Dia 22 de novembro é dia de Santa Cecília, padroeira dos músicos. De tabela, nós, os músicos (católicos ou não, cristãos ou não) ganhamos um dia só pra nós. Parabéns aos músicos! Mas não se trata de uma celebração exclusiva, e quem gosta muito de música (melhor, a ama) pode também tomar para si esta data tão especial.Mas por que, afinal, Santa Cecília se tornou a padroeira dos músicos?Curiosamente, não há nenhuma razão muito forte para isto. Tida pela Igreja Católica como santa, virgem e mártir, há mesmo dúvidas de sua real existência, já que suas principais hagiografias carecem de base documental suficiente para fazer de sua biografia um fato verdadeiramente histórico. Em todo caso, vale a pena conhecer um pouco da santa que roga por nós, pecadores, ops, quero dizer, músicos e afins.A hagiografia de Cecília conta que ela viveu na Roma da Antigüidade, sob o papado de Urbano I (175-230 d.C.), época na qual o Império Romano já vivia os sinais de sua decadência e o cristianismo ganhava cada vez mais adeptos (apesar da perseguição que sofriam).Conta-se que Cecília era filha de uma rica família romana, e foi prometida por seu pai em casamento a um certo Valeriano. Durante as bodas, enquanto os instrumentistas divertiam os convidados com música "pagã" (na verdade, a música cerimonial da religião politeísta romana), a jovem santa entoava cantos cristãos. "Senhor, guardai sem mancha meu corpo e minha alma, para que não seja confundida", é o texto de um dos cânticos atribuídos a Cecília. Esta é a única passagem musical presente em sua história.Durante a noite de núpcias, Cecília explica ao seu esposo sua condição de cristã e sua vocação para a castidade. Impressionado pelas palavras da santa, Valeriano pede uma prova da existência do Deus único. Cecília diz que apenas após sua conversão ao cristianismo é que ele poderia ter esta prova. Valeriano se batiza, e ao retornar para Cecília a encontra ao lado de um anjo, que coloca sobre a cabeça de cada um deles uma grinalda de rosas e lírios, consolidando a união casta e cristã do jovem casal.Valeriano convence o irmão, Tibúrcio, a se batizar, e juntos se dedicam à difusão do cristianismo. Perseguidos, os irmão são mortos por ordem de Almáquio, "prefeito" de Roma. O mesmo destino é reservado para Cecília, que em seu martírio sobreviveu três dias com a cabeça semi-decapitada por soldados romanos: a escultura de Carlo Maderno, foi realizada depois do artista ver o corpo incorrupto da santa. Detalhe, a escultura foi concluída em 1599!)Santa de grande popularidade durante a Antigüidade e na alta Idade Média, a íntima relação de Santa Cecília com a música só veio a se consolidar no século XV, quando a santa passa a ser oficialmente considerada a padroeira dos músicos.A cena das bodas pagãs de Cecília pode parecer insuficiente para que a ela seja atribuída a proteção dos músicos. Mas seu simbolismo é, em si, muito forte, pois ilustra bem o cerne da questão que caracterizará a música nos primórdios do cristianismo: o canto devocional (puro e simples) versus a lascívia da música instrumental dos cultos "pagãos".Independetemente de fé, uma proteção a mais nunca é demais. Assim, viva Santa Cecília! Ou melhor, viva os músicos, e que Deus, ou D'us, ou, va lá, os deuses e seus enviados nos protejam das forças do mal que sempre nos circundam, seja em forma de desafinação, seja em forma da crua e burra burocracia e mediocridade que insistem em nos sufocar. Vade retro!
Leonardo Martinelli
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