No “universo da cultura, o centro está em toda parte”. Com
base nesta ideia, formulada pelo jurista Miguel Reale na década de 1970 ,
organizações públicas e privadas e movimentos culturais de São Paulo
promoverão, entre os dias 21 e 30 de agosto, a segunda edição da mostra
cultural e do seminário Estéticas das Periferias – Arte e cultura nas bordas da
Metrópole. O objetivo do evento é exibir e discutir a cultura feita nas
periferias, com foco na produção artística, sua qualidade e originalidade, e
não apenas os aspectos sociais a ela relacionados.
Pretendemos aprofundar a reflexão estética pensando a
periferia para além das fronteiras geográficas, explicitando a diversidade de
periferias, colocando-as no centro do debate. A curadoria da mostra e do
seminário é coletiva, delas participaram mais de 50 pessoas, entre artistas,
programadores e acadêmicos. A professora Heloisa Buarque de Hollanda (UFRJ)
acompanhou o grupo curatorial da mostra e o professor José Guilherme Magnani
(Núcleo de Antropologia Urbana – USP) atuou no grupo que concebeu o seminário.
Para o Seminário, a organização do evento pretende atrair
artistas, produtores, programadores culturais e gestores públicos. São 250
vagas, com inscrições gratuitas, que estarão abertas de 1º a 21 de agosto, no
site do evento. A Mostra visa a um público mais amplo com a expectativa de
atrair mais de 20 mil pessoas em todos os eventos.
Leia baixo o manifesto que inspirou o evento.
Manifesto: A periferia tão longe e tão perto
São Paulo, 21 a 30 de agosto de 2012
A Cidade de São Paulo segrega a periferia socialmente,
economicamente, esteticamente
Em São Paulo, a força da grana destrói muito mais do que
ergue coisas belas, mano Caetano.
Por mais que o povo não queira, a Cidade muitas vezes dá
razão a Criolo: “Não existe amor em SP”.
“A periferia nos une pela cor, pela dor e pelo amor”,
conclama o poeta Sergio Vaz no seu Manifesto da Antropofagia Periférica.
Apesar das 34 pontes existentes sobre os rios Tietê e
Pinheiros, os lados da cidade não se comunicam, justificando o nome da via que
corre paralela a seus leitos: Marginal.
“A vida é diferente da ponte pra cá”, diz os Racionais MC’s.
“Nóis é ponte e atravessa qualquer rio”, desafia o poeta
Marco Pezão.
A ponte é ao mesmo tempo metáfora do encontro e da
separação. A Mostra Estéticas das
Periferias quer a travessia, de lá para cá, de cá para lá, depende de onde se
está.
Buscaremos o fluxo, o encontro, o diálogo. Queremos explorar
conexões e conflitos, armas tramas urbanas. Artistas do Centro e da Periferia:
Uni-vos!
Reiteramos o manifesto oswaldiano:“A alegria é a prova dos
nove”.
Oswald pregava em seu manifesto antropofágico: “é preciso
partir de um profundo ateísmo para se chegar à ideia de Deus”. Entendemos que é
preciso um profundo sentido periférico para se chegar a uma ideia de Centro.
Sem a Periferia não existe o Centro.
Pretendemos deslocar o Centro para a Periferia e a Periferia
para o Centro. Inverter a lógica urbana desagregadora. Questionar estereótipos.
A periferia tão longe, pode estar perto. Judas perderá as botas nos bairros
nobres. Os Jardins terão uma nova trilogia: Jardim Irene, Jardim Miriam, Jardim
Ângela. Assim como as três vilas: Mariana, Olímpia e Madalena cederão lugar
para Vila Albertina, Vila Brasilândia e Vila Zilda.
Só a arte é capaz dessa subversão. ”No universo da cultura o
centro está em toda parte” ensinou o jurista Miguel Reale, frase lapidar que está
imortalizada na Praça do Relógio do Campus da USP no Butantã, do outro lado da
ponte da Cidade Universitária.
A Mostra Estéticas das Periferias revelará que o circuito
das artes da cidade de São Paulo vai muito além do que sugere os guias
culturais da grande imprensa, para os quais a cena cultural se restringe a
pouco mais de 20 dos 96 distritos da capital.
A arte estará em toda parte, principalmente na periferia,
onde o agito cultural é permanente, nas ruas, bares, galpões, praças, sacolões.
Por Antonio Eleilson Leite, coordenador de cultura da ONG
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