Um Coro bem afinado.

No mês em que completa 15 anos de atividades, o Coro da Osesp lança CD com obras de compositores brasileiros

Quem prestar atenção na programação de setembro da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, verá que nos dias 25 e 26 o Coro da Osesp lança seu primeiro Cd e faz um concerto em comemoração aos... 15 anos do Coro Sinfônico do Estado de São Paulo! Mas o que exatamente significa isto? Num final de manhã, após um ensaio, a maestrina Naomi Munakata e alguns dos artistas que integram o Coro da Osesp me explicaram a história.
Até 1994, o Estado não contava com um grupo vocal profissional e, quando havia necessidade de um conjunto, entrava em cena o Coral Jovem, ligado a Universidade Livre de Música. Ayrton Escobar, diretor da instituição à época, percebeu a necessidade de uma formação profissional e criou o Coro Sinfônico do Estado. Houve um concurso público e 80 cantores foram selecionados, tendo o maestro José Ferraz como seu primeiro regente. Mas já em 1985 Naomi Munakata assumiria o grupo, ainda como regente temporária.
Dois anos depois, aconteceu a reformulação do Osesp e logo passou a existir um relacionamento entre os dois grupos: o primeiro concerto da Nova Osesp, em 1997, no Teatro São Pedro, contou com a participação do Coro Sinfônico. O mesmo aconteceu em 1999, na já histórica inauguração da Sala São Paulo, quando a orquestra apresentou a Sinfonia nº 2 de Mahler. “Era um desejo de John Neschiling incorporar o coro à Osesp, e em 2000 isso se concretizou”, explica Naomi.
Com a transformação do Coro Sinfônico do Estado para Coro da Osesp, um novo teste foi realizado, selecionando apenas 30 menbros do antigo coral. Destes, onze compõem o Coro até hoje, justamente o simpático grupo com quem conversei: os cantores Heloísa Peterlevitz, Regina Ayres, Viviana Casagrandi, Maria Angélica Leutwiler, Mariana Valença, Mônica Weber Bronzati, Francisco Meira, Laércio Resende, Nibaldo Araneda, Silas de Oliveira e o pianista co-repetidor Fernando Tomimura.
Passar a interar a Osesp, contam, implicou em grandes mudanças. “as condições de trabalho melhoraram muito, sejam as condições físicas (os ensaios passaram do apertado prédio da ULM para a Sala São Paulo, com espaço próprio para o coro) com estrutura de apoio. Também houve um reajuste completo dos salários. Além disso, no antigo coral passamos por um longo período de instabilidade, achando que o coro poderia acabar de uma para o outro.” Com incorporação pela Osesp, os coralistas passaram a se prestadores de serviço e, há alguns anos, a situação foi regularizada com a contração via CLT. Artisticamente, o crescimento pelo qual o coro passou pode ser equiparado ao da própria orquestra.
Hoje o Coro da Osesp conta com 57 cantores e duas estruturas: o Coro Sinfônico, que engloba todos os membros, ensaia três vezes por semana e cuja programação é basicamente aquela que faz ao lado da orquestra; e o Coro de Câmera, com 40 cantores e que é responsável pela série própria do Coro. Naomi Munakata é coordenadora e regente titular de ambos.
Entre as principais realizações do grupo destacam-se as primeiras audições no Brasil de "Os sete portões de Jerusalém" de Krzysztof Penderecki, "Spring synphony" op. 44, de Benhamim Britten, e Belshazar’s feast, de Willian Walton. Também merece destaque a elogiada turnê por cidades espanholas em 2006.
Quando quero saber quais são as maiores qualidades do coro, Naomi responde sem hesitar: “É um coro afinado, homogêneo, versátil e ágil, já que todos os integrantes lêem partitura e isso faz co que possamos preparar as peças com maior rapidez.” De fato, já se tornou freqüente dentro do trabalho do grupo ouvir elogios admirados dos regenes convidados que vêm comandar a Osesp. “Os Maestros ficam impressionados também pelo fato de sermos um coro profissional especializado no repertório sinfônico. Em países com maior tradição musical o comum é haver corais especializados em ópera. Quando necessitam de coros para obras sinfônicas, as orquestras apelam para associações, universidades, locais que em geral possuem coros amadores de boa qualidade. A maioria delas não contam com um grupo como o nosso então este trabalho é, além de tudo, um privilégio.” Explica Naomi.
Mas, para além das virtudes artísticas, os músicos destacam outra qualidade: “ensaios com entusiasmo e vontade, o grupo é entrosado e nosso trabalho é feito num clima agradável para todos”. De fato, fica evidente a “afinação espiritual” que reina entre os integrantes – que fazem questão de frisar que esse entrosamenteo não se dá apenas entre coralistas, mas também entre estes e a regente. “Normalmente o maestro fica à parte, mas aqui não existe isso, somos todos amigos”, afirmam. “O único problema é que as vezes não consigo mandar, né?’, emenda, bem humorada, Naomi.
No primeiro cd do Coro da Osesp, optou-se em gravar apenas compositores brasileiros. São obras de autroes do Século XX e contemporâneos, incluindo algumas canções populares. Este repertório será explorado na segunda parte dos concertos. Na primeira, intitulada “Os aniversariantes” pedi para esse pessoal que está aqui, que são os que completam os 15 anos, escolher peças que gostassem ou que fosse marcantes para o coro”, explica Naomi, só confrmando o ótimo relacionamento que impera no grupo – hoje sem dúvida o melhor coro em atividade no Brasil

Por Camila Frésca
Revista Concerto Setembro de 2009 – Palco – pg 22