Em início de novembro passado, a diretora do teatro Beatriz Franco Amaral, durante visita guiada às obras do edifício (e relatadas aqui no Site CONCERTO), previa a reinauguração do TMSP para o dia 18 de março, data em que ocorreria o primeiro concerto da temporada 2011. Não há, até o momento, nenhum comunicado oficial, seja do TMSP ou da Secretaria da Cultura, informando sobre os novos prazos.
Além da morosidade da reforma do edifício (que está fechado há mais de dois anos), soma-se aos problemas do TMSP a situação da Orquestra Sinfônica Municipal (OSM), sem temporada de concertos ou óperas definidas, uma profunda crise artística e administrativa (por ora sobre controle com a nomeação de Klein), a ausência de uma sede física para a orquestra e a fragilidade trabalhista de seu corpo artístico e didático. Além disso, tramita na Câmara dos Vereadores – sem perspectivas de conclusão – uma controversa lei que pretende transformar o teatro em uma fundação de direito público.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista concedida por Alex Klein:
Sobre o adiamento da reinauguração
Fui informado no final da semana passada sobre o adiamento reinauguração do TMSP. Isso me pegou de surpresa, pois por três meses trabalhei de forma intensa, e a toque de caixa, na elaboração de uma temporada consistente para o teatro. Agora todo este planejamento foi pro lixo. Com o adiamento muita coisa agora ficou em aberto. Por exemplo, para ensaiarmos e apresentarmos a ópera A Valquíria, de Wagner, é necessário um grande uso do palco, que ao mesmo tempo deverá abrigar uma série de outras funções e espetáculos.
Sobre os problemas burocráticos
O teatro é uma grande confusão burocrática, e por isto é importante frisar que se o TMSP continua produzindo espetáculos isto ocorre apenas por força de vontade de alguns de seus integrantes, tal como os maestros Jamil Maluf e Mário Zaccaro, a Lara Pinheiro, do Balé da Cidade, e o os membros do Quarteto de Cordas da Cidade. Como a massa burocrática não está a serviço de seus propósitos artísticos, eles se vêem obrigados a fazer um pouco de tudo, quando deveriam estar preocupados exclusivamente com a parte artística. Isso rouba seu completo potencial artístico. Imaginem se eles pudessem se concentrar apenas nisso. O TMSP tem uma estrutura burocrática que aprisiona as pessoas. Há pessoas lá que não fazem a mínima ideia de como fazer uma temporada e gerir uma instituição musical, mas que nem por isso deixam de dar suas opiniões, e mesmo de tentar fazer valer suas opiniões. Eu me recuso a entrar nesse esquema do TMSP e até mesmo a morar, por ora, em São Paulo, apesar de na prática estar sempre lá e em constante contato com a equipe do teatro. Acho importante ficar um pouco de fora, ver as coisas com perspectiva, me manter à parte daquilo que chamo de “malha enferma”.
Acho importante ficar um pouco de fora, ver as coisas com perspectiva, me manter à parte daquilo que chamo de “malha enferma”.
Sobre a Fundação TMSP
Admiro muito o trabalho realizado pelo secretário Carlos Augusto Calil, pois na ala política ele teve a coragem de lutar pela Fundação. A Fundação é a única maneira de limpar a estrutura do TMSP, pois se cria um conselho gestor, que irá tomar decisões e ações com base em padrões empresariais, espero. Não é novidade saber como uma empresa funciona, ter departamentos e responsáveis por cada setor e cada um cuidar de seu serviço, “cada macaco no seu galho”. Isso ainda não funciona no TMSP. Tenho minhas esperanças na Fundação, apesar de não compreender completamente os processos jurídicos, pois estou focado na direção artística, e essa é minha função no TMSP. Em todo caso, acho importante que, seja lá qual modelo por fim for aprovado, que haja uma distinção bem clara das funções e obrigações a serem realizadas pela Secretaria da Cultura e pela direção artística do TMSP.
Sobre a OSM
Desde a gestão do maestro Karabtchvesky a OSM não tem uma liderança forte e, infelizmente, a orquestra está num estado lamentável. Mas lá temos excelentes músicos. Estamos iniciando um processo de reestruturação, que tem como ponto de partida a elaboração de um novo regimento (que estamos elaborando) estudando os regimentos de outras importantes orquestras do mundo, fazendo com que haja uma real participação dos músicos nesse processo, pois, particularmente, eu não trabalho com autoritarismo da mesma forma que também não acredito em democracia. Gosto sim de uma administração participativa. Ao assumir a OSM, de cara disse que não tenho lista de demitidos e não aceito lista de ninguém. Não farei audições internas, ninguém será demitido, e o maestro está, a partir de agora, proibido de fazer demissões arbitrárias. Outra coisa importante é fazer uma anistia geral. Não estou interessado em saber quem fez ou deixou de fazer o que, ou quem está lá por indicação de fulano ou saiu por ordem de cicrano. Começaremos tudo do zero. Além disso, estamos reorganizando a escala de trabalho e melhorando as condições de trabalho da orquestra, apesar de estarmos sofrendo muito com a falta de uma sede. Para recuperar a qualidade da orquestra, fazer com que os músicos adquiram uma identidade ela (algo que não é feito por um maestro), num primeiro instante estou programando muitas obras clássicas, apesar de aqui e acolá contrastarmos com coisas mais modernas. Estou trabalhando também com música de câmara. A orquestra está lá, viva, e um de seus grandes patrimônios são seus músicos que estão lá há mais de 30 anos. Em outras situações, músicos como esses foram vistos como vilões. Admito que alguns podem ter adquirido um pouco de pó ao longos dos anos, mas demiti-los e colocar um jovenzinho para tocar em seu lugar não é a solução. Precisamos limpar o pó para revelar o ouro que estava escondido por detrás dele.
Sobre a inexperiência com ópera
Acho que se esse tipo de inexperiência fosse um problema, todos os presidenciáveis deveriam ter renunciado às suas candidaturas, pois ninguém tinha sido presidente da república anteriormente. Mas, além disso, é importante lembrar que o TMSP não é um teatro só de ópera. Ele é um departamento da prefeitura que inclui escolas de música e dança, quarteto de cordas e corpos estáveis de música e dança. Mas, tal como uma presidência, há ministros, pessoas responsáveis por setores. Sou da área de música sinfônica, de câmara e da área pedagógica, e tenho uma intensa atuação na direção artística, o que me dá estofo para coordenar as diferentes frentes artísticas existentes no TMSP. Para levar adiante um projeto operístico para o Municipal contarei com assessores das mais importantes casas de ópera do mundo.Para ajudar o TMSP precisamos abrir a mente das pessoas, e é por isso que estou chamando os maestros assistentes do Bolshoi, do Metropolitan de Nova York, do La Scala de Milão (que também trabalha com o Barenboim em Berlim) para estabelecer conexões com essas outras casas. Para a nossa produção da Valquíria, de Wagner, que pretendemos levar em cena ainda este ano, chamei pessoas com ampla experiência para tocar este projeto do TMSP, isto é, o Luiz Fernando Malheiro como regente e o André Heller na direção cênica. Não entendo de tudo na música, não entendo de tudo de todas as áreas do TMSP e, francamente, fico com um pouco de suspeita com quem se disser um entendedor de tudo. O importante é ter o apoio das pessoas certas. Esta é uma das funções do diretor artístico.
Revista Concerto
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