Quando os estudiosos da Camerata Florentina, durante uma
tentativa de emular o teatro grego clássico, acabaram por criar a ópera, já a
inventaram com o coro. Dafne a primeira composição do gênero, com libreto de
Ottavio Rinnucini e musica de Jacopo Peri tinha em seu elenco um coro e ninfas
e pastores.
Nascido, portanto, com o próprio teatro lírico, durante o
carnaval de 1597, o coro de ópera, descendente direto do Khorus do teatro
helênico, surgiu com a mesma função dramática do seu bisavô: comentar a ação e
eventualmente interpelar os personagens. Quanto ao conjunto de instrumentos,
era tão pequeno nas primeiríssimas óperas eu nem merecia se chamado de
orquestra.
Mas no período barroco que se sucedeu, enquanto os
empresários do teatro pago praticamente forçaram os compositores a eliminar o
coro de suas óperas, para economizar o salário dos coralistas (apenas os teatro
de corte mantiveram óperas com o coro) as formações instrumentais, a partir de
Orfeo (1607), no qual Monteverdi utilizou uma orquestra enorme para a ocasião
com 38 músicos, só fizeram crescer.
No final do século XVIII, durante o Classicismo, o coro
volta a participar novamente das óperas. No século seguinte o do Romantismo,
tanto o coro quanto a orquestra crescem em tamanho e importância, e é
impossível criar uma ópera naquele período sem a participação ativas das duas
formações.
Em muitas óperas, o grande momento da orquestra acontece
antes que a cortina se abra, na execução da abertura. Quanto tem duração longa,
a abertura recebe o nome de sinfonia, como acontece na 21ª Ópera de Rossini, La
Gazza Ladra (1817), famosa com o rufar dos tambores com que começa. Quando é
breve, a peça inicial é um prelúdio, como o que acontece em Maria Tudor (1879)
onde Carlos Gomes, baseando=se em Victor Hugo, descreve alguns dos conflitos
amorosos da famosa rinha Inglesa. Mas prelúdio também pode significar a cura
introdução orquestral usada pelo autor para criar cor local, antes de outros
atos que não o primeiro, tal como em La Traviata (1853) onde Verdi reconta a
história de A Dama das Camélias de Alexandre Dumas.
Outro destaque da orquestra típico das óperas italianas dos
últimos anos do século XIX é o intermezzo, peça sinfônica que, executada pouco
antes do fim, serve, como na Cavalleria Rusticana, para aliviar um pouco as
tensões que retornarão com violência nos finais característicos das óperas da
corrente realista conhecidas por verismo, iniciada juntamente para essa ópera
de Mascagnii em 1890.
Uma as missões-padrão dos coralistas em era é representar
convidados de festas, como quando cantam “L’Heure s’Envole”, o coro que abre o
primeiro ato de Romeu e Julieta (1867), de Gounnod, no esplêndido baile dos
Capuletos, ou “D’Immenso Giubilo” entoado pelos convivas que vieram presenciar
o casamento de Lucia na obra-prima de Donizetti Lucia di Lammermoor (1835). Em
Tannhäuser (1845), quinta das treze óperas de Wagner, o coo d damas e
cavaleiros da Turinga medieval, cantando Freudig Begrüssen wir die edle Halle,
recepciona os convidados que vêm assistir ao famoso concurso no castelo de
Warburg.
Um outro uso frequente para o coro é fazê-lo representar o
povo comum em cenas de grande efeito, caso de Carmen (1875) de Bizet, em que a
multidão de Sevilha, excitada, se reúne em uma praça para assistir ao brilhante
desfile dos toureiros que se dirigem à arena em dia de corrida de touros,
cantando “Les Voici!”, e também de Turandot (1926) onde o povo de uma Pequim do
tempo das fábulas assiste, apavorado, à execução dos príncipes que falharam em
resolver os enigmas propostos pela gélida princesa que empresta seu nome à
derradeira ópera de Puccini.
Às vezes os compositores permite que as moças do coral
descansem um pouco, criando cenas onde o coro é só masculino, como aquele que
os guerreiros gauleses aos gritos de “Guerra!, Guerra!”, se preparam para
enfrentar os invasores romanos na Norma (1831) de Bellini. Em certas obras,
para criar uma atmosfera evocativa e delicada, o compositor faz o coro cantar
fora de cena. É o caso de Puccini em sua Madama Butterfly (1904), onde o
vigília da jovem japonesa do título, que permanece toda a noite acordada
esperando pela chegada de sue marido americano, ausente há três anos, é
descrita pelo coro que canta sem palavras, coma boca fechada, motivo pelo qual
essa passagem é conhecida como “Coro a Bocca Chiusa”.
Algumas óperas tem uma ambientação exótica garantida por um
coro numeroso, que reforça o efeito das grandes cenas de conjunto desfilando os
figurinos com os quais representam grupo étnicos específicos, como os ciganos
que entoam “Vedi! Le Foche Noturne Spoblie” o famoso coro dos ferreiros em Il
Trovatore (1853) ou de povos de um passado remoto como os egípcios à época dos
faraós e os escravos etíopes vencidos na batalha que desfilam durante o segundo
ato de Aída (1871).
Ambas as óperas tem suas partituras assinadas pelo Guiseppe
Verdi, a quem devemos também passagem coral mais famosa de toda a história da
ópera, “Va Pensiero”, de uma beleza singela, profundo em sua simplicidade, este
coro em que os escravos hebreus lamentam a invasão de sua terra natal pela
Babilônia, no terceiro ato de Nabucco (1842), tornou-se desde a estreia dessa
ópera, um dos mais fortes símbolos do movimento de reunificação da Itália
conhecido como o Risorgimento.
Sergio Casoy
Programa de Concerto Osesp – Nov. / Dez. 2010
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