segunda-feira, 18 de junho de 2012

Todos pela educação menos “eles”


Todo e qualquer cidadão brasileiro que goze de seus direitos políticos e civis têm o dever de cumprir as leis aprovadas pelo parlamento que nos representa. A postura contrária é severamente punida na forma da Lei.

No estado democrático de direito essa norma é justa, pois sem a qual não haveria harmonia na sociedade e anarquia poderia encontrar abrigo. O cidadão delega, portanto, ao Estado o poder de reger os direitos e deveres da coletividade. É sabido que o bom exemplo deve ser dado principalmente por aqueles que, eletivamente ou não, ocupam cargos públicos ou àqueles que, de alguma forma, gerenciam a coisa pública. Sabendo-se claramente que o público pertence a todos, tais indivíduos devem ter mais cuidado e zelo com o mesmo mais que com suas próprias posses.
No nosso país infelizmente as coisas não seguem essa regra básica. Parte dos gestores púbicos bem como parte significativa da classe política tem se apropriado da coisa pública como se a eles pertencessem. Esse fato é fácil de ser constatado, baste ler ou ouvir o noticiário do dia, é escândalo por cima de escândalo. Esse mesmo grupo em épocas de eleição usa um discurso onde a palavra ética é o carro chefe. Além disso, é unanimidade se falar que a educação é imprescindível ao desenvolvimento não só desse mas de qualquer país. Pois bem. O Brasil é hoje, segundo os dados econômicos, a 6ª economia do globo terrestre e, assim sendo, conclui-se obviamente que em um universo de aproximadamente 200 nações é um país muito rico. Pergunta-se! Onde está tamanha riqueza? Não seria justo que o povo brasileiro que construiu e constrói essa riqueza dela tivesse acesso? Como ficar atrás de países considerados atrasados em relação ao nosso quando a questão é educação? Como se explica um trabalhador ganhar aproximadamente R$ 20,00 por dia de trabalho? Como explicar que um banco tenha lucro líquido anual de mais de 2 bilhões de reais e prestar um dos piores serviços? Enfim... são tantas incoerências para um país rico que poderia aqui elencar inúmeras delas, mas acho que todos já sabemos disso.
O mais triste de tudo é saber que isso tudo acontece porque a nossa classe política representa mais seus interesses particulares e de grupos econômicos a que pertencem que a população. População essa que vota muitas vezes a esmo, manipulada pela mídia que sabe muito bem fabricar candidatos e produzir imagens futuristas da realidade e/ou influenciada pelo poder econômico que corrompe facilmente os cidadãos. Independente disso, essa população merece desse País o mínimo necessário para exercer sua cidadania e ai, também sabemos de cor e salteado os direitos básicos constitucionais a que todos deveriam ter acesso. Para essa classe política a palavra cidadania só é pronunciada em época de eleição. “vote! Exerça sua cidadania”, nesse dia nem ser preso, na maioria dos casos a pessoa pode ser.
Apesar dos avanços econômicos e sociais que o Brasil tem alcançado, nosso Estado, está muito aquém do verdadeiro desenvolvimento econômico, educacional e porque não dizer, político. Isso se deve, logicamente, pelo fato de a maioria das pessoas estudarem na escola pública, infelizmente, desaparelhada em todos os aspectos. Nesse momento, alguns leitores devem dizer a si mesmo: Não concordo, pois muitos dos que passaram pelo poder e nele hoje estão, estudaram na escola pública. Eu respondo antecipadamente, faça um estudo sobre a História da educação brasileira e lá encontrarás tu, todas as respostas. Só para adiantar um pouco, houve um tempo em que a escola pública era também a escola da elite, então era de qualidade sim, só foi a elite abandoná-la e aqui estamos. Só como exemplo, trabalho numa escola Estadual que nem mesa para o professor colocar seus materiais de trabalho tem. Somando-se a isso, adota o governo uma política fincada em números, números esses que não refletem a realidade da qualidade de ensino.
Dizem que ser professor é um sacerdócio, na maioria dos casos creio que sim, contudo, mesmo um sacerdote necessita de comer, morar, vestir-se, calçar-se, divertir-se e ter acesso ao conhecimento para melhor orientar seu rebanho.
