A
área cultural do Rio de Janeiro, particularmente no que diz respeito á música,
à ópera, ao balé e ao Theatro Municipal, tem vivido nos últimos dias momentos
agitados e de muita tensão. E não é para menos.
O
final do ano se aproxima e até agora o Theatro Municipal não anunciou nenhuma
programação, ideia, projeto ou esboço de plano para 2013. O TMRJ está
absolutamente paralisado pela falta de iniciativa de seus gestores. A agenda para o próximo ano está lamentavelmente
em branco.
O
assunto vem ocupando amplo espaço em blogs e nas redes sociais, e já chegou à
grande imprensa, em duas matérias publicadas no último domingo, dia 18, pelo
jornal “O Globo”. Nas matérias, a presidente do TMRJ, a diretora e produtora de
cinema Carla Camurati, foi ouvida e teve espaço para dar suas explicações. Não
convenceu. Ao contrário, produziu nova onda de protestos e acentuou as
campanhas que o meio musical e o público do Rio já vinham fazendo.
O
mesmo “O Globo” repercutiu o assunto, desta vez na “Coluna do Ancelmo”, assinada
por um dos mais respeitados jornalistas brasileiros, o colunista Ancelmo Góis.
Ancelmo, que nunca sofreu do fígado e sempre privilegia o bom humor em seus
textos, abordou em pequena nota as dificuldades que o TMRJ vem enfrentando para
montar a opereta “A Viúva Alegre”, de Franz Lehar, numa adaptação da produção
de Jorge Takla encenada em outubro pelo Palácio das Artes, de Belo Horizonte. É
que faltavam figurinos para vestir o Coro! Parece piada, mas é verdade. Por essa razão prosaica o conjunto foi reduzido,
deixando constrangidos o diretor de cena, Lício Bruno, e o maestro do Coro,
Maurílio da Costa.
E
quem apareceu no espaço de Ancelmo para dar explicações "artísticas"
sobre oimbroglio? A própria Secretária do Estado de Cultura, Adriana Rattes! Intencionalmente
ou por descuido, a Secretária interrompeu seu expediente e passou por cima dos
responsáveis diretos pela remontagem carioca da opereta. Adriana Rattes, que
sequer acompanha de perto os ensaios, atropelou o diretor cênico, o barítono
Lício Bruno, que é um profissional sério, e também a direção artística do
teatro e até a própria presidente –as únicas pessoas qualificadas para tratar
do assunto.
Até
um observador pouco atento vai reparar que na área da cultura os gestores
estaduais estão “batento cabeça” e metendo os pés pelas mãos.
Não
se sabe até quando o governador Sérgio Cabral vai ter paciência para continuar
tolerando tanta trapalhada e ineficiência justo num setor que lhe é tão caro e
onde seu nome tem grande tradição e respeito –um legado de seu pai, o
jornalista, escritor e pesquisador Sérgio Cabral.
O
Governador não deve estar sendo corretamente informado sobre o que se passa na
área cultural de seu governo, e sobretudo no principal teatro da capital e do
Estado.Não fosse assim já teria tomado providências.
A
presidente do Theatro Municipal e seu diretor artístico perderam há muito tempo
o apoio dos funcionários da casa e agem sem nenhuma autoridade ou coordenação.
A impressão corrente no meio musical carioca é que perderam a capacidade de
administrar o TMRJ.
Daqui
deste modesto posto de observação só se pode vislumbrar uma solução: promover
profundas mudanças na gestão cultural que está sob a responsabilidade do
Governo Estadual. E a expectativa é que isso aconteça até o início do próximo
ano. Deixar para mais adiante, postergar, será pura perda de tempo e só fará
aumentar o desgaste do Governo na área, que já é grande.
Tudo
tem prazo de validade. Até as nossas vidas, que não passam de “sopros”, como
ensina o mestre Oscar Nyemeyer.
O
prazo de validade dos administradores do Theatro Municipal venceu faz tempo!
Estão cansados e com pouca autoridade sobre a instituição. O Governador do
Estado e seus assessores diretos já devem ter reparado nisso. Como já devem ter
notado a disponibilidade de outros profissionais reconhecidamente bem sucedidos
na administração de políticas e projetos culturais, particularmente no campo da
música, da ópera e do balé.
Não
há nada de pessoal nesta opinião. O Opera Sempre não tem compromissos
políticos, e muito menos compromissos com este ou aquele nome. Mas é a
realidade! Dela não há como escapar nem por artes da engenharia política.
Chegou
a hora de renovar e mudar radicalmente os rumos do Theatro Municipal do Rio de
Janeiro. E mudar e renovar é sempre bom.
Henrique
Marques Porto
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