Chega
ao fim a série "Das notas que ouviam cores surgiam", que apresenta a
música moderna e a relação dos compositores com as vanguardas artísticas. No
quarto e último concerto, a soprano Martha Herr faz uma homenagem a John Cage,
que tem seu centenário comemorado neste ano. Um dos mais criativos e polêmicos
compositores do século XX, Cage teve também amplo reconhecimento como artista
plástico. O evento acontece no auditório do Sesc Pinheiros, na quarta-feira 28
de Novembro, às 20h30.
Ao
longo de 2012 aconteceram em todo o mundo inúmeros eventos comemorativos do
centenário de nascimento de John Milton Cage Jr.
Nascido em Los Angeles em 5 de setembro
de 1912 e falecido em Nova York em 12 de agosto de 1992, Cage foi uma das
figuras mais importantes da arte de vanguarda no pós-guerra.
Como músico, foi pioneiro na
indeterminação em música, na música eletroacústica e no uso de instrumentos
musicais não-convencionais – o que fez dele um mais influentes compositores
americanos do século 20.
Mas Cage teve papel importante também
para o desenvolvimento da dança moderna e foi um dos precursores do happening.
Obras
sobre papel – John Cagedestacou-se ainda como artista visual: produziu centenas
de obras, principalmente aquarelas, desenhos e litografias, e realizou inúmeras
exposições em museus e galerias. Nos anos 1960 integrou o movimento Fluxus,
influente grupo que reunia artistas plásticos, músicos e escritores e defendia
uma estética não-comercial.
Seu trabalho como artista plástico consiste
principalmente de obras sobre papel. Ele trabalhou com gravuras a partir de
1978, durante mais de 15 anos. A foto à esquerda o mostra trabalhando em uma
litografia.
Para Cage, especialmente importante em
suas obras era o gestual. "O gesto está muito próximo de uma assinatura...
É difícil de explicar, mas eu estou me movendo em direção a uma liberdade do
gesto e, ao mesmo tempo, utilizando gestos. E a mesma coisa está acontecendo
comigo agora na minha música em termos de harmonia", disse ele nos anos
1980.
Gravuras, desenhos e aquarelas de John
Cage estão nas coleções de grandes museus como o Museu de Arte Moderna de Nova
York, o Stedelijk Museum em Amsterdã e o Frankfurter Kunstverein em Frankfurt.
A
ação primordial da execução musical está em "fazer escutar" – O
trabalho musical e visual deJohn Cage é a atração do quarto e último concerto
de "Das notas que ouviam cores surgiam". A série, com curadoria de
Ricardo Bologna, em quatro concertos coloca foco nas relações entre Música e
Pintura, formas de arte que sempre caminharam juntas e se influenciaram
mutuamente.
Desta vez, estará no palco a soprano Martha
Herr, juntamente com o pianista André Rangel e a também soprano Sheila Minatti,
e, em participação especial, John Boudler. No programa, apenas peças de John
Cage:
• A Flower, para voz e piano fechado
• Peça escrita em 1950 para uma
coreografia de Louise Lippold, esposa do escultor Richard Lippold. Não há
nenhum texto, a cantora apenas vocaliza, sem vibrato, um pequeno número de
fonemas, como "uh", "wah", etc. O pianista toca batendo a
tampa do piano de várias maneiras – com os dedos, com os nós dos dedos, etc.
• She Is Asleep, para voz e piano
preparado
• Escrita em 1943, faz parte de uma
suíte inacabada, com diferentes peças, apenas duas delas concluídas. Nesta, que
seria a terceira da suíte, a voz no dueto deve utilizar métodos não
convencionais de produção da voz, sons a serem determinado pelo cantor.
• The
Wonderful Widow of Eighteen Springs, para voz e piano fechado
• Composição de 1942. O texto é uma
versão retrabalhada de uma passagem de "Finnegans Wake" de James
Joyce. Segundo o compositor, baseia-se em suas impressões da leitura desse
trecho. A linha vocal utiliza apenas três alturas melódicas (pitches), a voz
emitida sem vibrato. O piano permanece fechado e o pianista produz sons batendo
a tampa ou a outras partes do instrumento.
