segunda-feira, 26 de novembro de 2012

SOPRANO MARTHA HERR FAZ CONCERTO DEDICADO AO COMPOSITOR E ARTISTA PLÁSTICO JOHN CAGE



Chega ao fim a série "Das notas que ouviam cores surgiam", que apresenta a música moderna e a relação dos compositores com as vanguardas artísticas. No quarto e último concerto, a soprano Martha Herr faz uma homenagem a John Cage, que tem seu centenário comemorado neste ano. Um dos mais criativos e polêmicos compositores do século XX, Cage teve também amplo reconhecimento como artista plástico. O evento acontece no auditório do Sesc Pinheiros, na quarta-feira 28 de Novembro, às 20h30.

Ao longo de 2012 aconteceram em todo o mundo inúmeros eventos comemorativos do centenário de nascimento de John Milton Cage Jr.
        Nascido em Los Angeles em 5 de setembro de 1912 e falecido em Nova York em 12 de agosto de 1992, Cage foi uma das figuras mais importantes da arte de vanguarda no pós-guerra.
        Como músico, foi pioneiro na indeterminação em música, na música eletroacústica e no uso de instrumentos musicais não-convencionais – o que fez dele um mais influentes compositores americanos do século 20.
        Mas Cage teve papel importante também para o desenvolvimento da dança moderna e foi um dos precursores do happening.

Obras sobre papel – John Cagedestacou-se ainda como artista visual: produziu centenas de obras, principalmente aquarelas, desenhos e litografias, e realizou inúmeras exposições em museus e galerias. Nos anos 1960 integrou o movimento Fluxus, influente grupo que reunia artistas plásticos, músicos e escritores e defendia uma estética não-comercial.
 Seu trabalho como artista plástico consiste principalmente de obras sobre papel. Ele trabalhou com gravuras a partir de 1978, durante mais de 15 anos. A foto à esquerda o mostra trabalhando em uma litografia.
        Para Cage, especialmente importante em suas obras era o gestual. "O gesto está muito próximo de uma assinatura... É difícil de explicar, mas eu estou me movendo em direção a uma liberdade do gesto e, ao mesmo tempo, utilizando gestos. E a mesma coisa está acontecendo comigo agora na minha música em termos de harmonia", disse ele nos anos 1980.
        Gravuras, desenhos e aquarelas de John Cage estão nas coleções de grandes museus como o Museu de Arte Moderna de Nova York, o Stedelijk Museum em Amsterdã e o Frankfurter Kunstverein em Frankfurt.

