Maestro fala pela primeira vez sobre polêmicas e diz que 'é preciso mudar'
A
direção da Fundação Teatro Municipal comunicou ontem aos integrantes da
Sinfônica Municipal planos de mudança nos quadros da orquestra. Ao final deste
ano, nove dos 112 músicos não terão seus contratos renovados, ou, no caso dos
concursados, serão realocados dentro da Prefeitura.
A mudança faz
parte de um processo mais amplo de reestruturação iniciado pela direção. Após o
cancelamento, há duas semanas, da montagem de O Ouro do Reno, que será
apresentada em versão de concerto, vazou para a imprensa na semana passada o
plano de união do Coral Lírico Municipal com o Coral Paulistano.
O Paulistano
foi fundado em 1936 por Mário de Andrade com o objetivo de fomentar a execução
de música brasileira. Sua união com o Coral Lírico tem sido alvo de críticas
nas redes sociais, feitas entre outros por antigos diretores do grupo, que
acusam a direção do Municipal de descaso com a produção nacional. Um
abaixo-assinado virtual, pedindo a manutenção do Paulistano como grupo
independente, foi criado na segunda-feira e, até o início da noite de ontem,
contava com mais de 2 mil assinaturas.
Em meio a tudo isso, o Municipal pediu à
prefeitura a instauração de uma sindicância interna que investigasse a suspeita
de sabotagem nas óperas Aida e Don Giovanni - uma história que levou a
polícia ao teatro e envolveu uma série de perfis falsos no Facebook, que
lideram desde fevereiro o coro de críticas à gestão de John Neschling como
diretor artístico.
Em entrevista exclusiva ao Estado,
Neschling, que ainda não havia se pronunciado sobre essas questões, defende as
medidas tomadas até agora e questiona críticas feitas sem "cara e sem fundamento".
Sobre o Coral Paulistano, afirma que há muito tempo ele não tem desempenhado o
papel imaginado por Mário de Andrade - e que a vida musical não pode estar
presa a historicismos simplistas, contra os quais brigou o próprio escritor. "Não
se trata de uma decisão autocrática da minha parte, o que resolvemos foi
estudar a possibilidade de união, que precisa ser aprovada pelo conselho
deliberativo da fundação."
O mesmo
procedimento, diz o maestro, deu-se com a decisão sobre a orquestra.
"Chamei todos os chefes de naipe e, depois, seus integrantes. Juntos
decidimos se havia ou não elementos que deveriam ser substituídos. A orquestra
está assumindo a responsabilidade sobre o seu futuro."
Sobre o coro
de descontentes, é contundente: "Para fazer do Municipal um teatro
moderno, temos que enfrentar o status quo que existe há cem, 50, 25 anos. É
algo entranhado, e qualquer mudança vai provocar reação de quem estava
acomodado e preferia deixar tudo do jeito que estava".
João Luiz Sampaio - O Estado de S.Paulo
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