A expressão “meio de comunicação” refere-se ao instrumento
ou à forma de conteúdo utilizados para a realização do processo comunicacional.
Entende-se por meios de comunicação de massa, o conjunto de meios de
comunicação, destinados ao grande público: o cinema, o rádio, a televisão, o
vídeo, a imprensa escrita como os jornais, revistas e outros e, a partir da
década de 1990, com destaque a internet.
Esses
meios resultaram da necessidade de comunicação rápida com um grande número de
pessoas que pertencem a todas as classes sociais e têm diferente formação
cultural. Sua origem remonta à Revolução Industrial no século XVIII, mas sua
consolidação se dá em meados do século XIX, quando a ascensão da burguesia
torna mais complexa a vida urbana. Aparece, então, nesse processo, o surgimento
de grupos de especialistas com interesses particulares, e que, de certa
maneira, impõem padrões e homogeneízam o gosto por meio da difusão de seus
produtos. Eles têm a intenção de converter em entretenimento guerras,
genocídios, greves, cerimônias religiosas, catástrofes naturais e das cidades,
obras de arte, obras de pensamento, etc. Há um “perigo” devido ao fato de que
os meios de comunicação de massa pertencem a grupos muito fechados, que detêm o
monopólio de sua exploração e, com isso, adquirem o poder de manipular a
opinião pública nos assuntos de seu interesse no campo da comunicação, da
política e outros. (ARANHA, 1997, p. 41).
Esse
“perigo” ganhou proporções gigantescas na formação dos Estados Totalitários
(por exemplo os nazi-fascistas), onde pequenos grupos partidários se
transformaram em “salvação possível” da segurança dos valores burgueses, após
as incertezas sociais e políticas de um mundo recém saído da Primeira Grande
Guerra, em 1918, e da derrocada da economia mundial após o crash da bolsa de
valores de Nova York em 1929. Chauí (2006) apresenta análises sobre a
propaganda hitlerista, principalmente sobre seus efeitos na grande massa:
[...] conferências de
intelectuais nazistas, discursos de Hitler, transmissão de paradas militares,
juvenis, infantis, femininas, entrevistas com militares do partido nazista,
transmissão de notícias diretamente das frentes de guerra, concertos e óperas
de compositores alemães autênticos foram empregados para convencer a sociedade
alemã da grandeza, da justeza e do poderio do Terceiro Reich. (CHAUÍ, 2006, p.
44).
Nesse contexto, a propaganda se tornou a arma de divulgação
das insatisfações e anseios de grupos específicos, que conseguiram
“democraticamente” se tornar os representantes das vontades populares (em maior
escala na Alemanha, Itália e Espanha), provocando a disseminação, por exemplo,
de idéias de extermínio de uma raça e da conquista de territórios considerados
“atrasados” e “inferiores”, o que resultou em novos conflitos e em uma Guerra
ainda mais violenta posteriormente.
Segundo Chauí (2006, p. 37) a palavra propaganda, significa:
[...] multiplicar uma
espécie por meio da reprodução, espalhar-se por um território, aumentar
numericamente por contágio, irradiar-se, difundir-se e, por extensão, divulgar.
A propaganda é uma difusão e uma divulgação de idéias, opiniões, valores,
informações para o maior número de pessoas no mais amplo território possível.
Quando a propaganda se alia ao comércio, fenômeno
característico da sociedade pós-industrial na fase neoliberal, ela ganha um
outro sentido:
[...] se apropria de
atitudes, opiniões e posições críticas ou radicais existentes na sociedade,
esvazia e banaliza seu conteúdo social ou político e as investe em um produto,
transformando-as em moda consumível e passageira. Feminismo, guerrilha
revolucionária, movimentos culturais de periferia, liberação sexual, direitos
humanos etc., arrancados do contexto que lhes dá sentido, são transformados em
imagens que vendem produtos. (CHAUÍ, 2006, p. 40).
Os meios de comunicação de massa são um produto dos avanços
tecnológicos e são apropriados pela “Indústria Cultural” e por isso, estão
intimamente voltados aos interesses particulares de grupos minoritários que
tendem a transformar seus valores e ideais em senso comum, logicamente em torno
da garantia do poder político e do lucro obtido com a disseminação de suas
vontades específicas.
