Os compositores,
sempre fascinados pelas belezas e mistérios da natureza, têm muito a dizer em
uma época em que um número cada vez maior de pessoas se engaja na defesa do
meio ambiente.
Aproveitando o interesse despertado pela Rio+20, a
Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, que
ocorrerá de 20 a 22 de junho na cidade, Concertos UFRJ destacam nesta
semana diferentes formas de representação musical da natureza. No
programa, obras de Dvorak, Respighi, Smetana e Villa-Lobos mostram como as
florestas, rios, mares e animais do planeta vêm fascinando, desde sempre,
criadores das mais variadas orientações e inclinações estéticas.
A Abertura “No reino da natureza”, op. 91, escrita em 1891 e
estreada no ano seguinte em Praga pelo compositor checo do período romântico
Antonín Dvořák (1841-1904) foi primeira obra selecionada pelo programa. Tendo
sido suscitada pelas emoções de uma caminhada solitária por prados e bosques da
sua amada Boêmia, é a primeira parte de uma trilogia que escreveu e inclui
ainda a Abertura Carnaval, op. 92, e Othello, op. 93. A interpretação, a do
regente Rafael Kubelik, à frente da Orquestra Sinfônica da Rádio Bávara.
Já o italiano Otorino Respighi (1879-1936), que além de
compositor foi um musicólogo importante,
escreveu em 1927 uma suíte para pequena orquestra intitulada “Gli Uccelli” (Os
Pássaros) tomando como base temas de músicos ingleses, franceses e italianos do
século XVII. Após um prelúdio, Respighi desenvolve os movimentos intitulados A
Pomba, baseado em melodia do francês Jacques Gallot, A galinha, inspirado em
conhecido tema de Rameau, O Rouxinol, de autor anônimo inglês e O Cuco, a
partir de uma toccata do também italiano Bernardo Pasquini. A gravação
selecionada foi a da famosa Academia de Saint Martin in the fields, conduzida
pelo seu fundador, o maestro e violinista Neville Marriner.
Como os pássaros, os rios suscitaram inúmeras criações musicais.
O Reno, na Alemanha, aparece e
ZZm diversas obras de Schumann e Wagner, o Danúbio,
na Áustria, dá nome a uma das mais conhecidas valsas de Strauss e para um
desfile de barcos no Tâmisa, em Londres, Haendel escreveu sua famosa Música
Aquática. Desta diversificada produção, Concertos UFRJ pinça o poema sinfônico
"Vltava" (O Moldavia), que o compositor tcheco Bedřich Smetana
escreveu em 1874 como parte do seu ciclo de seis peças intitulado "Má
Vlast" (Minha Terra). Criado quando já padecia de completa surdez, o que o
aproxima de mestres como Ludwig van Beethoven e Fauré, nos primeiros compassos
as flautas traduzem o murmúrio dos filetes de água dos riachos que se unem para
formar a cabeceira do rio que, aos poucos, se vai adensando. A partitura, de
cunho descritivo, sugere o seu curso por diferentes regiões do país: surgem as
caçadas nos bosques e um casamento camponês em ritmo de dança popular. O
movimento inicial é retomado, mas de forma turbulenta, exprimindo corredeiras
que desembocam em cachoeiras. Já perto do fim, quando da chegada do Moldavia à
Praga, o tema ganha uma orquestração grandiosa, para logo a seguir, em um
diminuendo encantador, os violinos solitários indicarem que ele segue seu curso
até se perder no horizonte. A Orquestra
Filarmônica de Viena, sob a direção de James Levine, apresenta a obra.
A exuberante paisagem brasileira não poderia ficar de fora
de em um programa dedicado à natureza. Assim, com os votos de que a Rio+20
traga avanços efetivos e a certeza de que somente um desenvolvimento
sustentável poderá garantir uma saída digna para o nosso planeta e as vidas que
nele habitam, Concertos UFRJ encerram a edição da semana com o poema sinfônico
“Alvorada na Floresta Tropical” escrito por Heitor Villa-Lobos (1887-1959) em
1953. Afinal, ninguém melhor do que nosso maior compositor cantou de forma tão
original o esplendor de nossas matas, rios e gentes. A gravação, datada de
1954, foi a da Orquestra de Louisville, tendo à frente o maestro Robert
Whitney.
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