Caros Leitores,
Mais um ano se finda e continuamos juntos, o que nos envaidece
e alegra.
Este ano foi um ano incomum para o Voz Ativa, que perdeu
precocemente um dos pilares do projeto, o baixo Flávio Augusto. Não pertencia
mais ao grupo de cantores, mas participava ativamente de questões em que sua colaboração
se tornava necessária. Havemos então de
agradecermos por termos tido a oportunidade de seu convívio.
Tivemos, no decorrer desse ano, importantes acontecimentos e
contratos.
No final do ano, a partir de meados de setembro nossa agenda
foi bastante solicitada e chegamos ao último mês do ano fazendo uma média de 07
apresentações por semana, se considerarmos concertos, apresentações e os dias
em que o grupo trabalhava na Av. Paulista, não as intervenções, se as considerássemos
o número subiria para aproximadamente 52 apresentações por semana.
Infelizmente, por razões que fogem do nosso entendimento, como foi noticiado no
facebook e em alguns periódicos, fomos impedidos de terminarmos nosso contrato
com o Banco Itaú por conta de uma sentença do Ministério Público (leia matéria
do dia 20 de dezembro neste blog).
Todos os anos damos detalhes numéricos de nossa trajetória
durante o período, mas este ano quero reconstituir o ano que ora se finda com
olhar crítico de quem faz e vive de arte em nosso país.
Sob qualquer foco que se de como analítico relativo ao trabalho
do Voz Ativa a fim de torna-lo objeto de base para planejamento futuro, não
podemos lamentar, se não por fatos isolados, o resultados alcançados. A parte estatística está mais do que
resolvida, e se não para pouquíssimas pessoas este resultado tem efetiva
importância. Mas a arte, embora seja a fonte de renta do nosso trabalho,
cambaleia perigosamente no que diz respeito a dar mínima sustentação a grande
parte dos que dela se ocupam.
Não vamos aqui apontar os graves e constantes problemas que
acumulados fazem da profissão músico no Brasil uma atividade quase utópica. Somente
os que creem verdadeiramente no que fazem se lançam nesta maratona diária na
busca de rendimentos oriundos somente de seu trabalho com arte. Estes todos
estamos mais do que familiarizados, mais do que conscientes. Penso que estamos
em momento propício para iniciarmos um movimento de juntarmos esforços
objetivando propor alternativas que resultem em consistentes bases para uma
plataforma que sustente a profissão músico no Brasil.
Nossa classe não é efetivamente formada por músicos, é
formada por cantores, violinistas, violonistas, trambonista, pianistas,
organistas, enfim, se analisarmos é uma das classes mais desunidas do
profissionalismo brasileiro. O que parece importar é que consigamos um cache e
que se o colega não conseguiu é problema dele, como se fosse possível conseguir
todos os caches que aparecem, desta forma somos um dia privilegiados e outros
reféns do que estabelecido está.
De imediato não nos iludamos de que o valor do cache é o
principal foco de um trabalho que busca os resultados que esperamos alcançar, é
talvez o menor dos problemas, pois está mais do que provado que valor de cache
tem muito a ver com “costa quente”, mas também com competência, e sabemos que
uma das atividades que mais promove a possibilidade de charlatões auto se
qualificarem profissionais é, talvez, a música.
Precisamos sim de uma representatividade organizada que nos
permita reconhecermo-nos representados e os órgãos que se propõe a esta tarefa atualmente
estão fora desta possibilidade. Precisamos antes de tudo nos conhecer, músicos
só conhecem músicos que fazem parte do seu nicho de trabalho e/ou se dedicam a
mesma ocupação, assim cantores conhecem cantores, cordas conhecem cordas,
metais conhecem metais, como determina a estrutura social, também nos dividimos
em tribos e, por conta disso, nos tornamos mais fracos.
É uma proposta que possivelmente pouco aproveitaremos do
produto e nenhum de nós colherá todos os frutos, mas não é de nós que estamos
falando, nós já nos acostumamos com a sempre “ovacionada” injustiça e prática
orçamentária no que se refere à sustentabilidade da cultura e arte. Somos o
produto do que estabelecido está, vivemos cotidianamente reclamando e deitamos
a cabeça em nosso travesseiro preocupados com a terrível instabilidade que nos
ronda permanentemente. Além dessa preocupação ao que parece a única que
interessa é arrumar argumentos para continuar reclamando.
Não proponho milagre, proponho uma alavancada de dimensões
preocupantes a quem tira vantagem da atual situação, de projeção reconhecida,
um novo olhar sobre a nossa profissão. Um olhar que não assustem os pais quando
os filhos manifestam vontade de serem músicos. Loucura, mas o primeiro quesito
para ser verdadeiramente artista é ter um grau bastante considerável de
loucura, ainda mais em se tratando de Brasil.
Se meu olhar se voltar somente para o projeto Voz Ativa
Madrigal, talvez não identifique atualmente um momento propício para iniciar um movimento com esse objetivo porque hoje temos certa
instabilidade no mercado o que de certa forma nos tira da lamentável posição da
maioria absoluta dos músicos deste país.
Mas se me pedissem um conselho no sentido de iniciar ou não
um projeto que se assemelha ao nosso não tenho certeza que incentivaria tal
iniciativa dado aos muitos e desestimuladores percalços que lidamos até hoje
simplesmente porque a própria população, por incrível que parece, não tem
consciência que ser músico é uma profissão como qualquer outra e, porquanto, é
necessário que se remunere o músico, prova disto é o número de pessoas que
pedem para os músicos trabalharem de graça.
Não é causa própria, graças. É sim uma sincera preocupação
em sairmos deste marasmo artístico que vivemos permanentemente, mas assumamos a
nossa parte no descaso que permanentemente nos ronda. É necessário que nos
articulemos certos de que a
continuidade de nossa profissão não depende deste movimento, mas também certos de que podemos
torná-la, quando nada, menos sacrificante.
Somos necessários tanto quanto são as mais almejadas ocupações profissionais
deste país e somos sem dúvida uma das mais almejadas.
Precisamos que o ensino em todas as suas etapas ofereça
ferramentas suficientes para que todos os cidadãos tenham referências que
possibilitem que ele avalie se um trabalho musical é de bom nível artístico ou
não, se é bem ou mal feito. Um dos nossos grandes problemas é que a população por
não possuir estas referências trabalhos de nível duvidoso, apenas para ser
educado, são vendidos por valores baixos prejudicando àqueles que se dedicam
seriamente a esta atividade.
Se questionarem o que proponho como solução para tudo isto
teria uma só resposta, proponho que juntos busquemos esta solução, não é tarefa
fácil e muito menos breve, precisamos estar profundamente embasados para não
desmoronarmos diante dos confrontos que certamente teremos, desde o dono do
barzinho até poderosas instituições.
Estou disposto a dedicar parte do meu tempo para a causa, se
alguém mais estiver proponho que nos articulemos a fim de levar a efeito o que
tanto nos interessa, para isto basta que entremos em contato uns com os outros.
Todavia, para além de tudo o que aqui exponho e proponho esta
o sincero desejo de que o próximo ano continue a nos engrandecer e com saúde,
paz, tranquilidade, sinceridade, honestidade e amor nossos sonhos se tornem
realidade. Feliz Ano Novo.
Ricardo Barbosa
Dez/2012
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