O Pensador - Rodin
No século XVI, Michelangelo já
era um dos maiores mestres da escultura. Era ela sua verdadeira paixão, aquela
que comandava seu espírito tempestivo, segundo o biografo Tiberio Calcagni: “a
sua arte era a escultura; as outras, faz e fez para comprazer os príncipes.”
Sua importância foi tamanha que apenas mais de 300 depois outro artista,
inspirado por ele, foi tão marcante: Rodin.
Michelangelo (1475-1564) foi
pintor, arquiteto, poeta e escultor. Sua produção na Capela Sistina foi um dos
marcos do Renascimento, suas figuras masculinas são o símbolo supremo da
perfeição dos corpos fortes, belos e majestosos. Nelas ele demonstra um
profundo conhecimento em anatomia.
Apesar de a Capela Sistina ser o símbolo
de todas suas obras, o grande prazer artístico de Michelangelo era escultura.
Sua reputação cresceu com a expressiva Pietá (c.1498-1499). Graças a essa obra,
o artista foi chamado para terminar um projeto inacabada: Davi (1501-1504), a
majestosa escultura em mármore do jovem nu preparando-se para a batalha com
Golias. É aqui que Michelangelo demostra seu alto conhecimento em anatomia e
sua sensibilidade artística, sendo capaz de dialogar as duas vertentes em um
obra de extrema emotividade.
Desde cerca de 1513 até 1530
Michelangelo realizou quatro esculturas para o túmulo do papa Júlio II –
juntamente com a figura de Moisés (1513-1516). O conjunto ficou conhecido como
“Os escravos” e hoje pertencem à Galeria da Academia de Belas Artes de
Florença.
Nessa obra, o corpo de um jovem
homem aparece surgindo do mármore ainda rústico. As partes de seu corpo
delineado parecem estar explodindo da pedra nobre. Porém nem todas as partes
encontram-se expostas: o jovem ainda está como que por nascer da pedra. Suas mãos
e pés ainda estão presos, como um escravo preso por correntes impedido de
movimentar-se.
Em sua face há algum delineamento
de traços, assim como alguma expressão de lábios. Seu corpo apresenta formas
definidas, músculos estirados. Michelangelo explorou o movimento do corpo
humano até suas últimas consequências. Em todos os ângulos existe a
visibilidade da obra, ou seja, ela exige um observador que dialogue com seus
múltiplos pontos de vista.
Mesmo inacabados, os corpos
torturados dos escravos demonstram a grandiosidade e a dramaticidade da
produção do artista. Esse era o sentido da escultura de Michelangelo: a obra já
estava na pedra, ele apenas retirava o excesso e deixava a forma fluir.Sua
ideia era libertar a forma que parecia estar dormindo no mármore. As
modificações profundas na escultura realizadas por Michelangelo no final do
Renascimento só foram revistas, como ponto de partida de estudos, com Rodin
(1840-1917), no fim do século XIX.
Auguste Rodin (1840-1917) foi um
dos maiores escultures da história da arte. Estudioso da escultura clássica,
Rodin tem como mestre Michelangelo. Ele recriou o ser humano em uma perspectiva
hiper-realista, elevando as tensões dos corpos ao extremo. Pele, músculo,
feições faciais, são únicas e extremamente pensadas em cada uma de suas
esculturas de personagens sedutores e incrivelmente vivos.
Sua Andrômeda pode ser
considerada uma obra herdeira do artista italiano. Na parte inferior vemos a
pedra bruta, na parte superior surge um corpo com formas femininas delineadas.
Rodin não gostava de dar acabamento em suas obras - sua ideia era deixar um ar
de incompletude para que o próprio expectador terminasse a obra em sua mente.
Andrômeda possui uma sensualidade suave, assim como o escravo de Michelangelo.
Os longos cabelos fundem-se com o bloco de mármore, deixando imperceptível onde
começa um e termina o outro.
Para realmente ver Andrômeda
faz-se necessário observar a obra em todos os seus ângulos. Seu corpo está em
movimento, retraído como se estivesse levantando-se, surgindo do mármore. Seus
músculos ressaltados, seu corpo sinuoso, a dualidade da forma delicadamente
definida e da indefinição bruta fazem parte dela. Andrômeda explode da pedra de
maneira até mais violenta que O Escravo. Contudo, ao mesmo tempo, Andrômeda encontra-se
presa à pedra, como a personagem mitológica que a inspirou. Assim como
Michelangelo, Rodin joga com o nome de sua escultura.
Rodin não buscava tirar a vida do
mármore como Michelangelo, mas criá-la com suas próprias mãos. Entretanto,
ambos exploraram o mármore de maneira única na escultura, criando vida e
movimento. Forçaram a figura, a sua exaustão da forma, a sinuosidade e volumes
dos corpos exacerbados, para criar sensações no observador.
Os trabalhos de Michelangelo e
Rodin são impares na arte da escultura. São exemplos da compreensão total do
corpo humano e da própria arte. A beleza de suas obras não estava na simples
cópia, mas na dramática perfeição que elevava ao extremo o corpo humano, e na
incompletude poética de cada objeto.
carolina
carmini
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