sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Um balanço crítico.



Caros Leitores,

Mais um ano se finda e continuamos juntos, o que nos envaidece e alegra.

Este ano foi um ano incomum para o Voz Ativa, que perdeu precocemente um dos pilares do projeto, o baixo Flávio Augusto. Não pertencia mais ao grupo de cantores, mas participava ativamente de questões em que sua colaboração se tornava necessária.  Havemos então de agradecermos por termos tido a oportunidade de seu convívio.

Tivemos, no decorrer desse ano, importantes acontecimentos e contratos.

No final do ano, a partir de meados de setembro nossa agenda foi bastante solicitada e chegamos ao último mês do ano fazendo uma média de 07 apresentações por semana, se considerarmos concertos, apresentações e os dias em que o grupo trabalhava na Av. Paulista, não as intervenções, se as considerássemos o número subiria para aproximadamente 52 apresentações por semana. Infelizmente, por razões que fogem do nosso entendimento, como foi noticiado no facebook e em alguns periódicos, fomos impedidos de terminarmos nosso contrato com o Banco Itaú por conta de uma sentença do Ministério Público (leia matéria do dia 20 de dezembro neste blog).

Todos os anos damos detalhes numéricos de nossa trajetória durante o período, mas este ano quero reconstituir o ano que ora se finda com olhar crítico de quem faz e vive de arte em nosso país.
Sob qualquer foco que se de como analítico relativo ao trabalho do Voz Ativa a fim de torna-lo objeto de base para planejamento futuro, não podemos lamentar, se não por fatos isolados, o resultados alcançados.  A parte estatística está mais do que resolvida, e se não para pouquíssimas pessoas este resultado tem efetiva importância. Mas a arte, embora seja a fonte de renta do nosso trabalho, cambaleia perigosamente no que diz respeito a dar mínima sustentação a grande parte dos que dela se ocupam.

Não vamos aqui apontar os graves e constantes problemas que acumulados fazem da profissão músico no Brasil uma atividade quase utópica. Somente os que creem verdadeiramente no que fazem se lançam nesta maratona diária na busca de rendimentos oriundos somente de seu trabalho com arte. Estes todos estamos mais do que familiarizados, mais do que conscientes. Penso que estamos em momento propício para iniciarmos um movimento de juntarmos esforços objetivando propor alternativas que resultem em consistentes bases para uma plataforma que sustente a profissão músico no Brasil.

Nossa classe não é efetivamente formada por músicos, é formada por cantores, violinistas, violonistas, trambonista, pianistas, organistas, enfim, se analisarmos é uma das classes mais desunidas do profissionalismo brasileiro. O que parece importar é que consigamos um cache e que se o colega não conseguiu é problema dele, como se fosse possível conseguir todos os caches que aparecem, desta forma somos um dia privilegiados e outros reféns do que estabelecido está. 

De imediato não nos iludamos de que o valor do cache é o principal foco de um trabalho que busca os resultados que esperamos alcançar, é talvez o menor dos problemas, pois está mais do que provado que valor de cache tem muito a ver com “costa quente”, mas também com competência, e sabemos que uma das atividades que mais promove a possibilidade de charlatões auto se qualificarem profissionais é, talvez, a música.

Precisamos sim de uma representatividade organizada que nos permita reconhecermo-nos representados e os órgãos que se propõe a esta tarefa atualmente estão fora desta possibilidade. Precisamos antes de tudo nos conhecer, músicos só conhecem músicos que fazem parte do seu nicho de trabalho e/ou se dedicam a mesma ocupação, assim cantores conhecem cantores, cordas conhecem cordas, metais conhecem metais, como determina a estrutura social, também nos dividimos em tribos e, por conta disso, nos tornamos mais fracos.

É uma proposta que possivelmente pouco aproveitaremos do produto e nenhum de nós colherá todos os frutos, mas não é de nós que estamos falando, nós já nos acostumamos com a sempre “ovacionada” injustiça e prática orçamentária no que se refere à sustentabilidade da cultura e arte. Somos o produto do que estabelecido está, vivemos cotidianamente reclamando e deitamos a cabeça em nosso travesseiro preocupados com a terrível instabilidade que nos ronda permanentemente. Além dessa preocupação ao que parece a única que interessa é arrumar argumentos para continuar reclamando.

Não proponho milagre, proponho uma alavancada de dimensões preocupantes a quem tira vantagem da atual situação, de projeção reconhecida, um novo olhar sobre a nossa profissão. Um olhar que não assustem os pais quando os filhos manifestam vontade de serem músicos. Loucura, mas o primeiro quesito para ser verdadeiramente artista é ter um grau bastante considerável de loucura, ainda mais em se tratando de Brasil.

Se meu olhar se voltar somente para o projeto Voz Ativa Madrigal, talvez não identifique atualmente um momento propício para iniciar um movimento com esse objetivo porque hoje temos certa instabilidade no mercado o que de certa forma nos tira da lamentável posição da maioria absoluta dos músicos deste país.

Mas se me pedissem um conselho no sentido de iniciar ou não um projeto que se assemelha ao nosso não tenho certeza que incentivaria tal iniciativa dado aos muitos e desestimuladores percalços que lidamos até hoje simplesmente porque a própria população, por incrível que parece, não tem consciência que ser músico é uma profissão como qualquer outra e, porquanto, é necessário que se remunere o músico, prova disto é o número de pessoas que pedem para os músicos trabalharem de graça.

Não é causa própria, graças. É sim uma sincera preocupação em sairmos deste marasmo artístico que vivemos permanentemente, mas assumamos a nossa parte no descaso que permanentemente nos ronda. É necessário que nos articulemos certos de que a continuidade de nossa profissão não depende deste movimento, mas também certos de que podemos torná-la, quando nada, menos sacrificante.  Somos necessários tanto quanto são as mais almejadas ocupações profissionais deste país e somos sem dúvida uma das mais almejadas.

Precisamos que o ensino em todas as suas etapas ofereça ferramentas suficientes para que todos os cidadãos tenham referências que possibilitem que ele avalie se um trabalho musical é de bom nível artístico ou não, se é bem ou mal feito. Um dos nossos grandes problemas é que a população por não possuir estas referências trabalhos de nível duvidoso, apenas para ser educado, são vendidos por valores baixos prejudicando àqueles que se dedicam seriamente a esta atividade.

Se questionarem o que proponho como solução para tudo isto teria uma só resposta, proponho que juntos busquemos esta solução, não é tarefa fácil e muito menos breve, precisamos estar profundamente embasados para não desmoronarmos diante dos confrontos que certamente teremos, desde o dono do barzinho até poderosas instituições.

Estou disposto a dedicar parte do meu tempo para a causa, se alguém mais estiver proponho que nos articulemos a fim de levar a efeito o que tanto nos interessa, para isto basta que entremos em contato uns com os outros.

Todavia, para além de tudo o que aqui exponho e proponho esta o sincero desejo de que o próximo ano continue a nos engrandecer e com saúde, paz, tranquilidade, sinceridade, honestidade e amor nossos sonhos se tornem realidade. Feliz Ano Novo. 

Ricardo Barbosa
Dez/2012

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