quinta-feira, 15 de outubro de 2009

A música e o canto na Igreja Nascente


O cristianismo nasceu da religião judaica, e foi dos judeus que recebeu: a Bíblia do Antigo Testamento, elementos de cerimonial religioso, salmos e hinos, bem como o costume de cantar nas assembléias em oração. Escreveu São Paulo numa de suas cartas: "Louvai a Deus com salmos, hinos e cânticos espirituais (Ef 5,19; Cl 3,16)". Logo, a Igreja nascente cantava. Com o mistério da fé centrado no Cristo, aos poucos foi criado seu repertório próprio e independente. Com a difusão do cristianismo no mundo helênico e no Império Romano, novos elementos culturais foram assimilados pelo canto dos cristãos. Lentamente a Igreja foi realizando maravilhosa síntese de três culturas bem diversas, conseguindo admirável unidade artística. A cristalização do repertório deu-se com o correr de vários séculos. O resultado foi a maravilha que conhecemos com o nome de Canto Gregoriano.

Fontes formadoras

As fontes formadoras do Canto Gregoriano foram principalmente as seguintes: 1) O canto ritual dos judeus, que contribuiu com o estilo de cantar "melismático", isto é, enfeitado. Ocorre principalmente no "jubilus", que é a parte de longos e variados vocalizos nos "Alleluia" do "Proprium" das missas.2) Os "modos" dos gregos. Da grande vaiedade existente, a Igreja se fixou nos atuais 8 modos gregorianos.3) O "cursus" da língua latina, que consiste na distribuição equilibrada dos acentos no discurso falado. No "cursus" não se toma como critério a sílaba tônica, mas a sílaba onga breve, à semelhança do que ocorre na métrica. Do "cursus" deriva o ritmo verbal, de vital importância no canto silábico. Há evidências de que as melodias gregorianas tiveram sua origem na extensão do acento da palavra latina. De onde se conclui ser grande equívoco passar as melodias gregorianas para a língua vernácula, onde os acentos são completamente diversos.

Quem foram seus compositores?

Os compositores das melodias gregorianas são quase sempre anônimos. Compunham para a "glória de Deus", e não para promoção pessoal. O que percebe é que são melodias nascidas de almas de mística profunda, que viviam na contemplação da grandeza, da majestade e da bondade de Deus infinito. O resultado foi a expressão da beleza na simplicidade, que tem impressionado os homens de todos os tempos. Todos precisam de Deus e mostram-se agradecidos quando alguém o aproxima nas formas singelas e acessíveis. Isso explica o vigor com que renasceu o interesse pelo Canto Gregoriano nesses últimos tempos. Lembra mesmo a palavra do salmista: "A minha alma tem sede de Deus (Sl 42, 3)".

Por que o nome "Canto Gregoriano"?

Por causa do Papa São Gregório Magno, que governou a Igreja de 590 a 604. Pessoas pouco informadas chegaram a pensar que o Papa São Gregório houvesse inventado o Canto Gregoriano. Já vimos que os compositores são anônimos e que o Canto Gregoriano foi se formando no correr de séculos. Em meio à grande profusão de material existente, Gregorio Magno desejava organizar a vida litúrgica da Igreja. Por isso colecionou tudo que lhe foi possível; selecionou o melhor e completou o que faltava, conseguindo "editar" livros completos para o ciclo litúrgico. O mais famoso de todos foi o "Antifonário", que por muitos anos se guardou acorrentado junto à Sé Apostólica. Uma vez realizada sua obra de pesquisa e edição, Gregório Magno a promulgou como norma e modelo para toda a Igreja Romana Ocidental. Para conseguir seu objetivo, o Papa fundou em Roma a célebre "Schola Cantorum", a Escola dos Cantores, onde se ensinava o canto "típico" de Roma, que dali se irradiava para todas as dioceses da Europa. Foram numerosos os mosteiros e abadias que enviaram a Roma algum "discípulo", que ao retornar realizava o trabalho missionário de ensinar o verdadeiro canto romano. Devido aos méritos de Gregório Magno, mais tarde chamou-se de "Canto Gregoriano".
Em sua "Schola Cantorum", Gregório Magno não apenas preparava futuros mestres de música. Ensinava também o "conjunto coral", que nos dias festivos se encarregava do canto na liturgia oficial da Cidade Eterna. Na "Schola Cantorum", além dos monges e dos jovens, havia os "Pueri Cantores", os Meninos Cantores, uma instituição que desde o Papa São Dâmaso vinha recebendo grande incentivo. Alguns contam que Gregório Magno pessoalmente ministrava certas aulas, e castigava com vara os meninos indisciplinados. Da "Schola Cantorum" de Roma veio o estímulo para diversas catedrais criarem grupos parecidos. Surgiram, pois, na Europa diversos grupos de Meninos Cantores. Alguns têm tradição multissecular; em certos casos, milenar, como o de "Regensburg".Os meninos Cantores revezavam com os monges o Canto do Ordinário da Missa, cantos estróficos, salmodias e responsórios.Dois séculos após a obra de Gregório Magno, o Imperador Carlos Magno impôs o uso do Canto Gregoriano a todas as Igrejas do Sacro Império Romano. Com esta norma realizou-se a admirável unidade no canto litúrgico da Igreja Católica, que perdurou mais de 1000 anos, até o advento do Concílio Vaticano II.

cantogregoriano.coolfreepage.com
em: 06.02.09

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