marcos António da Fonseca Portugal [Marco Portogallo]
nasceu em Lisboa em 24 de março de 1762 e ingressou no Seminário Patriarcal
com apenas nove anos, tendo sido aluno de João de Sousa Carvalho. Começou a
compo com 14, quando escreveu um Miserere, a quatro vozes e órgão. Tornou-se
músico profissional com 21, admitido na irmandade de Santa Cecília, de Lisboa.
Foi também organista e compositor da Sé Patriarcal daquela cidade e, em 1785,
nomeado mestre do Teatro do Salitre, para o qual escreveu suas primeiras obras
de cena.
Portugal se transferiu em 1972 para Nápoles, o grande centro
operístico da época, onde se converteu em um ativo compositor do gênero. Escreveu
inúmeras óperas em estilo italiano que foram encenadas nos mais importantes
palcos da Itália, como os teatros La Pergola e Pallacorda, ambos em Florença;
San Moise, em Veneza; e no famoso La Scala, de Milão. Entre elas, Lo Spazzacamino
(1794) e Il Demofoonte (1794).
Retornou a Portugal em 1800, sendo nomeado mestre da Capela
Real e diretor do Teatro de São Carlos de Lisboa, para o qual compôs várias
óperas, como La morte di Semiramide (1800), L'oro non compra amore (1801), La
Merope (1804), Il duca di Foix (1805), Artaserse (1806) e La morte di Mitridate
(1806).
Em 1811 viajou para o Rio de Janeiro a pedido do Príncipe Regente,
refugiado no Brasil, com os demais membros da Família Real, por causa da invasão
de Portugal pelas tropas napoleônicas. Sendo recebido como uma celebridade,
foi, aqui, imediatamente nomeado Mestre da Capela Real. Marcos Portugal viveu
nesta cidade o resto da vida, não tendo acompanhado a corte, em 1821, quando
esta regressou a Lisboa. Preferiu ficar a serviço de D. Pedro I, filho de D.
João VI, tendo sido confirmado como Mestre de Música da Imperial Família. Foi
também o autor do primeiro Hino da Independência do Brasil. Faleceu em 1830, relativamente
esquecido.
Da sua produção sacra, que conta mais de 140 obras, a edição
de Concertos UFRJ destacou os responsórios de números 1 a 4 (“ Hodie nobis caelorum
Rex”, “Hodie nobis de caelo”, “Quem vidistis pastores?“ e “O magnum mysterium”)
das Matinas do Natal, compostas a pedido de D. João VI, para as comemorações de
1811, que tiveram lugar na Igreja de Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé, na
atual Praça XV. Uma das primeiras obras
originais criadas pelo compositor em terras brasileiras, já que, na realidade,
muitas deste período são versões e reelaborações de trabalhos anteriores do
autor, o extenso título que consta da partitura diz “Mattinas do Santissimo Natal
de Nosso Senhor Jesus Christo. A 4 e mais vozes. Com obrigação de Clarinettes,
Trompas, Violettas, Fagottes, Violoncellos, Contrabachos e Orgão. Composto para
a Capella Real do Rio de Janeiro, por ordem de S.A.R. o Príncipe Regente nosso
Senhor. Por Marcos Portugal.”
Mesmo sendo uma obra de inspiração religiosa, o modelo adotado,
bem de acordo, aliás, com o gosto da época, é mundano: estão presentes nela os
maneirismos típicos das óperas italianas. Cabe mencionar ainda que as Matinas
guardam estreita relação com a Missa Pastoril de José Maurício Nunes Garcia –
ambas foram escritas para a mesma solenidade, ambas apresentam carácter “pastoril”,
expresso, sobretudo, nos solos de clarinete recorrentes e nas referências explícitas;
e a instrumentação adotada é, não só idêntica, como peculiar, por dispensar violinos.
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