Para tanto, como se sabe é preciso dinheiro, pois sem dinheiro não se faz nada, não se vai a lugar algum. Ao invés disso, o que os mestres recebem é desprezo e humilhação por parte do poder público, seja do governador quando não cumpre a Lei, seja do Assembleia quando não vota as matérias que irão dar o mínimo de valorização à categoria, seja do judiciário quando o desembargador entende e determina que é ilegal o que é, de fato, legal. Portanto, os três poderes unos na mesma propositura, nem os deputados ditos de “oposição” se manifestam com altivez a favor da classe, pois que é ano eleitoral e os “acordos” políticos ainda não se fecharam. Para “acabar com o terço”, parte da mídia, principalmente um dos maiores sistemas de comunicação do Estado, claramente tenta colocar a sociedade contra o movimento. Enfim... nós, os mestres temos contra nossa causa legal uma série de barreiras, muito embora todos digam que a educação é essencial, mas como é essencial se àquele que tem a responsabilidade de ensinar e guiar o aluno na busca do conhecimento não se dá o mínimo possível para que sinta-se digno como profissional?
Diante de tantos posicionamentos e questionamentos, não vejo como despertar em nós, professores, qualquer espécie de autoestima a manter-se essa vergonhosa proposta do governo. Ao contrário, ocorrerá um significativo aumento de nossa baixa estima, da tristeza, do desânimo e, talvez, até um pouco de vergonha de ser o que somos, por ser tratados como somos.
Se, estando com a Lei a nosso favor, não conseguirmos o seu cumprimento e, além disso, o governo conseguindo a aprovação de uma nova Lei, a qual incorpora gratificação ao vencimento, achatando ainda mais nossa remuneração, nivelando a todos, desvalorizando ainda mais os que se graduaram e pós-graduaram, ao invés de marcharmos juntos numa estrada iluminada rumo a um futuro de glória, capengaremos numa estrada escura, carente de esperança em dias melhores. Num quadro sem vida como esse, o chamado “faz de conta” encontra ainda mais abrigo e o crack mais vítimas, o trabalho infantil mais vagas, a prostituição infanto-juvenil mais espaço enfim... ao final todos seremos vítimas. Será confirmado o que está nas escrituras sagradas: o fim, o apocalipse. Mas há tempo para fazermos algo, e a saída, sem dúvida, começa pela educação e pela saúde.
Enquanto forem negligenciadas por parte do poder público que continua a privá-las do investimento necessário e previsto constitucionalmente, as perspectivas não serão animadoras. Nesse caso, é preciso que o povo, na qualidade de sociedade civil organizada manifeste-se contra esse poder público tirano, que tenta se esquivar de suas responsabilidades constitucionais e tenta jogar o povo contra os trabalhadores que também necessitam e têm suas famílias dependentes de escola e saúde públicas, até policiais que batem, prendem, e ferem os professores com balas de borracha. Assim, sendo, essa luta é de todos. Não é de “A” nem de “B”. A partir do momento que tivermos educação e saúde de qualidade, todos quererão dela se servir.
O professor, o vigia, o auxiliar administrativo, a lavadeira de roupa, o biscateiro, o zelador, o contínuo, o office boy, a lavador de carro, o pedreiro, o açougueiro, a merendeira, a copeira, o técnico e auxiliar de enfermagem, o lavrador, quitandeiro, o comerciário, o bancário, o operário da indústria, o soldado, enfim... todas as categorias que fazem parte da base da cadeia produtiva de bens e serviços, que são a maioria da população e que, mesmo ganhando pouco, muitas vezes se sacrificam para pagar uma escola particular e um plano de saúde deficiente, são as que realmente sairão da marginalidade do sistema com as mudanças reais, as mudanças promovidas pela educação, saúde e geração de emprego e renda. É a essa massa que faço parte e me dirijo para conclamá-la à luta solidária por nossos direitos, pois somente irmanados e de mãos dadas poderemos conseguir nossa verdadeira cidadania e com ela a oportunidade de eleger representantes que não sejam fora da Lei.


Profº Marson Cleiton (marsoncleiton@msn.com)msn.com)

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