A ação primordial da execução musical está em "fazer escutar" – O trabalho musical e visual deJohn Cage é a atração do quarto e último concerto de "Das notas que ouviam cores surgiam". A série, com curadoria de Ricardo Bologna, em quatro concertos coloca foco nas relações entre Música e Pintura, formas de arte que sempre caminharam juntas e se influenciaram mutuamente.
        Desta vez, estará no palco a soprano Martha Herr, juntamente com o pianista André Rangel e a também soprano Sheila Minatti, e, em participação especial, John Boudler. No programa, apenas peças de John Cage:
•             A Flower, para voz e piano fechado
•             Peça escrita em 1950 para uma coreografia de Louise Lippold, esposa do escultor Richard Lippold. Não há nenhum texto, a cantora apenas vocaliza, sem vibrato, um pequeno número de fonemas, como "uh", "wah", etc. O pianista toca batendo a tampa do piano de várias maneiras – com os dedos, com os nós dos dedos, etc.
•             She Is Asleep, para voz e piano preparado
•             Escrita em 1943, faz parte de uma suíte inacabada, com diferentes peças, apenas duas delas concluídas. Nesta, que seria a terceira da suíte, a voz no dueto deve utilizar métodos não convencionais de produção da voz, sons a serem determinado pelo cantor.
•             The Wonderful Widow of Eighteen Springs, para voz e piano fechado
•             Composição de 1942. O texto é uma versão retrabalhada de uma passagem de "Finnegans Wake" de James Joyce. Segundo o compositor, baseia-se em suas impressões da leitura desse trecho. A linha vocal utiliza apenas três alturas melódicas (pitches), a voz emitida sem vibrato. O piano permanece fechado e o pianista produz sons batendo a tampa ou a outras partes do instrumento.
•             Nowth upon Nacht, para voz e piano
•             Peça de 1984, dedicada in memoriam para Cathy Berberian. O texto é também de "Finnegans Wake" de James Joyce, um trecho logo depois do usado em "The Worderful Widow..." – o compositor indicava que as duas peças deveriam ser apresentadas uma após a outra, sem pausa. A linha vocal é declamatória, e o pianista não toca nas teclas, mas produz ruídos fechando a tampa do piano com o pedal de sustentação pressionado.
•             In a Landscape, para piano
•             Peça de 1948, escrita para uma coreografia de Louise Lippold, está certamente entre as peças mais acessíveis de Cage. Nela, ressonâncias são sustentadas todo o tempo, com uso de ambos os pedais. O resultado é muito suave e meditativo, lembrando ao mesmo tempo Erik Satie e a música balinesa.
•             Sonnekus², para voz
•             Escrita em 1985 para voz solo. A peça consiste em nove canções curtas, com textos, na forma de mesósticos, do Primeiro Livro de Moisés, Gênesis. As melodias, pentatônicas, são cantadas de jeito simples e popular. A partitura sugere pausas, nas quais a cantora circula cantando músicas de cabaret de Erik Satie – "Je te veux", "La Diva de l'Empire" e "Tendrement".  O título faz referência à peça "Trois sonneries de la Rose+Croix" (Três toques da Rosa-Cruz), de Satie. A indicação de 'ao quadrado' (²) no título refere-se às nove letras da palavra-chave ('sonneries') e aos nove poemas que compõem a peça. Neste concerto, "Sonnekus²" será apresentada em versão para duas vozes,Martha Herr cantando as canções biblicas e Sheila Minatti fazendo a Diva de cabaret. Nesta peça participa ainda o importante percussionista John Boudler: ele vai falar um dos textos da peça.
•             4'33'', para qualquer instrumento ou combinação de instrumentos
•             Esta é a célebre "peça silenciosa" de John Cage. Emblemática em relação a seus conceitos sobre o silêncio, nela os músicos executantes não produzem nenhum som durante toda a sua duração, e tudo o que se ouve são os sons produzidos na plateia. A obra, a mais conhecida e importante obra de avant garde do século 20, foi resultado da destilação de anos e anos de trabalho com sons, ruídos e instrumentos alternativos. Com ela, e com ela apenas, Cage rompeu com a história da composição clássica e propôs que a ação primordial da execução musical não está em "fazer música", mas em "fazer escutar".
•             Litany for the Whale, para duas vozes
•             Composição de 1980, nela as cantoras realizam uma série de 32 chamadas e respostas com textos associados às letras W H A L E ('baleia', em inglês). Para cada uma das letras é determinada uma altura específica. As vozes não usam vibrato e revelam pouca expressão. Há quem veja na obra um sentido ecológico, uma preocupação de Cage com o destino das baleias...
S E R V I Ç O
Das notas que ouviam cores surgiam

Sesc Pinheiros
Quarta-feira, 28 de Novembro, 20:30 horas
Marta Herr & John Cage
Martha Herr, soprano
com André Rangel, piano, e Sheila Minatti, soprano
Participação especial de John Boudler em "Sonnekus²"

Programa
Obras de John Cage (1912-1992)
•             A Flower
•             She is Asleep
•             The Wonderful Widow of Eighteen Springs
•             Nowth upon Nacht
•             In a Landscape
•             4'33"
•             Sonnekus²
•             Litany for the Whale

Sesc Pinheiros - Auditório (101 lugares)
Rua Paes Leme 195, 3° Andar, Pinheiros, 3095-9400
INGRESSOS
R$ 16,00
[R$ 8,00, usuários inscritos, +60 anos, estudantes com carteirinha e professores da rede pública; R$ 4,00, trabalhadores no comércio e serviços matriculado no Sesc e dependentes]. Ingressos à venda na Rede Ingresso Sesc.
Duração: ~ 70 minutos

Indicação etária: não recomendado para menores de 10 anos

Nenhum comentário: