quarta-feira, 26 de março de 2014

Deutsche Grammophon.Um selo clássico se torna um selo pop



“Money Makes the World Go Round” (O dinheiro faz o mundo girar), a famosa frase do musical“Cabaret” parece nortear o futuro do mais conceituado selo de música clássica do mundo, oDeutsche Grammophon. Selo que abrigou alguns dos mais renomados artistas do século XX, como Wilhelm Furtwängler,Eugen Jochum, Wilhelm Kempff,Herbert von Karajan, Karl Böhm,Pierre Boulez, Claudio Abbado,Martha Argerich, entre dezenas de outros, já foi sinônimo de excelência. Nós brasileiros ficamos todos honrados quando um pianista conterrâneo, Roberto Szidon, assinou contrato de longo prazo com esta firma alemã. Além de artistas maravilhosos, a escolha de repertório era igualmente criativa e investigativa. Lembremos a integral para Quarteto de cordas da Segunda Escola de Viena (Schoenberg,Berg e Webern) pelo Quarteto La Salle , e gravações de obras chave do modernismo musical, como composições de Luciano Berio, Lutoslawsky, Peter Eötvös, entre muitos outros. Mas, ao que parece, as coisas estão mudando. O selo alemão caminha para uma multiplicidade de estilos que esbarra no mau gosto, e mesmo numa vulgaridade.
Nesta semana foi assinado um contrato de exclusividade que liga o renomado selo alemão ao compositor Karl Jenkis, nascido em 1944. O estilo de Jenkins é próprio de musicas escritas para comerciais de automóveis e coloco abaixo um exemplo da arte dele. Escutem o tema principal de “Adiemus Colores” , tema este que será o primeiro lançamento seu do selo alemão. Escutar tal música com o selo Deutsche Grammophon é a mesma coisa que encontrar uma série de livros de autoajuda no catálogo da Oxford University Press.

Mas pesquisando descobri outra surpresa no selo tradicionalmente clássico: quem já gravou dois CDs para o renomado selo foi Tori Amos, uma compositora que é citada como autora que aborda “sexualidade, religião e tragédia pessoal”, e que já vendeu mais de 15 milhões de cds. Nada contra Tori Amos, mas perguntaria o que levou um selo que ainda abriga o pianista Maurizio Pollini, a convidar alguém com este tipo de estilo. O número de vendas de seus dois álbuns no selo Deutsche Grammophon é a melhor explicação.
A mudança de rumo do selo alemão não aparece apenas nestes convites a artistas pops, mas na maneira claramente comercial como investe em pianistas chineses, cujo país com um bilhão de habitantes é uma garantia segura de lucros. Foi a Deutsche Grammophonque fez de Lang Lang o sucesso que ele é, e agora sem o mega star (que foi comprado por uma elevada soma pelo selo Sony), volta a investir em Yundi Li (que agora mudou o nome para apenas Yundi) e investe pesado em Yuja Wang, dois pianistas chineses com sucesso de vendas garantido. O que questiono é se isto é o suficiente para fazer deles grandes artistas? Em termos técnicos o selo conhecido pela cor amarela também deixa a desejar. Captações dos selosNaive e Bis são muito melhores do que os enfumaçados sons das gravações do selo alemão. Em resumo, apesar do seu passado glorioso, o selo Deutsche Grammophon não é mais o que já foi.

 Osvaldo Colarusso

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