Aula-espetáculo do autor pernambucano
e shows marcaram a abertura; organizadores adiantaram que o poeta Wally Salomão
será o homenageado da edição 2013
Para Yara Francisca, de 60 anos, moradora do morro
da Fallet, em Santa Teresa, a abertura da 1ª edição da Festa Literária
Internacional das UPPs (Flupp), nesta quarta-feira (7), foi um dia mais do que
especial. Yara, que vive na favela desde que nasceu, tinha pela primeira vez um
evento literário próximo de sua casa. Ela vibrava e aplaudia a apresentação da
Orquestra de Vozes Meninos do Rio, composta por cerca de mil vozes de crianças
de escolas públicas da cidade.
- Está tudo muito bonito. Fiquei sabendo da
festa quando vim pegar minha neta na escola. Estou adorando - contou ela que
pretende participar de todos os dias do evento.
Junto a ela, mais de mil pessoas acompanharam
o primeiro dia de atividades da Flupp, no Ginásio Experimental Olímpico, em
Santa Teresa, entre alunos, professores, autoridades, como o secretário
estadual de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, e a secretária municipal
da Educação, Claudia Costin, moradores da favela e escritores.
Além do coral, que cantou os clássicos "Garota
de Ipanema" e "Cidade Maravilhosa", a abertura contou
também com uma aula-espetáculo do escritor pernambucano Ariano Suassuna e os
shows de MV Bill e do rapper líbio MC Swat.
A
expectativa é de que, até domingo, cerca de 10 mil pessoas circulem pelas
tendas no Morro dos Prazeres, onde ocorrerão debates com autores e contação de
histórias.
O
clima da festa girava em torno de Lima Barreto, homenageado desta edição da
Flupp, e que teve sua vida e sua obra relembrada pelo escritor João Paulo
Cuenca. Durante a abertura, a professora da UFRJ e crítica literária
Heloísa Buarque de Hollanda, uma das organizadoras da festa, afirmou que todos
os presentes participavam de um dia histórico para a literatura
brasileira. Ao longo do discurso, Heloísa deixou escapar o que parecia ser
um segredo: o poeta Wally Salomão será o homenageado da edição do ano que vem.
-
Este dia ficará marcado para sempre na história da literatura e da educação
brasileira. A Flupp não é uma festa regional, está aberta para todos e integra
a cidade inteira. De repente me bateu uma saudade do Wally Salomão, acho que
ele gostaria muito de ver como está isso aqui. Vamos homenageá-lo no ano
que vem - disse Heloísa, visivelmente emocionada, no palco do Ginásio.
Por
volta das 19h30m, o escritor pernambucano Ariano Suassuna, atração mais
aguardada da abertura, subiu ao palco. Suassuna apresentou uma versão reduzida
da sua tradicional aula-espetáculo e divertiu o público no morro
do Fallet. Logo no início, como costuma fazer, reclamou de sua
-
Minha voz é feia, rouca e fraca, mas espero que vocês gostem do que eu vou
falar - brincou o escritor, que afirmou estar muito tocado por participar
da festa literária. - Machado de Assis dividia o Brasil em dois: o real e o
oficial. Esta festa é para o Brasil real.
Para uma plateia atenta aos seus causos, o autor de
"Auto da Compadecida" (Agir) relembrou a história de cordel que
o impulsionou a escrever a peça. Suassuna contou também um episódio
em que um dramaturgo perguntou a ele se o fato de nomear os
personagens com nomes sertanejos como João Grilo e Chicó não prejudicava a
tradução do romance. De bate pronto, Suassuna respondeu:
- E
eu lá vou me preocupar com a tradução dos meus romances? Eu escrevo em
português e para o povo brasileiro. O resto não me preocupa -
contou o autor, que arrancou aplausos da plateia ao explicar
que o romance foi bastante traduzido e João Grilo virou
"John Cricket" na tradução para o inglês.
Os
shows do escritor e músico Bráulio Tavares, e dos rappers MV Bill e do líbio MC
Swat fecharam o primeiro dia da Flupp. Nesta quinta-feira, a programação
começa cedo em novo endereço, na Tenda Policarpo Quaresma, no Morro dos
Prazeres, com contação de histórias na parte da manhã e debates à tarde.
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