Indústria cultural (em alemão: KulturIndustrie) é um termo
cunhado pelos filósofos e sociólogos alemães Theodor Adorno (1903-1969) e Max
Horkheimer (1895-1973), membros da Escola de Frankfurt. O termo aparece no
capítulo Kulturindustrie – Aufklärung als Massenbetrug na obra Dialektik der
Aufklärung (em português: Dialética do Esclarecimento), de 1947.
Neste capítulo os
autores analisam a produção e a função da cultura no capitalismo. Os autores
criaram o conceito de Indústria Cultural para definir a conversão da cultura em
mercadoria. O conceito não se refere aos veículos (televisão, jornais, rádio…),
mas ao uso dessas tecnologias por parte da classe dominante, para disseminação
de suas idéias conformistas e controle da população. A produção cultural e
intelectual passa a ser guiada pela possibilidade de consumo mercadológico com
a mais abrangente face capitalista.
A expressão “Indústria cultural” representa as bases do
Totalitarismo Moderno, ao promover a alienação do homem, entendida como um
processo pelo qual o indivíduo é levado a não meditar sobre si mesmo e sobre a
totalidade do meio social circundante, transformando-se com isso em mero
joguete e, afinal, em simples produto alimentador do sistema que o envolve
(COELHO, 1980, p. 28).
Essa comunicação de massa nos impõe um padrão de vida e felicidade
a ser alcançado, com objetivos e ideais muitas vezes impossíveis para todos,
mas diante da televisão, por exemplo, isso se torna possível. Assim, os
indivíduos abdicam de sua liberdade em troca do que vêem, ouvem, sentem através
dos meios de comunicação e deixam-se ser controlados. Os principais
responsáveis por esse estado de coisas são as classes sócio-econômicas
dominantes e os governos que as servem, que utilizam esses meios de comunicação
de modo a exercer seu controle sobre a sociedade.
No caso do Estado, a sutileza consiste em aumentar
propositadamente a obscuridade do discurso para que o cidadão se sinta tanto
mais informado quanto menos puder raciocinar convencido de que as decisões
políticas estão com especialistas – críveis e confiáveis – que lidam com
problemas incompreensíveis para os leigos. (CHAUÍ, 2006, p. 9).
A intenção ideológica por trás da inculcação desses valores
impostos é uma possível e preocupante visão de mundo estruturada em uma mesma
matriz de pensamento, um mesmo comportamento, hábitos e costumes semelhantes
que tendem a ser difundidos, particularmente pela TV. Há uma produção teórica
interessada e conveniente, totalmente manipulada, que visa fazer as pessoas
pensarem de tal modo, julgando que pensam ou teorizam por conta própria. Nessa
relação entre Indústria Cultural e meios de comunicação de massa percebe-se a
anulação dos valores individuais, na medida em que não há reação efetiva do
receptor, este passa a contentar-se com “dados” que saem do nada e levam a
parte alguma, e acomodar-se a esse universo vazio de significação em que se
transformam suas vidas. O indivíduo, portanto, deixa de existir, especialmente
o indivíduo pensante, e é substituído por esse “indivíduo de estatística”, por
esse indivíduo que é a massa. A informação veiculada pelos meios de comunicação
de massa segue apenas um sentido, da fonte para o receptor, sem retorno: com
isso, não há informação, mas conformação. A velocidade que acompanha a dinâmica
das informações transmitidas indica que tais meios:
São feitos de modo que sua apreensão adequada exige rapidez
de percepção, capacidade de observação e competência específica, porém impedem,
efetivamente, a atividade mental do espectador, se ele não quiser perder os
fatos que se desenrolam rapidamente a sua frente (CHAUÍ, 2006, p. 30).
