Maresca começou a cantar na infância, ainda que informalmente. Bem humorado, contava que aos seis anos, o pai o ensinou a cantar “La Donna É Mobile” do Rigoletto, só que com “texto pornográfico” que ele repetia a pedido dos amigos que o pai recebia para o pôquer. “Eu tinha a voz, mas não sabia o que fazer com ela” dizia, relembrando dos estudos na juventude com Marcel Klass. “Eu era um tenor que pensava ser barítono e ele me ajudou a encontrar meu caminho”
Sua estreia no Teatro Municipal de São Paulo se deu nos anos 60, na ópera Lucia di Lammermoor de Donizetti, em seguida vieram interpretações da Cavallheria Rusticana, de Mascagni, La Bohème e Madame Batterfly, de Puccini, e da Traviata de Verdi. Esses papeis foram, durante décadas, a base de seu repertório, ao qual foram acrescidos ainda os principais heróis de Carlos Gomes, como Peri, no Guarani, ou Americo, em Lo Schiavo.
Depois do sucesso inicial nos palcos brasileiros, e da Fundação da Pró-Ópera, companhia organizada por artistas como alternativa aos empresários que mandavam então a temporadas líricas brasileiras, Maresca partiu para Europa. Teve duas passagens pela Itália, em 1969 e 1971, antes de se instalar na Alemanha, onde de 1974 a 1988 cantou nos principais casas de ópera do país. A última década da carreira ele passaria no Brasil e, depois de 1977, voltaria ao palco apenas para participação especiais como La Bohémme e Pedro Malazarte de Camargo Guarnieri, encenada em 2000 no Teatro São Pedro.
Como professor, Maresca formou , ao lado da mulher, a pianista Isabel Maresca, diversas gerações de cantores líricos brasileiros. “Na minha época peguei cada maestro mambembe, por isso sei da dificuldade que reside na arte de ensinar o canto”, contava ele em 2004, quando homenageado com um concerto pelos seus 70 anos, do qual participaram cerca de 20 de seus alunos. “É muito difícil, especialmente quando recebemos alunos que vêm de outros professores com vícios” A atividade como mestre o levava sempre a defender os iniciantes, e a criticar o modo como a ópera era feita no Brasil, pedindo por maior espaço aos interpretes. Sentia em especial pela diminuição no número de produções. “Lá atrás, quando eu comecei a gente tinha 30 títulos por ano: a temporada nacional, a alemã, a francesa. E cantores da nacional que iam bem tinham a chance de cantar com as companhias de fora. Hoje, é essa miséria de três, quatro óperas.”
Perguntaram a ele, certa vez, sobre o momento certo em que um cantor deve abandonar os palcos. Sem titubear, respondeu: “Não sei sobre os outros, mas, no meu caso, coube na hora. Afinal, para que estragar tudo o que fiz” E Maresca fez muito. Registros de suas interpretações revelam não apenas a beleza de seu timbre expressivo, de cores escuras, mas também a técnica e a musicalidade. Desde sábado, seus alunos têm enchido as redes sociais com vídeos e áudios de suas apresentações em óperas como O Guarani, com destaque para um dueto ao lado da soprano Nilza de Castro Tank, regidos pelo maestro Eleazar de Carvalho. Nas lições de canto, e na admiração dos alunos, o legado de Maresca permanece intocado.
João Luiz Sampaio
O Estado de São Paulo – Caderno 2, D11 – 13, junho 2011.
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