quinta-feira, 21 de junho de 2012

Concertos UFRJ em clima de Rio+20


                  
Os compositores, sempre fascinados pelas belezas e mistérios da natureza, têm muito a dizer em uma época em que um número cada vez maior de pessoas se engaja na defesa do meio ambiente.

Apro­vei­tando o in­te­resse des­per­tado pela Rio+20, a Con­fe­rência das Na­ções Unidas sobre De­sen­vol­vi­mento Sus­ten­tável, que ocor­rerá de 20 a 22 de junho na ci­dade, Con­certos UFRJ des­tacam nesta se­mana di­fe­rentes formas de re­pre­sen­tação mu­sical da na­tu­reza. No pro­grama, obras de Dvorak, Res­pighi, Sme­tana e Villa-Lobos mos­tram como as flo­restas, rios, mares e ani­mais do pla­neta vêm fas­ci­nando, desde sempre, cri­a­dores das mais va­ri­adas ori­en­ta­ções e in­cli­na­ções es­té­ticas.

A Abertura “No reino da natureza”, op. 91, escrita em 1891 e estreada no ano seguinte em Praga pelo compositor checo do período romântico Antonín Dvořák (1841-1904) foi primeira obra selecionada pelo programa. Tendo sido suscitada pelas emoções de uma caminhada solitária por prados e bosques da sua amada Boêmia, é a primeira parte de uma trilogia que escreveu e inclui ainda a Abertura Carnaval, op. 92, e Othello, op. 93. A interpretação, a do regente Rafael Kubelik, à frente da Orquestra Sinfônica da Rádio Bávara.

Já o italiano Otorino Respighi (1879-1936), que além de compositor foi um  musicólogo importante, escreveu em 1927 uma suíte para pequena orquestra intitulada “Gli Uccelli” (Os Pássaros) tomando como base temas de músicos ingleses, franceses e italianos do século XVII. Após um prelúdio, Respighi desenvolve os movimentos intitulados A Pomba, baseado em melodia do francês Jacques Gallot, A galinha, inspirado em conhecido tema de Rameau, O Rouxinol, de autor anônimo inglês e O Cuco, a partir de uma toccata do também italiano Bernardo Pasquini. A gravação selecionada foi a da famosa Academia de Saint Martin in the fields, conduzida pelo seu fundador, o maestro e violinista Neville Marriner.

Como os pássaros, os rios suscitaram inúmeras criações musicais. O Reno, na Alemanha, aparece e
ZZm diversas obras de Schumann e Wagner, o Danúbio, na Áustria, dá nome a uma das mais conhecidas valsas de Strauss e para um desfile de barcos no Tâmisa, em Londres, Haendel escreveu sua famosa Música Aquática. Desta diversificada produção, Concertos UFRJ pinça o poema sinfônico "Vltava" (O Moldavia), que o compositor tcheco Bedřich Smetana escreveu em 1874 como parte do seu ciclo de seis peças intitulado "Má Vlast" (Minha Terra). Criado quando já padecia de completa surdez, o que o aproxima de mestres como Ludwig van Beethoven e Fauré, nos primeiros compassos as flautas traduzem o murmúrio dos filetes de água dos riachos que se unem para formar a cabeceira do rio que, aos poucos, se vai adensando. A partitura, de cunho descritivo, sugere o seu curso por diferentes regiões do país: surgem as caçadas nos bosques e um casamento camponês em ritmo de dança popular. O movimento inicial é retomado, mas de forma turbulenta, exprimindo corredeiras que desembocam em cachoeiras. Já perto do fim, quando da chegada do Moldavia à Praga, o tema ganha uma orquestração grandiosa, para logo a seguir, em um diminuendo encantador, os violinos solitários indicarem que ele segue seu curso até se perder no horizonte. A  Orquestra Filarmônica de Viena, sob a direção de James Levine, apresenta a obra.

A exuberante paisagem brasileira não poderia ficar de fora de em um programa dedicado à natureza. Assim, com os votos de que a Rio+20 traga avanços efetivos e a certeza de que somente um desenvolvimento sustentável poderá garantir uma saída digna para o nosso planeta e as vidas que nele habitam, Concertos UFRJ encerram a edição da semana com o poema sinfônico “Alvorada na Floresta Tropical” escrito por Heitor Villa-Lobos (1887-1959) em 1953. Afinal, ninguém melhor do que nosso maior compositor cantou de forma tão original o esplendor de nossas matas, rios e gentes. A gravação, datada de 1954, foi a da Orquestra de Louisville, tendo à frente o maestro Robert Whitney.

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