A ação dos meios de comunicação em relação à Cultura é um
dos fenômenos mais característico do séc. XXI, na medida em que transforma a
arte da criação em uma marca ou uma imagem voltada para o consumo. Abordando
esse aspecto, Chauí (2006) atribui à mídia os seguintes possíveis riscos:
1) de expressivas, tornarem-se reprodutivas e repetitivas;
2) de trabalho da criação, tornarem-se eventos para consumo; 3) de
experimentação do novo, tornarem-se consagração do consagrado pela moda e
consumo; 4) de duradouras, tornarem-se parte do mercado da moda, passageiro,
efêmero, sem passado e sem futuro; 5) de formas de conhecimento que desvendam a
realidade e instituem relações com o verdadeiro, tornarem-se dissimulação,
ilusão falsificadora, publicidade e propaganda. (CHAUÍ, 2006, p. 21)
A reprodução cultural em série de obras de arte, livros de
filosofia, manuais de astronomia e física quântica, músicas clássicas, etc.,
apresenta à grande massa a sensação de uma “democratização” do acesso aos bens
culturais, mas, no entanto, há uma divisão social bastante nítida na aquisição
desses bens e uma separação muito clara entre “elite culta” (que participa do
circuito de informações “caras” e “raras”) e “massa que tem acesso restrito à
cultura” (que acessa, na verdade, informações “baratas” e “comuns”). Essa
divisão se torna clara:
(…) no caso dos
jornais e revistas, por exemplo; a qualidade do papel, a qualidade gráfica de
letras e imagens, o tipo de manchete e a matéria publicada definem o consumidor
e determinam o conteúdo daquilo a que terá acesso e o tipo de informação que
irá receber (idem, p. 29).
Esses meios de comunicação propõem, através da teoria que
veiculam, que o que vale é o circunstancial, o efêmero, o passageiro. Buscam
levar as pessoas a terem como idéias verdadeiras aquilo que nada permanece na
memória: da moda ao comprometimento político, tudo passa e tende a perder-se.
Nada deve permanecer como era: tudo deve continuamente fluir, estar em
movimento, pois só o triunfo universal do ritmo de produção mecânica garante
que nada mude, que nada surja que não possa ser enquadrado (ADORNO e
HORKHEIMER, 2007, p. 27). Tomamos como exemplo particular na História do Brasil
recente a estatística do jornal Folha de São Paulo[1] que revela o incrível
número de 82% dos brasileiros acima de dezesseis anos que não têm conhecimento
do que representou o Ato Institucional n˚ 5[2] para a História do Brasil. Como
Imaginar que no período de apenas 40 anos, grande parcela da população
brasileira tenha esquecido, ou desconheça, sua própria história?
E isso já acontece também com as gerações de jovens
europeus, que já não sabem quem foram Franco ou Mussolini! A abundância de
informações sobre o presente não lhes permite refletir sobre o passado (ECO,
2008)[3]. É lastimável para historiadores e professores de História que a
sociedade brasileira não dê importância ao conhecimento do passado. E é em
torno dessa triste realidade, de uma “alienação coletiva”, que o que se produz
como conhecimento, para se tornar conhecido ou valorizado, deva tornar-se
espetáculo, algo a ser entendido e esquecido continuamente, inclusive a relação
do homem com sua História.
Prof. André Rodrigues
BIBLIOGRAFIA
CHAUÍ, Marilena. Simulacro e poder: uma análise da mídia.
São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2006.
CODO, Vanderley. O que é Alienação? (Coleção Primeiros
Passos). São Paulo: Brasiliense, 2004.
COELHO, Teixeira. O que é Indústria cultural? (Coleção
Primeiros Passos). São Paulo: Brasiliense, 1980.
MORIN, Edgar. A cabeça bem feita: repensar a reforma,
reformar o pensamento. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999.
______. Cultura e
barbárie européias. Tradução de Daniela Cerdeira. Rio de Janeiro: Bertrand
Brasil, 2007.
______. O Método 4: habitat, vida, costumes, organização.
Trad. de Juremir Machado da Silva, 4º Ed. Porto Alegre: Sulina, 2008
______. O método 5: a humanidade da humanidade. Trad. de
Juremir Machado da Silva. Porto Alegre: Sulina, 2007.
______. Os sete saberes necessários à Educação do futuro.
São Paulo: Cortez, 2000.
______. Para sair do século XX. Tradução de Vera Azambuja
Harvey. Rio de Janeiro: Nova fronteira, 1986.
______. Para onde vai o mundo? Tradução de
Francisco Morás. Rio de Janeiro: Vozes, 2010
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