“Money
Makes the World Go Round” (O dinheiro faz o mundo girar), a famosa frase do
musical“Cabaret” parece
nortear o futuro do mais conceituado selo de música clássica do mundo, oDeutsche Grammophon. Selo que
abrigou alguns dos mais renomados artistas do século XX, como Wilhelm Furtwängler,Eugen Jochum, Wilhelm Kempff,Herbert von Karajan, Karl Böhm,Pierre Boulez, Claudio Abbado,Martha Argerich, entre dezenas
de outros, já foi sinônimo de excelência. Nós brasileiros ficamos todos
honrados quando um pianista conterrâneo, Roberto Szidon, assinou
contrato de longo prazo com esta firma alemã. Além de artistas maravilhosos, a
escolha de repertório era igualmente criativa e investigativa. Lembremos a
integral para Quarteto de cordas da Segunda Escola de Viena (Schoenberg,Berg e Webern) pelo Quarteto La Salle , e gravações de obras chave do
modernismo musical, como composições de Luciano Berio, Lutoslawsky, Peter Eötvös,
entre muitos outros. Mas, ao que parece, as coisas estão mudando. O selo alemão
caminha para uma multiplicidade de estilos que esbarra no mau gosto, e mesmo
numa vulgaridade.
Nesta semana foi assinado
um contrato de exclusividade que liga o renomado selo alemão ao
compositor Karl Jenkis, nascido em 1944. O estilo de Jenkins é
próprio de musicas escritas para comerciais de automóveis e coloco abaixo um
exemplo da arte dele. Escutem o tema principal de “Adiemus Colores” , tema este que será o primeiro
lançamento seu do selo alemão. Escutar tal música com o selo Deutsche
Grammophon é a mesma coisa que encontrar uma série de livros de
autoajuda no catálogo da Oxford University Press.
Mas
pesquisando descobri outra surpresa no selo tradicionalmente clássico: quem já
gravou dois CDs para o renomado selo foi Tori Amos, uma compositora
que é citada como autora que aborda “sexualidade, religião e tragédia pessoal”,
e que já vendeu mais de 15 milhões de cds. Nada contra Tori Amos, mas
perguntaria o que levou um selo que ainda abriga o pianista Maurizio
Pollini, a convidar alguém com este tipo de estilo. O número de vendas de
seus dois álbuns no selo Deutsche Grammophon é a melhor
explicação.
A
mudança de rumo do selo alemão não aparece apenas nestes convites a artistas
pops, mas na maneira claramente comercial como investe em pianistas chineses,
cujo país com um bilhão de habitantes é uma garantia segura de lucros. Foi a Deutsche Grammophonque
fez de Lang Lang o sucesso que ele é, e agora sem o
mega star (que foi comprado por uma elevada soma pelo selo Sony), volta a
investir em Yundi Li (que agora mudou o nome para apenas Yundi) e investe
pesado em Yuja Wang, dois pianistas
chineses com sucesso de vendas garantido. O que questiono é se isto é o
suficiente para fazer deles grandes artistas? Em termos técnicos o selo
conhecido pela cor amarela também deixa a desejar. Captações dos selosNaive e Bis são muito melhores do que os
enfumaçados sons das gravações do selo alemão. Em resumo, apesar do seu passado
glorioso, o selo Deutsche Grammophon não é mais o que já foi.
Osvaldo Colarusso
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