A história cultural brasileira nos oferece motivos mais do que suficientes para não crermos na competência dos administradores públicos no que tange a realização, promoção e/ou manutenção de projetos culturais e, por conseqüência, qualquer que seja a decisão que prevê ou determina ações que interrompam projetos de sucesso temos, num primeiro momento, a tendência em nos preocupar.
A notícia de que a Secretaria de Estado da Cultura interrompeu um projeto desta envergadura, ainda mais quando consideramos os significativos resultados até então alcançados é efetivamente preocupante. É mister que estejamos atentos ao produto do trabalho das Organizações Sociais que assumiram as atividades, projetos e corpos estáveis que estiveram sob a responsabilidade do CEM Tom Jobim no sentido de exigirmos que este seja, no mínimo, do mesmo nível do apresentado pela Organização Social que os geriu até este momento.
Fato é que depois que o Centro Tom Jobim assumiu a administração da ULM este promoveu substancial melhora no nível didático-pedagógico da escola de música, assim como elevou o nível artístico dos corpos estáveis daquela entidade, que, como bem aponta o Sr. Kunze em seu artigo publicado na seção “Contraponto” da Revista Concerto, edição de dezembro de 2008, estava em absoluto ostracismo.
É notório que o Festival Internacional de Inverno de Campos de Jordão teve admirável nível nas edições sob a responsabilidade do Maestro Roberto Minczuk, assim como é notório que em nenhum momento o Diretor-Editor da Revista Concerto, Sr. Kunze, desvinculou-se de precisas informações sobre o resultado do trabalho tanto do Centro Cultural Tom Jobim quanto do Festival de Campos. Entendo, contudo, que existe um outro olhar para o fato e um outro jeito de analisarmos o que lemos no artigo intitulado “Secretaria da Cultura fecha o Centro Tom Jobim”, já referenciado.
Comungo com o Sr. Kunze quando ele afirma que “Medidas como o fim do Centro Tom Jobim mereciam ser debatidas aberta e publicamente, até para garantir interesses públicos envolvidos na questão. Do modo que foram implementados significam um passo atrás no amadurecimento dos novos modelos de gestão das Organizações Sociais”, Assim como ele, não concordo que decisões que possuam interesses públicos sejam tomadas sem serem debatidas até que todos os interesses sejam atendidos. Decisões que não atendem este critério são retrógradas e antidemocráticas, mas, infelizmente, fatos como este são comuns não só na administração pública, haja vista a decisão absolutamente incoerente do Maestro Roberto Minczuk de tirar o canto coral e as demais atividades vocais do Festival Internacional de Inverno de Campos de Jordão. Neste sentido é possível concordar com o Sr. Kunze quando ele afirma que o Festival de Campos dirigido pelo Maestro Minczuk “reforçou sua orientação clássica” mas sua “missão pedagógica” foi profundamente prejudicada.
Vivemos num momento bastante prejudicado pela intervenção neoliberal em todos os nichos sociais, inclusive no acadêmico. Como resultado temos um nível de individualismo tão exacerbado que nos coloca em difícil situação social. Este individualismo faz com que predileções cultivadas a partir de interesses individuais se sobreponham ao coletivo. Em nosso entendimento tanto o Governo Serra, por meio de seu Secretário da Cultura João Sayad, quanto o Festival de Campos, na pessoa do Maestro Roberto Minczuk, atenderam a esta demanda.
Quando falamos em “excelentes níveis alcançados pela ULM e pelas orquestras” temos que considerar em relação a que o resultado é considerado excelente. Se comparado com o que se produziu antes e depois de o CEM Tom Jobim assumir a administração da ULM, não há dúvida de que os resultados foram excelentes e, como já explanado, é o mínimo que devemos exigir das novas gestões. Mas tanto a Santa Marcelina quanto a APAA (Assossiação Paulista dos Amigos da Arte) tem provado competência em seus resultados, sendo que a Santa Marcelina, fundada em 1929, é uma instituição que tradicionalmente mantém o resultado de suas instituições musicais em nível condizente com suas propostas. Neste sentido nos parece lúcido crer que estas instituições são capazes de elevar o nível ora apresentado.
Preocupa-me mais do que esta decisão outro produto do neoliberalismo acadêmico que prevê, por motivos óbvios, que o corpo docente de instituições como esta tenha instrução acadêmica no mínimo em nível de doutorado. Imposição questionável se tivermos como objetivo a formação de artistas e não acadêmicos da música.
Dado a maneira um tanto quanto arbitrária que a decisão foi tomada, juntamo-nos à torcida para que o resultado seja uma melhora no que já foi apresentado. Mas, para além da nossa torcida, está nossa obrigação de cidadãos que exige que acompanhemos as conseqüências desta decisão e sejamos criteriosos e imparciais em nossas avaliações.
Ricardo Barbosa
Regente e Idealizador do Voz Ativa Madrigal
Quem sou eu
quinta-feira, 4 de dezembro de 2008
Fim do CEM Tom Jobim, uma outra análise
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