Músicos que saíram após audições em
2011 voltam ao Coral Paulistano; pedido foi feito pela Câmara Municipal
A Secretaria
Municipal de Cultura decidiu recontratar os sete cantores demitidos do Coral
Paulistano após audições realizadas no final de 2010 e início de 2011. A
recomendação de anulação das audições e de recondução dos artistas afastados
foi feita pelo presidente da Câmara dos Vereadores, José Américo, em ofício
enviado no dia 18 de setembro à secretaria.
Em nota
oficial enviada ao Estado, a secretaria confirma que “a solicitação inicial
partiu do vereador José Américo, presidente da Câmara Municipal de São Paulo,
que recebeu denúncias de irregularidades nas audições citadas e, ainda em 2012,
cobrou esclarecimentos ao Theatro Municipal sobre as audições”. “Em fevereiro
de 2013, houve nova denúncia protocolada por cantores desligados e, no último
dia 18 de setembro, o mesmo vereador solicitou formalmente a ‘recondução dos
cantores arbitrariamente afastados do quadro artístico do referido coral’, o
que foi acatado pela Secretaria Municipal de Cultura e pela Fundação Theatro
Municipal de São Paulo”, completa o texto da nota.
Um ofício
anterior já havia sido enviado em 30 de julho pelo vereador, que voltou a
escrever à secretaria em 18 de setembro. “Aproveitamos a oportunidade para
ratificar nosso pedido de anulação das audições e recondução dos cantores
arbitrariamente afastados do quadro artístico do referido coral. Acreditamos
que o momento seja o mais propício para tais providências, uma vez que, com a
contratação da Organização Social que vai trabalhar na Fundação do Teatro
Municipal de São Paulo, a forma de contratação dos artistas será alterada, o
que permitirá a recondução dos cantores ao trabalho”, diz o ofício.
As audições
para o Coral Paulistano foram marcadas no segundo semestre de 2010. Foram
realizadas duas provas. A primeira, em novembro, teria caráter apenas
informativo – e dos 42 cantores do Coral Paulistano, apenas 11 foram aprovados.
Os demais cantores voltaram a ser avaliados em fevereiro de 2011 em uma segunda
audição, esta de caráter eliminatório. E, dos 31 cantores, sete foram
reprovados e demitidos: Dênia Campos, Jan Szot, Kátia Rocha, Maria Aparecida
Camargo, Márcia Degani, Nelson Campacci e Vera Platt.
Os primeiros
questionamentos a respeito das audições no Coral Paulistano datam já de abril
de 2011, quando o deputado estadual Carlo Gianazzi pediu, em ofício enviado ao
Teatro Municipal, esclarecimentos a respeito do processo de seleção.
A medida foi
resposta a denúncias de que as provas não haviam seguido os critérios propostos
e teriam servido para retirar do grupo cantores que se opunham ao novo maestro
titular, Tiago Pinheiro, e sua assistente, Deborah Rossi. Também em abril, a
Comus, comissão de músicos do teatro, enviou carta à direção do Municipal na
qual afirma o “repúdio” da Orquestra Sinfônica Municipal às avaliações de
desempenho. “Essas audições, da forma como foram feitas e com os critérios de
pontuação adotados, vêm justamente aumentar o clima de insegurança e colocar em
risco o vínculo de confiança tão necessário entre a administração e os corpos
artísticos”.
Uma petição
pública foi criada na época pedindo a recontratação dos músicos e a abertura
das notas da banca examinadora e dos vídeos das audições, afirmando que
revelariam discrepâncias que seriam suficientes para provar perseguição. A
acusação também faz parte de documento entregue em fevereiro deste ano pelos
demitidos, que se dizem perseguidos por ter revelado e denunciado
irregularidades na condução na Associação Mário de Andrade, da qual fazem parte
artistas do Paulistano – cinco dos sete demitidos faziam parte da direção da
Amandra.
Em dezembro
de 2012, o procurador do Município Maurício Morais Tonin pediu esclarecimentos
ao Municipal, diante da “solicitação de informações enviada pelo sr. Vereador
José Américo acerca do processo de audições para a reavaliação técnico-musical
dos integrantes do Coral Paulistano”.
Em resposta
enviada a Tonin, a diretora do Municipal na época, Beatriz Franco do Amaral,
afirmou que as audições tinham como objetivo “elevar a qualidade artística”, o
que seria “corriqueiro em qualquer conjunto vocal ou sinfônico, sobretudo
quando os artistas são contratados com dinheiro público”. O texto diz ainda que
a direção “desconhece se houve gravação de audições e os motivos de sua
existência ou não, uma vez que audições são resolvidas dentro do âmbito
artístico e não caberia à administração opinar”. “As notas de todos os candidatos
e o julgamento de todos os membros da Banca foram entregues selados a esta
diretoria. (...) A fim de preservar os direitos individuais de candidatos que
não queriam que suas avaliações fossem expostas aos demais e que solicitaram
que as notas jamais se tornassem públicas, após o período de dois anos esta
diretoria destruiu todos os envelopes de todas as avaliações referentes à
segunda audição.”
Nas últimas
semanas, o Coral Paulistano tem sido pivô de polêmicas envolvendo o Teatro
Municipal. Em setembro, os músicos foram comunicados de que estudos estão sendo
feitos sobre o futuro do grupo, que poderia se juntar ao Coral Lírico
Municipal; passar para o Centro Cultural São Paulo; ou ser o eixo em torno do
qual vai surgir um novo projeto educacional da prefeitura.
Procurada
pelo Estado, Deborah Rossi, regente-assistente do Coral Paulistano na época das
audições, e líder informal de um movimento contrário à fusão dos coros, disse
que a recontratação se dá em um momento “curioso”. “Se o pedido foi enviado no dia
18 de setembro, por que só estamos sabendo dele agora? Quanto às audições,
acredito que faça parte do jogo. Não há nada pessoal contra esses sete músicos
e, se houve essa decisão, tudo bem. Mas há uma questão mais grave, que é o
futuro do Coral Paulistano. E isso não muda com a recontratação ou não dos
cantores. O que me parece é que existe uma tentativa de me desacreditar e,
assim, ao movimento que acabou se formando”, disse. O Estado procurou o maestro
Thiago Pinheiro, ex-diretor do coral, mas ele não atendeu às ligações feitas
pela reportagem.
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