segunda-feira, 11 de junho de 2012

Da Sacra à Religiosa Um breve olhar na história da música protestante.


Da Sacra à Religiosa Um breve olhar na história da música protestante.
Parte III


O nível artístico decresceu e a música da igreja ficou sob a responsabilidade de gente menos treinada. Na perspectiva iluminista, só deveria permanecer como música verdadeiramente sacra aquela que pudesse servir à "edificação", significando que essa música devia suscitar reverência em todos os congregados para o culto. O slogan desse período seria "simplicidade e dignidade nobres", para evocar sentimentos de devoção. A simplicidade seria atingida no momento em que todos pudessem ser edificados pela música e não somente aqueles que eram responsáveis por executá-la. Toda música sacra moderna do período deveria conter esse espírito ditado pelo iluminismo, ou seja, possuir um estilo popular e melodioso, como o encontrado nas óperas. Aliás, os coros das óperas de Gluck e Mozart até foram recomendados para o uso da igreja. As fugas, por exemplo, eram consideradas impróprias para a igreja: eram incompreensíveis, não despertavam o sentimento devocional.

Nem sempre, contudo, o ideal de simplicidade em relação à música sacra correspondeu à realidade, mas influenciou fortemente para que algumas práticas fossem adotadas: a cantata acabou por ser suprimida; o canto à capela foi reintroduzido; os coros cantavam corais a quatro vozes, motetos, árias e hinos acompanhados pelo órgão ou instrumentos de sopro; surgiram os conjuntos de trombones. Essa posição antibarroca ainda considerava que os textos próprios para a música na igreja deveriam primar por uma poesia altamente lírica, atendo-se às Escrituras. Possuindo textos próprios, compostos especialmente para os hinos, deveriam evitar os que fossem descritivos e homiléticos, como os das cantatas.

Já no romantismo do século XIX uma característica marcante, consiste na busca dos feitos grandiosos do passado, agora relembrados na música, na literatura, na pintura. Na música, os compositores voltaram-se para as obras de Tallis, Byrd e Palestrina (este apadrinhado pela Igreja Romana). O rei prussiano Frederico Guilherme IV, por exemplo, mandou músicos protestantes a Roma para estudar o estilo da música sacra de Palestrina. Os motetos, salmos e missas do século XVI foram vistos como protótipos da música ideal para a igreja. Esse retorno às glórias do passado fez surgir uma nova disciplina, a musicologia. Outra característica do período foi a atração por tudo o que fosse medieval. J. S. Bach foi revivido como o grande artista da arte musical barroca, graças principalmente aos esforços de Mendelssohn.

O zelo pelas raízes históricas do passado exerceu influência sobre clérigos e professores da Igreja Anglicana, os quais empreenderiam um movimento para restituir a essa igreja a herança de sua tradição litúrgica. Dentro da hinódia da era romântica, floresceu um movimento conhecido como "Hino Poético" ou "Hino Literário", cujo objetivo era fazer com que os hinos veiculassem uma linguagem rica de poesia. Isso aconteceu bem no início do século XIX e inúmeros poetas da língua inglesa quiseram prestar sua contribuição. Com esse movimento para resgatar a boa linguagem literária para os hinos, pode-se dizer que a hinódia, na Inglaterra, tendia para duas direções: para o reavivamento de suas tradições litúrgicas e para o enriquecimento dos textos usados nos hinos, de tal forma que fossem considerados obras literárias.

Foi com “O Movimento de Oxford” que surgem mudanças na hinódia protestante. O Movimento de Oxford nasceu sob a égide de alguns professores da Universidade de Oxford, os quais pertenciam a uma ala da Igreja Anglicana conhecida como Tratadista ou Apostólica. O sermão pregado por John Keble (1792-1866) em 14 de julho de 1833, publicado com o título "Apostasia Nacional", foi o evento que marcou o início do Movimento de Oxford. A ala dos Tratadistas defendia pertencerem a uma seção bastante antiga, cuja origem e autoridade provinham diretamente dos apóstolos e que representava a tradição autenticamente católica, sacerdotal e sacramental da igreja.

Essa ala baseava sua fé em duas revelações: na Bíblia e na autoridade da própria igreja, que seria independente e suprema, razão por que ressentia-se por estar subordinada às regras seculares do Estado. Havia muitas injustiças a serem combatidas, principalmente a questão da distribuição da riqueza da igreja. Um dos objetivos do movimento era restituir à Igreja Anglicana o seu caráter de igreja católica (universal, histórica e apostólica), muito anterior ao movimento da Reforma. Criam que a Bíblia devia ser interpretada de acordo com os escritos dos apóstolos e de acordo com os concílios da igreja realizados entre os séculos IV e VII d.C.

Os líderes do movimento também queriam resgatar uma teologia descompromissada com o que chamavam de "erros" de Roma e com a trivialidade e irrelevância dos reformadores, caminho denominado por John Henry Newman (1801-1890), um dos cabeças do movimento, de Via Media. Essas reformas incluíam também a renovação do clero em relação aos seus deveres e à sua espiritualidade, pois muitos não estavam levando a sério essas responsabilidades. Aliado à preocupação com a decadência material e espiritual de muitas paróquias, havia o anseio de restaurar a liturgia, com a Eucaristia sendo colocada como parte central do culto. Com isso queriam evangelizar as massas, atingindo principalmente a população pobre que sofria as conseqüências da Revolução Industrial.




(Continua)

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