• Nowth upon Nacht, para voz e piano
• Peça de 1984, dedicada in memoriam
para Cathy Berberian. O texto é também de "Finnegans Wake" de James
Joyce, um trecho logo depois do usado em "The Worderful Widow..." – o
compositor indicava que as duas peças deveriam ser apresentadas uma após a
outra, sem pausa. A linha vocal é declamatória, e o pianista não toca nas
teclas, mas produz ruídos fechando a tampa do piano com o pedal de sustentação
pressionado.
• In a Landscape, para piano
• Peça de 1948, escrita para uma
coreografia de Louise Lippold, está certamente entre as peças mais acessíveis
de Cage. Nela, ressonâncias são sustentadas todo o tempo, com uso de ambos os
pedais. O resultado é muito suave e meditativo, lembrando ao mesmo tempo Erik
Satie e a música balinesa.
• Sonnekus², para voz
• Escrita em 1985 para voz solo. A
peça consiste em nove canções curtas, com textos, na forma de mesósticos, do
Primeiro Livro de Moisés, Gênesis. As melodias, pentatônicas, são cantadas de
jeito simples e popular. A partitura sugere pausas, nas quais a cantora circula
cantando músicas de cabaret de Erik Satie – "Je te veux", "La
Diva de l'Empire" e "Tendrement". O título faz referência à peça "Trois
sonneries de la Rose+Croix" (Três toques da Rosa-Cruz), de Satie. A
indicação de 'ao quadrado' (²) no título refere-se às nove letras da
palavra-chave ('sonneries') e aos nove poemas que compõem a peça. Neste
concerto, "Sonnekus²" será apresentada em versão para duas
vozes,Martha Herr cantando as canções biblicas e Sheila Minatti fazendo a Diva
de cabaret. Nesta peça participa ainda o importante percussionista John
Boudler: ele vai falar um dos textos da peça.
• 4'33'', para qualquer instrumento
ou combinação de instrumentos
• Esta é a célebre "peça
silenciosa" de John Cage. Emblemática em relação a seus conceitos sobre o
silêncio, nela os músicos executantes não produzem nenhum som durante toda a
sua duração, e tudo o que se ouve são os sons produzidos na plateia. A obra, a
mais conhecida e importante obra de avant garde do século 20, foi resultado da
destilação de anos e anos de trabalho com sons, ruídos e instrumentos
alternativos. Com ela, e com ela apenas, Cage rompeu com a história da
composição clássica e propôs que a ação primordial da execução musical não está
em "fazer música", mas em "fazer escutar".
• Litany for the Whale, para duas
vozes
• Composição de 1980, nela as
cantoras realizam uma série de 32 chamadas e respostas com textos associados às
letras W H A L E ('baleia', em inglês). Para cada uma das letras é determinada
uma altura específica. As vozes não usam vibrato e revelam pouca expressão. Há
quem veja na obra um sentido ecológico, uma preocupação de Cage com o destino
das baleias...
S
E R V I Ç O
Das
notas que ouviam cores surgiam
Sesc
Pinheiros
Quarta-feira,
28 de Novembro, 20:30 horas
Marta Herr & John Cage
Martha Herr, soprano
com
André Rangel, piano, e Sheila Minatti, soprano
Participação
especial de John Boudler em "Sonnekus²"
Programa
Obras
de John Cage (1912-1992)
• A
Flower
• She
is Asleep
• The
Wonderful Widow of Eighteen Springs
• Nowth
upon Nacht
• In
a Landscape
• 4'33"
• Sonnekus²
• Litany
for the Whale
Sesc
Pinheiros - Auditório (101 lugares)
Rua
Paes Leme 195, 3° Andar, Pinheiros, 3095-9400
INGRESSOS
R$
16,00
[R$
8,00, usuários inscritos, +60 anos, estudantes com carteirinha e professores da
rede pública; R$ 4,00, trabalhadores no comércio e serviços matriculado no Sesc
e dependentes]. Ingressos à venda na Rede Ingresso Sesc.
Duração:
~ 70 minutos
Indicação
etária: não recomendado para menores de 10 anos
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