segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Maestro Roberto Tibiriça

Em Entrevista ao Blog Ópera & Ballet, o maestro Roberto Tibiriça fala sobre sua mágoa com a Orquestra Sinfônica de Heliópolis e a evolução das orquestras brasileiras, entre outros assuntos.


BLOG – Maestro Tibiriçá, sua saída da direção da Orquestra Sinfônica de Heliópolis, longe de deixar seus admiradores tristes, deixa-os contentes porque sabem ser o senhor seguramente um pólo irradiante de excelência técnica e artística que nos garante, que para o senhor vá, teremos uma ótima orquestra. Quais são suas perspectivas imediatas?

Minha saída da Sinfônica Heliópolis foi muito triste. Não era simplesmente um emprego, era MINHA VIDA! No momento estou dedicando meu tempo entre a OSMG – Orquestra Sinfônica de Minas Gerais – onde instituí o Concurso para Jovens Solistas da OSMG e a OSSODRE – Orquestra do SODRE, Montevidéu. Minha preocupação com os jovens sempre foi uma prioridade. Sigo os passos do meu grande mestre Mto. Eleazar de Carvalho que, juntamente com Villa-Lobos, sempre se preocupou com a juventude.

BLOG – Com sua capacidade, o senhor soube transformar uma orquestra em que ninguém acreditava, a de Heliópolis, numa orquestra respeitadíssima, como ficou evidente na excursão internacional que a mesma realizou recentemente. Como senhor se sente diante dessa bela obra?

Como disse acima, minha vida nestes últimos 5 anos foi dedicada praticamente toda a esta orquestra e a este Instituto. A tournée pela Europa foi a conclusão de um trabalho de disciplina e muito estudo dos jovens. Para mim, um dos momentos mais emocionantes de minha vida. Ultimamente tenho ido ao FESNOJIV – Projeto de orquestras da Venezuela – e cada vez mais acredito que este tipo de projeto é o futuro para os jovens. É só darmos a oportunidade a eles de mostrar seu talento que eles desabrocham.

BLOG – Nas entrevistas que o senhor concedeu para a imprensa logo após a sua saída da Heliópolis o senhor se dizia frustrado porque tinha lhe parecido uma “demissão”, depois de seu belo trabalho. Ora, o pessoal da Música e da Ópera sempre foi reconhecidamente ingrato, nos o sabemos muito bem mas, tanto quanto o senhor, o Maestro Isaac Karabtchevsky que assume a direção da Heliópolis é muito prestigiado e respeitado, o que ameniza um pouco essa “troca-de-guarda”. Isso deixa mágoas?

Deixa mágoas sim, pois estes processos são feitos na "calada da noite". O que soube é que, enquanto estávamos na Europa, o Instituto já estava em conversações com ele. Depois de tantos anos e dedicação, não acho esta a melhor forma de se dizer "não o queremos mais"…

BLOG – Há trinta anos, o Brasil não tinha mais que 6 ou 7 orquestras enquanto nos Estados Unidos já existiam mais de 1.600. Guardadas as proporções, temos no Brasil hoje perto que 50 orquestras e algumas, muito boas. Como o senhor vê isso?
Vejo com muita alegria! O Brasil tem proporções continentais. Deveria ter muito mais orquestras.
Veja por exemple Minas Gerais. Foi criada a excelente Orquestra Filarmônica, com meu afilhado Mto. Fábio Mechetti. Mas, a Orquestra Sinfônica continua seu papel de formação de público. Estamos partindo para um novo horizonte da ópera e de concertos populares como Concertos no Parque, Sinfônica Pop (com músicos de excelência da MPB), a ópera sempre presente e a Sinfônica na Estrada, percorrendo o imenso território mineiro. Temos que criar mais orquestras e grupos corais. A música eleva a alma e torna as pessoas mais sensíveis.


BLOG – O Maestro Neschling está sendo precursor de um tipo de atividades que, achamos, ainda não explodiu no Brasil: a Ópera. Nunca tivemos tantos musicais sendo representados por aqui como agora e as pessoas certamente, irão querer algo mais sofisticado, chegando na perfeição da Ópera. O senhor pensaria em enveredar por este caminho, suprindo os muitos teatros que estão surgindo no Brasil, com espetáculos de Ópera?

Com certeza! O papel principal do Palácio das Artes, em Belo Horizonte, é a ópera. Este espetáculo é completo. Temos música, dramaturgia, cenografia, dança, etc. Acredito que a ópera pode atrair muito público novo. Mas, temos que tomar cuidado com as produções. Muitos libretos podem transformar o espetáculo em uma apresentação ridícula, pois são histórias criadas em uma época que não havia toda esta tecnolocgia. Enfim, era um mundo muito diferente deste de hoje. Portanto, as produções e direções cênicas devem ser feitas com muita inteligência e bom gosto. Aliadas a uma boa direção musical, acredito ser a ópera o maior espetáculo musical que pode atrair uma massa de pessoas à música erudita.

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