Maior casa de ópera da América Latina reabrirá no dia 25 de maio, festejando o bicentenário de independência da Argentina
O Teatro Colón, a maior casa de ópera da América Latina, está prestes a reabrir suas portas depois de nove anos de reformas, as maiores pelas quais passou desde sua fundação em 1908. O teatro volta à ativa com toda pompa no dia 25 de maio, data do bicentenário da Revolução de Maio, que marca o início do processo de independência da Argentina. E reabre com um programa que mistura dança e ópera: na primeira parte, o terceiro ato do balé Lago do Cisnes, com música de Tchaikovsky; na segunda parte, o segundo ato de La Bohème, de Puccini. Além de solistas convidados, sobem ao palco a Filarmônica de Buenos Aires, mais o Balé e o Coro do Teatro Colón. Ao longo do ano, astros da música clássica devem se apresentar na casa, como o maestro Zubin Mehta, o violoncelista Yo-Yo Ma e o regente e também pianista Daniel Barenboim, que é argentino.Para aqueles que não conseguirem convite para a noite de gala em maio, o secretário de Cultura de Buenos Aires, Hernán Lombardi, planeja colocar 10 mil cadeiras na Avenida 9 de Julio, com um telão na frente do Obelisco, o monumento-símbolo da cidade.
O Colón ainda lidera o ranking mundial de acústica lírica (seguido pela Semperoper de Dresden e o Scalla de Milão), segundo medição feita pelo Instituto Takenaka do Japão. Estrelas da ópera mundial sempre souberam que passar por lá era uma prova de fogo, pois qualquer erro seria logo percebido pelo público exigente.
Por esse motivo, os restauradores realizaram as obras com cautela, para evitar modificações na qualidade do som. O procedimento adotado foi o de "despir" (remover todos os elementos) a sala de ópera em diversas etapas para medir, a cada uma, o impacto acústico. Isto é, removiam as poltronas e mediam a acústica; retiravam o tecido que cobria os camarotes, e a acústica era novamente medida.
Por este motivo, os restauradores tentaram manter o mesmo revestimento têxtil de cortinas e poltronas (e o tipo de recheio destas), o tipo de assoalho, entre outros, para evitar qualquer alteração que pudesse modificar a famosa acústica do teatro. "O Colón possui uma das acústicas mais perfeitas do universo", afirma o filósofo e ensaísta Marcos Aguinis, ex-ministro de Cultura e autor do livro O Atroz Encanto de Ser Argentino. Segundo ele, "o Colón, metaforicamente, é um Stradivarius de incalculável valor".
A obra - que implica a reforma de 100% do teatro - gerou uma intensa discussão entre autoridades portenhas, arquitetos, especialistas em acústica, políticos da oposição e do governo. Os sindicatos do teatro aproveitaram a briga para acusar o prefeito Mauricio Macri de usar o fechamento do Colón para reduzir drasticamente o número de funcionários. Administrar o Colón não é fácil, já que nos últimos 30 anos, acompanhando a decadência econômica da Argentina, o teatro teve quatro diretores-gerais que morreram de enfarte enquanto ocupavam o posto.
A reforma começou em 2001. Mas, em 2006, perante a polêmica sobre o andamento dos trabalhos, o teatro foi fechado ao público, dando início a um intensivo plano de recuperação que mantivesse a essência arquitetônica do edifício. As obras inicialmente estavam previstas para concluir em 2008, centenário do Colón. Mas, perante a impossibilidade de cumprir com os prazos, as celebrações do centenário do teatro foram realizadas no Luna Park, espaço destinado a lutas de boxe e musicais, sem acústica adequada (é impossível qualquer apresentação ali sem microfones). Furioso, o maestro Daniel Barenboim, contratado para a ocasião, disparou: "A esses responsáveis e irresponsáveis, deixem de lado suas ambições, que são de pouco valor comparados com aquilo que o Colón representa.".
Arquitetos que guiaram o Estado em uma visita às obras admitiram que o estado do teatro antes da reforma era "terrível", com instalações elétricas antiquadas que mantinham o edifício em risco de incêndio. Goteiras estavam espalhadas em diversas áreas e havia inúmeros camarins inundados, em virtude do encanamento deteriorado. Hoje quinhentos operários correm contra o tempo para liberar a casa para os primeiros ensaios.
Fonte: Estadão
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