A
maioria dos 500 entrevistados se consideram realizadores de projetos (25%),
responsáveis por tirá-los do papel, mas carentes de estrutura e apoio (22%),
que acreditam que têm uma atividade difícil, que exige muita dedicação e
esforço. 19% têm clareza sobre suas atribuições e se veem executando o trabalho
com ética e postura profissional.
Mas
os produtores culturais são iguais em atitudes e crenças?
Considerando
como percebem a atividade, o mercado e seu próprio trabalho, a pesquisa propõe
uma classificação em cinco perfis: o idealista (32%), o desiludido (28%), o
alienígena (18%), o profissional (13%) e o produtor por acaso (9%).
O
idealista acredita na cultura como meio de transformar a sociedade e acha que
investir na área significa fazer arte. Afirma ter compreendido que grande parte
da sua dificuldade em conseguir patrocínio para seus projetos é não conhecer
marketing, comunicação e economia.
O
desiludido vê as empresas como rivais e não como parceiras. Tem muita
dificuldade na comercialização de seus projetos porque não compreende que há
uma lógica para o patrocínio. Alega não ter tempo para planejamento e acredita
que o produtor cultural tem que ser um bom executor de tarefas.
O
alienígena tem a cultura como um meio de vida. Não entende a paixão pela profissão
como essencial para exercê-la. Também não tem um posicionamento definido em
relação ao mercado e se envolve pouco com investidores. Ele é o próprio
negócio: exerce todas as funções, produtor, empresário e administrador, o que o
leva a ter dificuldade em trabalhar com equipes.
O
profissional compreende sua relação com o patrocinador, enxerga parceria.
Acredita que o investidor entende o valor cultural e que está interessado em
vários tipos de projetos e não apenas com o marketing da empresa. Mais voltado
para o planejamento e menos para atividades burocráticas e operacionais.
O
produtor por acaso começou na atividade por uma oportunidade. Viabiliza seu
trabalho por meio da prática, do operacional. Assim, não valoriza o
planejamento nem a formação acadêmica. Não exerga a cultura como um meio de
transformação da sociedade, portanto é o menos envolvido com projetos que
tenham continuidade.
Para
Kuru Lima, diretor executivo da Cria! Cultura e diretor de programas como o
Conexão Vivo, de maneira geral, existem esse diferentes tipos de produtores no
Brasil. “Mas, como toda classificação e tentativa de enquadramento, possui
limitações, não pode ser levada ao pé da letra. Há características mais
acentuadas, tais quais as descritas, mas existe também nuances de cada perfil
em cada produtor”, alerta.
Para
ele, talvez não haja um produtor “puro sangue” dentre os cinco perfis
sugeridos. “Dependendo do seu momento de vida e do projeto em que se encontra
envolvido, cada um desses perfis pode estar mais aflorado. Acredito no
profissional de produção em permanente processo de transição e evolução”, diz.
Erik
Heimann Pais, assessor artístico do Conservatório de Tatuí, concorda. “Apesar
de enxergar sim, em um primeiro momento, esses cinco diferentes perfis nos
produtores culturais, tenho me deparado frequentemente com os que apresentam
mais de uma das características ao mesmo tempo. Por exemplo, são comuns os
contatos de produtores ‘idealistas-por acaso’ ou ‘alienígenas-desiludidos’”,
conta.
Ele
explica que, em geral, pela pauta do Conservatório de Tatuí não ser considerada
atrativa comercialmente, mas sim como meio de promover o trabalho pelo circuito
cultural-artístico do Estado, ele se relaciona constantemente com produtores
idealistas e envolvidos em projetos culturais sem fins lucrativos, com alto
índice de paixão e envolvimento com o projeto. “É notável a diferença entre os
produtores dessa linha de atividade cultural com os produtores profissionais de
artistas e/ou espetáculos comerciais.”
Contextos
- Para Erik, produtores-artistas e produtores que possuem um envolvimento com o
projeto que produzem são muito melhores de trabalhar do que aqueles que só
visam o lucro que pode ser obtido pelo espetáculo. Por outro lado, os mais
difíceis de trabalhar são aqueles que, apesar de trabalharem profissionalmente,
não possuem formação, estratégia e muitas vezes, bom senso. “A
imprevisibilidade advinda da insegurança do profissional que não sabe ao certo
o que fazer, porém se esconde atrás do status de produtor, é de longe a mais perigosa
para a boa execução de um projeto artístico-cultural”, alerta.
Para
Kuru, é preciso olhar o ambiente, o contexto, o específico. “Assumindo que
podemos classificá-los da forma sugerida, cada um deles terá um papel
importante para um determinado projeto ou momento de um grupo artístico,
comunidade, empresa”, afirma.
Ele
aponta ainda que a implantação de uma ação, projeto, programa ou política
cultural exigirá profissionais de produção com múltiplas inquietações e
habilidades. Além disso, outras características interpessoais ou
comportamentais podem ser igualmente importantes ou complementares, como
resiliência, fidelidade e alteridade.
“Expertise
não se limita ao universo da erudição. Não é melhor o produtor excelente em
gestão administrativa e planejamento que aquele extremamente eficiente na
execução de determinada função prática. Na maioria dos casos, são profissionais
complementares. A complexidade está em alocar tais recursos e combiná-los
corretamente, convocá-los para exercer determinados papeis aos quais se
enquadram ou não, ou ainda, financiar projetos adequados a seus perfis.”
Ele
exemplifica: um produtor que melhor se relacione e mais compreenda a dinâmica
do investimento cultural privado, e, portanto, capaz de obter grandes
financiamentos, pode não ser o que maior eficácia possua no atendimento de
demandas culturais legítimas de um determinado setor cultural ou comunidade.
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