sexta-feira, 5 de julho de 2013

O Coro de óperas, sua história e suas funções.


Quando os estudiosos da Camerata Florentina, durante uma tentativa de emular o teatro grego clássico, acabaram por criar a ópera, já a inventaram com o coro. Dafne a primeira composição do gênero, com libreto de Ottavio Rinnucini e musica de Jacopo Peri tinha em seu elenco um coro e ninfas e pastores.
Nascido, portanto, com o próprio teatro lírico, durante o carnaval de 1597, o coro de ópera, descendente direto do Khorus do teatro helênico, surgiu com a mesma função dramática do seu bisavô: comentar a ação e eventualmente interpelar os personagens. Quanto ao conjunto de instrumentos, era tão pequeno nas primeiríssimas óperas eu nem merecia se chamado de orquestra.
Mas no período barroco que se sucedeu, enquanto os empresários do teatro pago praticamente forçaram os compositores a eliminar o coro de suas óperas, para economizar o salário dos coralistas (apenas os teatro de corte mantiveram óperas com o coro) as formações instrumentais, a partir de Orfeo (1607), no qual Monteverdi utilizou uma orquestra enorme para a ocasião com 38 músicos, só fizeram crescer.
No final do século XVIII, durante o Classicismo, o coro volta a participar novamente das óperas. No século seguinte o do Romantismo, tanto o coro quanto a orquestra crescem em tamanho e importância, e é impossível criar uma ópera naquele período sem a participação ativas das duas formações.
Em muitas óperas, o grande momento da orquestra acontece antes que a cortina se abra, na execução da abertura. Quanto tem duração longa, a abertura recebe o nome de sinfonia, como acontece na 21ª Ópera de Rossini, La Gazza Ladra (1817), famosa com o rufar dos tambores com que começa. Quando é breve, a peça inicial é um prelúdio, como o que acontece em Maria Tudor (1879) onde Carlos Gomes, baseando=se em Victor Hugo, descreve alguns dos conflitos amorosos da famosa rinha Inglesa. Mas prelúdio também pode significar a cura introdução orquestral usada pelo autor para criar cor local, antes de outros atos que não o primeiro, tal como em La Traviata (1853) onde Verdi reconta a história de A Dama das Camélias de Alexandre Dumas.
Outro destaque da orquestra típico das óperas italianas dos últimos anos do século XIX é o intermezzo, peça sinfônica que, executada pouco antes do fim, serve, como na Cavalleria Rusticana, para aliviar um pouco as tensões que retornarão com violência nos finais característicos das óperas da corrente realista conhecidas por verismo, iniciada juntamente para essa ópera de Mascagnii em 1890.
Uma as missões-padrão dos coralistas em era é representar convidados de festas, como quando cantam “L’Heure s’Envole”, o coro que abre o primeiro ato de Romeu e Julieta (1867), de Gounnod, no esplêndido baile dos Capuletos, ou “D’Immenso Giubilo” entoado pelos convivas que vieram presenciar o casamento de Lucia na obra-prima de Donizetti Lucia di Lammermoor (1835). Em Tannhäuser (1845), quinta das treze óperas de Wagner, o coo d damas e cavaleiros da Turinga medieval, cantando Freudig Begrüssen wir die edle Halle, recepciona os convidados que vêm assistir ao famoso concurso no castelo de Warburg.
Um outro uso frequente para o coro é fazê-lo representar o povo comum em cenas de grande efeito, caso de Carmen (1875) de Bizet, em que a multidão de Sevilha, excitada, se reúne em uma praça para assistir ao brilhante desfile dos toureiros que se dirigem à arena em dia de corrida de touros, cantando “Les Voici!”, e também de Turandot (1926) onde o povo de uma Pequim do tempo das fábulas assiste, apavorado, à execução dos príncipes que falharam em resolver os enigmas propostos pela gélida princesa que empresta seu nome à derradeira ópera de Puccini.
Às vezes os compositores permite que as moças do coral descansem um pouco, criando cenas onde o coro é só masculino, como aquele que os guerreiros gauleses aos gritos de “Guerra!, Guerra!”, se preparam para enfrentar os invasores romanos na Norma (1831) de Bellini. Em certas obras, para criar uma atmosfera evocativa e delicada, o compositor faz o coro cantar fora de cena. É o caso de Puccini em sua Madama Butterfly (1904), onde o vigília da jovem japonesa do título, que permanece toda a noite acordada esperando pela chegada de sue marido americano, ausente há três anos, é descrita pelo coro que canta sem palavras, coma boca fechada, motivo pelo qual essa passagem é conhecida como “Coro a Bocca Chiusa”.
Algumas óperas tem uma ambientação exótica garantida por um coro numeroso, que reforça o efeito das grandes cenas de conjunto desfilando os figurinos com os quais representam grupo étnicos específicos, como os ciganos que entoam “Vedi! Le Foche Noturne Spoblie” o famoso coro dos ferreiros em Il Trovatore (1853) ou de povos de um passado remoto como os egípcios à época dos faraós e os escravos etíopes vencidos na batalha que desfilam durante o segundo ato de Aída (1871).
Ambas as óperas tem suas partituras assinadas pelo Guiseppe Verdi, a quem devemos também passagem coral mais famosa de toda a história da ópera, “Va Pensiero”, de uma beleza singela, profundo em sua simplicidade, este coro em que os escravos hebreus lamentam a invasão de sua terra natal pela Babilônia, no terceiro ato de Nabucco (1842), tornou-se desde a estreia dessa ópera, um dos mais fortes símbolos do movimento de reunificação da Itália conhecido como o Risorgimento.

Sergio Casoy
Programa de Concerto Osesp – Nov. / Dez. 2010

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