segunda-feira, 1 de junho de 2009

Concertos Matinais na Sala São Paulo

A cerca três ou quatro anos atrás, em uma conversa com o compositor Robson Cavalcante, um compositor pouco conhecido, mas muito talentoso que vive no interior de São Paulo em absoluto anonimato por conta de seu comprometimento com os seus princípios humanistas antagônicos a condutas praticadas pelo sistema social vigente, principalmente nas grandes metrópoles, ele expunha uma visão até então ignorada por mim sobre o projeto Osesp e todos os seus desdobramentos. Dizia ele que se sentia excluído porque não havia a menor possibilidade dele, que não era estudante ou aposentado, pagar os valores cobrados pelos ingressos para assistir os concertos pelos quais ele tinha interesse e as poucas vezes que veio a São Paulo e pretendia ir a um concerto não conseguiu porque grande parte dos ingressos já havia sido vendido antecipadamente para assinantes. Este modo de proceder, em seu entendimento, era uma maneira errônea de conduzir um projeto que tinha o financiamento baseado em verbas públicas, visto que tinha caráter excludente, ou seja, tratava-se de um processo elitista.
Embora eu tivesse concordado com seu ponto de vista, minha experiência apontava para um outro foco. Já participei de projetos financiados com verbas públicas que se propunham a oferecer graciosamente música erudita para a uma fatia social que não tinha acesso a esta música e o que se percebia era um desinteresse em assistir ou participar de atividades que envolviam estas expressões artísticas. Os motivos desta realidade são múltiplos, mas esta é a atual realidade, motivo pelo qual me posicionei com ressalvas para o que apontava seu olhar.
No domingo passado estive na Sala São Paulo para assistir um concerto dos Coros de Câmera e Sinfônico da Osesp. Tal concerto fez parte do projeto “Concertos Matinais” promovidos pela instituição aos domingos às 11H00 a preços mais que populares (R$ 2,00 inteira e R$ 1,00 meia).
A sala estava completamente tomada por um público heterogêneo tanto no que diz respeito à classe social quanto à faixa etária. Via-se idosos, crianças de colo, estudantes, adolescentes, jovens, senhoras, excursão de escolas e, pelo que pude perceber em conversas alheias, muitos cantores de corais amadores.
O programa tinha como tema o ano Brasil França, com repertório composto por obras de compositores franceses do período romântico e do século XX que, como sabemos, embora seja baseado em harmonia tonal, ela se apresenta mais complexa o que a distancia do padrão que a mídia disponibiliza e que, por conseqüência, pode causar estranheza a ouvidos não acostumados.
Ao final do concerto o que se viu foi o público ovacionando o grupo de cantores e sua Maestrina, Naomi Munakata, comprovando que quem estava naquela sala sabia por que e para que ali estava.
Aquela manhã me fez duplamente feliz, uma sala de concertos repleta de jovens, muitos deles humildes, para ouvir um concerto de canto coral é motivo de regozijo. Fico então pensando que Robson Cavalcante estava correto em seu ponto de vista, existia efetivamente uma fatia de interessados que estava sendo exlcuída dado a maneira como estava sendo conduzida a comercialização dos ingressos e feliz estou porque houveram pessoas na administração da Osesp que sentiram este desajuste e tornaram este tão significativo projeto em realidade.
Ricardo Barbosa

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