Quem nunca gritou de alegria
quando começou a tocar sua canção preferida? Ou então se sentiu mais animado
depois que ouviu aquela música alegre? Ou ainda colocou uma musiquinha calma só
para relaxar? Pois é, dá pra sentir que a música faz bem para a alma. O legal é
descobrir que ela também faz bem para o corpo, ajudando inclusive no tratamento
de várias doenças. É isso que faz a musicoterapia.
Dá pra sentir no corpo as
alterações que a música causa: dependendo do ritmo, a respiração se torna mais
calma ou mais ofegante, a pressão sanguínea aumenta ou diminui, os batimentos
cardíacos se tornam mais fortes ou mais leves. E isso já foi comprovado em
vários estudos, como os divulgados pela American Music Therapy
Association-AMTA, dos Estados Unidos, e pela World Federation of Music
Therapy-WFMT, localizada em Gênova, na Itália.
Além disso, a música fala
diretamente ao sistema límbico do cérebro (região responsável pelas emoções,
pela motivação e pela afetividade), contribuindo para a socialização e até
mesmo aumentando a produção de endorfina. Por isso, pode ser usada no combate à
depressão, ao estresse, à ansiedade; no alívio dos sintomas de doenças como
hipertensão e câncer; e no tratamento de pacientes com dores crônicas.
Terapia da música
Reconhecendo todo esse poder
terapêutico da música é que surgiu a musicoterapia. A prática, que utiliza
músicas, sons e movimentos com fins terapêuticos, já é adotada em diversos
hospitais, clínicas e centros de reabilitação para a integração física,
psicológica e emocional.
“No Brasil, a maioria das APAEs e
Centros de Reabilitação utilizam a musicoterapia como parte de seu trabalho.
Ela vem sendo implantada nos Centros de Referência de Assistência Social e nos
Centros de Atendimento Psiquiátrico para adultos e crianças, e também nos
Hospitais e Centros de Neurologia, em ONGs e em escolas especiais”, aponta a
musicoterapeuta Magali Dias, secretária geral da União Brasileira de
Associações de Musicoterapia-UBAM.
A musicoterapia ainda é utilizada
em empresas, para melhorar o desempenho dos funcionários, em spas, para
auxiliar na redução da ansiedade, em escolas, ajudando na concentração e no
aprendizado dos alunos, e em centros de atenção aos idosos, contribuindo para a
socialização e para a prevenção e tratamento de doenças.
Trilha sonora
Um dos pontos mais interessantes
da musicoterapia é que não há uma receita pré-definida de tratamento. A terapia
é estabelecida em conjunto com o musicoterapeuta e o paciente, de acordo com
suas necessidades e seus objetivos. E é o próprio paciente que escolhe as
músicas, segundo seu próprio repertório pessoal. Isso permite que tenha uma
maior interação com suas emoções e, caso a terapia seja em grupo, a aproximação
com o coletivo.
“A música ou o ritmo escolhido é
aquele que vem da solicitação do paciente, do usuário ou do aluno. Não existe
uma música para isto ou para aquilo outro. A música tem que ter significado
para quem a escuta e trabalha com ela”, destaca Magali.
Muitas pessoas acreditam que há
um ritmo certo para cada função: relaxar, animar, ou até ajudar a se
concentrar. Mas não é bem assim. O repertório pode ser variado, indo do rock ao
jazz, passando por moda de viola ou MPB. Isso porque as músicas são escolhidas
pelo paciente, e vão depender do seu gosto.
“As músicas só fazem efeito se
elas têm uma conexão especial para quem as ouve. Podemos usar diferentes tipos
de ritmos, do erudito ao rock. Não há uma regra preestabelecida e nem uma
receita pronta dizendo use tal ritmo para isso ou aquilo, mas sim uma sintonia
entre cliente e profissional”, afirma Cláudia Murakami, pedagoga e
musicoterapeuta da Vita Clínica.
Depois de estabelecido o
repertório, o tratamento é feito em uma sala especial, com acústica adequada, e
as sessões (individuais ou em grupo) incluem música e recursos sonoros variados
como vozes, instrumentos e ruídos. O musicoterapeuta avalia então a reação do
paciente diante de cada som, documenta tudo e vai comparando os resultados com
seu projeto inicial. Os resultados, de acordo com os profissionais, já podem
ser sentidos logo após dez dias.
Música no combate a doenças
A musicoterapia vem sendo muito
utilizada no combate ao estresse. Isso porque, como fala diretamente ao
emocional, ela ajuda a relaxar e promove uma sensação de bem-estar. “A música,
quando é relaxante para a pessoa, ajuda muito a combater não somente o
estresse, mas também ansiedade, angústia, depressão e insônia, pois faz com que
o cérebro libere endorfinas e serotoninas, proporcionando prazer e sensação de
bem-estar”, explica Cláudia.
Além disso, um estudo apresentado
este ano na American Society of Hypertension-ASH, apontou que a música pode até
mesmo baixar a pressão arterial e o ritmo cardíaco – o que traria outros
benefícios além do relaxamento, como ajudar no tratamento de hipertensos e
atuar na prevenção de doenças cardiovasculares.
A música também vem sendo uma
grande aliada no tratamento da dor. Pesquisa realizada pela Cleveland Clinic
Foundation, nos Estados Unidos, comprovou que ouvir música pode ter efeitos
benéficos no tratamento de dores crônicas, como as causadas pelo câncer. Por
isso a musicoterapia já está sendo usada pelo Grupo de Apoio ao Adolescente e à
Criança com Câncer-GRAAC como parte do tratamento. “O que ocorre é a troca do foco da dor, ou
seja, afasta-se da mente a sensação de dor e diminui-se gradativamente a
ansiedade que a dor provoca no paciente”, explica Cláudia.
Apesar de ouvir música ser
prazeroso e relaxante, é importante ressaltar que não dá pra fazer musicoterapia
sozinho em casa. Isso só é alcançado com o trabalho com um profissional. “Só um
musicoterapeuta pode conduzir uma sessão de musicoterapia, senão será apenas
uma recreação com música. Nossa formação é voltada para que tenhamos todas as
ferramentas teóricas e práticas para desenvolver este trabalho”, enfatiza
Magali.
Mesmo sem efeitos terapêuticos,
ouvir música apenas por lazer ou relaxamento também tem efeitos benéficos. Como
cada pessoa tem seu próprio repertório musical (aquelas músicas que de alguma
forma marcaram nossa vida) é possível fazer uma coletânea com as que lembram
momentos especiais e prazerosos (como o primeiro beijo, aquela viagem
inesquecível, o nascimento de um filho) e ouvir em casa, no trânsito, ou mesmo
durante uma pausa no escritório. Especialistas apontam que isso ajuda – e muito
– a restabelecer a calma e o bem-estar.
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