Uma música sem sabor chucrute (ou: o início do século XX
musical)
Na segunda metade do século XIX, o Romantismo, havia duas
grandes tendências na música francesa e praticamente em toda a cultura
ocidental: o wagnerianismo e o operismo italiano. Claude Debussy (1862 – 1918),
excelente pianista e pretenso compositor, então na casa dos 20 anos, ao mesmo
tempo em que frequentava Bayreuth e se emocionava com as musicalização feitas
das tradições românticas por Wagner, sentia um enorme desejo e mudar aquilo tudo,
de conduzir a cultura francesa para novos horizontes para novas gramáticas e
estéticas composicionais. Sem saber bem com sair da “camisa de força” do Conservatório
de Paris, no qual estudada cujos mestres se dividiam entre essas duas
estéticas, Debussy obtém o Prêmio de Roma para permanecer três anos na cidade
(1885). A experiência na capital italiana, em vez de apontar caminhos para as
inquietações dele, o angustiou ainda mais. A vida musical da cidade se mostrou
igualmente reacionária, as competições operísticas atavam seus nervos, e todo
aquele gigantismo, aquela orgia arquitetônica no jardim do Vaticano passava a
ideia de “um histérico misticismo e uma grande farsa”. Debussy voltou mais cedo
a Paris, rompeu com o Conservatório e optou por uma modesta via de pianista,
professor e acompanhador.
Dois acontecimentos no final da década de 1880 e início de
1890 mudam a vida dele e contribuem decisivamente para a formação de sua
personalidade, apontando os caminhos da música do futuro: a Exposição
Internacional de Paris de 1889 (comemorativa dos 100 anos da Revolução Francesa)
e seu encontro com o Margina Erik Satie, pianista do famoso cabaré Chati Noir.
A exposição levou a Paris manifestações artísticas d doo
mundo, e Debussy y se encontrou com a ala oriental, ficava fascinado,
permanecendo dias inteiros diante dos espetáculos musicais da ÌNDIA, DA China,
da Indonésia e de outros países da Indochina. Deslumbrava-se com as formas de
execução extremamente delicadas, a técnica sutil de sues frágeis instrumentos,
a música fluente e etérea daquelas práticas milenares com mínimos recursos, que
chega a hipnotizar os espectadores e cujas danas davam a todos a sensação da
própria supera da força da gravidade. “Hoje tenho a impressão de que no Ocidente
não ouve nada mais que um bárbaro ruído circense...”, comentava ele na época.
Ao frequentar o cabaré Chat Noir e conhecer Satie, iniciando
uma amizade de curaria por toda a vida, Debussy ouve a famosa frase crítica sobre
a “música com sabor de chucrute” (Wagner) e conhece suas Gymnopedies, que lhe mostram exatamente a inusitada fusão entre aquelas
sensações sonoras que obtiver ouvindo as músicas da cultura oriental e as
técnicas instrumentais do Ocidente. Passara- poucos anos até que Debussy
lançasse sua silenciosa bomba, que representou o início do século XX musicas no
ano de 1894: L’apre´s-midi d’un faune.
Ao contrário de muitos autores que, com o passar dos anos,
apresentam obras com um saldo renovador menor, a obra de Debussy se tornou, a
partir de então, uma interminável sequência de novas e ousadas ideias. Logo em
seguida vieram os Noturnos, três
peças orquestrais com coro, que, apesar do nome, nada tem a ver com a forma romântica. Aqui, tanto quanto em L’apre´s-midi d’un
faune, são quebradas as regularidades, sejam de fraseado, sejam de formações
timbrísticas (afinidades com instrumentais), sejam formais.
Durante dez anos (em decorrência de insônia, segundo ele),
Debussy trabalho no ousado projeto operístico de Pelléas et Mélisande. Wagner era o modelo, só que sem o pathos romântico. O texto deveria fluir
descontraído e musicalizado, sem interrupções para árias, Leitmotivs, balés ou abertura sinfônica. Assim, implantou-se o novo
modelo operístico para o século. Depois de enfrentar a revolução dramatúrgica
musical, Debussy enfrentaria a sinfônica, com La Mer. Rompendo com os modelos formais clássicos, que previam
estruturas básicas para o sinfônismo, com essa obra Debussy liberta o som
orquestral deixando-o fluir livremente, ao bel-prazer das ideias do autor.
Essa grande obra sinfônica lhe deu subsídios para enfrentar outra
linguagem musical, a do balé. Aqui também ele vira de ponta-cabeça os conceitos
dessa arte. Nada de maneirismos que atolava a arte da sapatilha no início do
século. Com a música de Jeux (1913),
Debussy “musicaliza o silêncio”, fazendo os personagens quase flutuarem no
palco, envolvidos por um vapor sonoro meio onírico (80% em piano e pianíssimo)
Seu projeto posterior seria a ópera “A queda da casa de Ushers” baseada no famoso romance de Edgar
Allan Poe. Um câncer no intestino, porém, o impedia de levar o projeto adiante
dedicando os últimos anos da via a algumas peças para piano.
Não compreendido em seu país, na área musical e pelas instituições
oficiassem geral. [] Debussy lutou muito para ver sua obra apresentada e
reconhecia até morrer, em 1918. Depois da Segunda Guerra, quando todos os
músicos se debruçavam sobre partitura dele, analisando-as e admirando as à
exaustão, o governo francês mandou edificar no Bois-de Boulone, próximo à
residência do compositor, um belo monumento, acrescentando no pedestal a
seguinte frase: “Claude Debussy, musiciem
français”. Ai já era tarde. A obra desse enfant terrible, já era patrimônio universal.
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