quinta-feira, 5 de março de 2009

05 DE MARÇO, DIA NACIONAL DA MÚSICA CLÁSSICA NO BRASIL

Hoje, 05 de março é a primeira vez que se comemora oficialmente o Dia Nacional da Música Clássica no Brasil. Não há como considerar errada, porque o termo é aceito inclusive formalmente como correto, desta maneira classificar como inadequado também não seria próprio, penso que o termo que melhor traduz meu incomodo com a titulação dada ao gênero musical homenageado neste dia é “infeliz”. Em minha opinião, por conta da denominação de um dos períodos históricos da música, melhor seria intitular esta comemoração como "Dia Nacional da Música Erudita".
Não posso dizer que não há o que comemorar, temos, por exemplo, iniciativas que continuam criando oportunidades para quem pretende se dedicar a música erudita. Temos atualmente uma das mais respeitadas orquestras sinfônicas do mundo entre outros corpos estáveis atuantes como a Banda Sinfônica do Estado de São Paulo, a Orquestra e os Corais Paulistano e Lírico do Teatro Municipal de São Paulo, o COSESP (Coro da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo), a Orquestra Sinfônica de Campinas, de Santo André, de São Caetano, todos estes corpos e outros que eventualmente não citamos, são profissionais. O Coral do Estado de São Paulo, grupo estável profissionalizante. Temos iniciativas importantes como o Coralusp e o Collegium Musicum de São Paulo, tradicionais e competentes núcleos musicais amadores. No entanto, não podemos esquecer que estamos falando de São Paulo, mas será que o Brasil todo tem mesmo o que comemorar nesta data?
Ao me dedicar a analisar a atual situação da música erudita no Brasil me deparo com problemas antigos que, seja por descaso ou por incompetência, se perpetuaram. Mas o que mais me chama a atenção é o quanto o brasileiro gosta de música e o quanto isto é explorado inadequadamente.
O governo marca presença com atos como o de tirar a matéria música da grade curricular escolar e agora decreta a volta da matéria sem ter recursos humanos para cumprir tal lei. Mas atrapalhadas governamentais são tão constantes que não nos surpreendemos mais, no entanto sempre deixam um sabor de indignação na boca.
Certamente o que mais me surpreende e causa indignação são pessoas que se autorizam a ocupar cargos e assumir funções das quais não tem o menor preparo. Na música erudita é tão comum me depararar com tal situação que vivo quase constantemente em estado de indignação. Professores de canto, de instrumento e regente coral são funções nas quais rotineiramente me deparo com pessoas com esta postura.
Lembro-me de certa vez em que eu, num daqueles momentos de pesar na consciência por estar totalmente sedentário, fui até uma academia e me matriculei. No primeiro dia, em meio às minhas atividades físicas o instrutor, depois de ouvir que entre as minhas preocupações estava o aumento de peso, me orientou diminuir drasticamente a ingestão de água para perder peso. Desnecessário dizer que foi a primeira e a última vez que fui a tal academia.
Da mesma maneira já ouvi pessoas afirmando coisas absolutamente incoerentes sobre música por conta de orientação imprópria.
Mas como é possível isto acontecer? Porque isto acontece? Aponto dois fatores importantes que possibilitam tais condutas. O primeiro é a total falta de referência que o brasileiro tem com relação a música erudita, que é tratada por muitos cidadãos com certo preconceito. O segundo é que a demanda é maior que a oferta, muita gente querendo apreender e pouca gente preparada para ensinar.
No entanto, não são somente as pessoas que estão à mercê destes pseudos-profissionais que se prejudicam, os verdadeiros profissionais também visto que tais pessoas, justamente por não serem profissionais, não sabem o quanto vale o trabalho de um profissional da área e oferecem seus serviços por valores absolutamente impróprios, fazendo com que profissionais realmente preparados não se interessem por atuar em certos seguimentos, o que trás real prejuízo aos interessados.
Se nos atentarmos aos corpos estáveis profissionais apontados aqui, verificaremos que em sua totalidade são sustentados por verbas públicas e todos sabemos que verbas públicas são gerenciadas por políticos que ocupam cargos através de conchavos e favores que, por conseqüência, passam ocupar tais cargos sem nenhuma competência para desenvolver funções inerentes à pasta e, por conseguinte, os músicos estão diretamente subordinados a pessoas sem nenhum conhecimento o que promove mediocridade ou mesmices como produto final.
Existem também os músicos que ocupam cargos por conta do transito político e não por competência, embora reconheçamos que existam músicos que se utilizam destes recursos, mas são competentes.
Dado ao exposto, podemos afirmar categoricamente que existe mais incopetências do que competências nesta área.
Mas volto a afirmar, não podemos esquecer que estamos falando de São Paulo, o mais importante estado brasileiro e da cidade de São Paulo que está entre as seis maiores e mais importantes metrópoles do mundo. E no resto do Brasil como anda a música erudita?
Parece-me lógico que antes de comemorar tal data temos por obrigação tornar real e sedimentar o gênero no Brasil inteiro. Como afirmamos, estas atrapalhadas governamentais são constantes.
A mim cabe cumprimentar os verdadeiros profissionais e solicitar àqueles que pretendem se profissionalizar se ocupem efetivamente da tarefa de se tornarem verdaderios profissionais.

Ricardo Barbosa
Regente, idealizador e fundador do Voz Ativa Madrigal

Nenhum comentário: