quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Cinema e Música no Brasil de todos os santos




Muito antes da mágica dos irmãos Lumière em 1895,  o significado e a

função do que viria a ser a música do cinema já estavam nas obras de música
programática, dramas musicados e nas óperas. O cinema é também uma forma de
projeção em tela do teatro e seria acompanhado musicalmente de forma brilhante,
a dar variados significados às inúmeras ações, cenas e personagens. Mesmo antes
do cinema contar histórias, a música passou a fazer parte do cinema mudo. Em
geral eram mesmo os pianistas ou organistas improvisando sobre as imagens,
quando não se utilizavam de temas já conhecidos, para acentuar-lhes o espírito, o
clima, a emoção. O início da música no cinema foi marcado pela utilização de
inúmeras obras consagradas de compositores tais como: R.Wagner, E.Grieg,
L.V.Beethoven, R.Schumann, G.Verdi, G.Bizet, F.Liszt, entre tantos outros.  Desse
modo era realizada uma associação psicológica a determinadas obras e a scripts de
certas óperas. A atenção acabava por desviar-se da história do filme relacionando-o
com os temas dos dramas musicais ou de música programática, como é o caso de
Romeu e Julieta de P.I. Tchaikovsky. David W.Grifith (1875-1948), foi pioneiro não
apenas nas imagens, mas também no uso da música. No seu primeiro longametragem: Birth of Nation (O Nascimento de uma Nação, 1915), recorreu às obras
de L.V.Beethoven, R.Wagner e P.I. Tchaikovsky, o que seria repetido em
Intolerance (1916). Tanto sucesso fizeram seus dois filmes e respectivos  scores,
que estes logo seriam imitados, ou pela utilização  de música original ou pela
adaptação de temas a situações específicas.
A sonoridade do Recôncavo
 Enquanto isso no Brasil de todos os santos seria possível encontrar
evidências sobre a musicalidade em diversas circunstâncias históricas no
Recôncavo, região que entraria no século XXI como protagonista de uma nova
proposta audiovisual com o surgimento de uma universidade e um curso específico
de cinema na região. As sonoridades do Recôncavo seriam reveladas através da
oralidade e registros da memória com uma fusão entre os ritmos afro-brasileiros
com a teoria tradicional secular européia da música, criando uma sonoridade
multiétnica, especialmente a partir da formação do  primeiro grupo organizado: a Sociedade Filarmônica Erato Nazarena, em 1863. É nesta efervescência
multicultural que nasce o exímio clarinetista, maestro e compositor  Manoel
Tranquilino Bastos (1850-1935). Sua produção musical ao lado de outras tantas
de  Heráclio Guerreiro  e  Antonio Manoel do Espírito Santo – igualmente
maestros de filarmônicas do Recôncavo – era tão rebuscada quanto a feita na
Europa durante este período. Podemos atestar isto através da notícia dos prêmios
recebidos por Bastos e Guerreiro na Alemanha. Em 1870, Bastos cria a Lyra
Ceciliana – uma das 130 filarmônicas do Estado e uma das mais antigas. Além de
músico, o maestro Tranquilino Bastos colaborava com diversos jornais da cidade de
Cachoeira naquela época e destacou-se como um grande defensor da abolição da
escravatura. É possível encontrar na obra musical deste compositor afrodescendente, centenas de dobrados, marchas, frevos, polcas, valsas, música sacra,
árias para canto e hinos. Este acervo foi adquirido há trinta anos pelo Governo do
Estado da Bahia encontrando-se hoje disponível para pesquisas no setor de obras
raras da Biblioteca Central. Ficou marcada na história de Cachoeira a passeata
musical conduzida por ele em 13 de maio de 1888 que reuniu milhares de pessoas,
em sua maioria negros recém libertos, em comemoração a assinatura da Lei Áurea
pela Princesa Isabel.
Presente e futuro
 Neste cenário de grande tradição sonora e riqueza  cultural, não seria
possível deixar de se conectar o som à imagem (o que já vinha sendo feito de certa
maneira desde o surgimento do cinema com os irmãos  Lumière e posteriores
desenvolvimentos). De modo muito particular, o cinema e o audiovisual em
Cachoeira deu um grande passo para que se possa conquistar novos espaços e
desenvolver uma  intelligentsia sonoro-visual em níveis nacional e internacional,
através da primeira escola pública de cinema da Bahia no âmbito do curso oferecido
pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). Com a implementação
deste novo núcleo audiovisual, variados estímulos serão proporcionados para que o
Recôncavo possa seguir o seu destino cinematográfico. Esta região do nordeste
brasileiro é utilizada como pólo de produção de cinema há 40 anos. Centenas de
documentários, novelas, filmes de média e curta metragem, bem como produções
nacionais e internacionais de filmes publicitários  já foram produzidos. Podemos
concluir que o audiovisual é há muito tempo, forte parceiro do Recôncavo. 
 
Espera-se que a esta iniciativa possam ser agregadas outras de grande
relevância para a região, e que o Brasil possa se orgulhar de tantos outros Glauberes que com toda a certeza surgirão, frutos de um meio e condições
propícias. Isto certamente proporcionará novas perspectivas e possibilidades para
um maior desenvolvimento do cinema e do audiovisual no Brasil.

Andersen Viana*

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