sexta-feira, 13 de abril de 2012

Crise expõe racha na Biblioteca Nacional


Confrontado com uma crise que levou o conselho editorial da "Revista de História da Biblioteca Nacional" a ameaçar renunciar em apoio ao ex-editor Luciano Figueiredo, demitido no mês passado, o presidente da Fundação Biblioteca Nacional (FBN), Galeno Amorim, decidiu "zerar a conta".
Ele pretende lançar nas próximas semanas um edital que convocará interessados em coeditar suas publicações --inclusive a "Revista de História", atualmente editada pela Sociedade de Amigos da Biblioteca Nacional (Sabin)--, definindo critérios e funções para cada parte.
Com isso, Amorim pretende resolver dois problemas de uma vez: adequar-se "às exigências recentes dos órgãos públicos de fiscalização" e encerrar a disputa entre a Sabin e o conselho editorial.

A primeira é uma sociedade privada que cuida da parte administrativa e financeira da publicação. O segundo, responsável pelo conteúdo editorial, é formado por acadêmicos como José Murilo de Carvalho (UFRJ), Lilia Moritz Schwarcz (USP) e o membro da Academia Brasileira de Letras Alberto da Costa e Silva.
Os conselheiros ameaçaram renunciar após a Sabin demitir Figueiredo "por razões administrativas internas" não especificadas, sem consultar o conselho.

Semanas antes, o então editor havia demitido o jornalista Celso de Castro Barbosa após divergências relacionadas a uma resenha escrita por ele sobre o livro "A Privataria Tucana", do jornalista Amaury Ribeiro Jr., publicada no site da revista.
Em um de seus trechos, a resenha diz que o livro joga "uma pá de cal na aura de honestidade de certos tucanos". Em outro, afirma que José Serra "é quem tem a imagem mais chamuscada, para não dizer estorricada, ao fim da 'Privataria Tucana'".

O texto gerou protestos públicos do PSDB e foi tirado do ar, mas, segundo a Sabin, nem a demissão de Castro Barbosa por Figueiredo nem a deste pela sociedade tiveram qualquer componente de pressão política.
REUNIÃO SEM ACORDO

O presidente da FBN pretende resolver o impasse entre Sabin e conselho formalizando, no edital, as funções de cada um: a sociedade gere a revista, e os conselheiros cuidam do conteúdo e da indicação do editor, sem vetos.
"Houve certamente uma crise, que está sendo resolvida. Vamos acertar entre as partes um novo termo de cooperação", disse Amorim.

Apesar de representantes da Sabin e do conselho ouvidos pela Folha terem elogiado a mediação de Amorim, o fim para a crise não será tão simples, já que a solução proposta permitiria a recondução do demitido Figueiredo ao comando editorial.
Ele [Amorim] sabe, porque eu disse com todas as letras, que a volta do senhor Luciano Figueiredo é fora de questão, e a Sabin vai levar isso até o fim", disse Jean-Louis de Lacerda Soares, presidente da sociedade.

"Quem decide sobre a contratação de um funcionário é a empresa que o paga. A Sabin pode, por razões de independência, achar que um funcionário não pode entrar no quadro", afirmou.
O conselheiro José Murilo de Carvalho diz que "foi discutido claramente na reunião que não existiria poder de veto" às escolhas do conselho.

"Uma das partes do acordo é dividir claramente as funções. Um vai ser estritamente editor, e a parte administrativa fica com outra pessoa. Agora, se a Sabin vai se negar a pagar o editor que o conselho escolher..."

MARCO AURÉLIO CANÔNICO

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